Chocou-me, uma vez mais, o chumbo do PSD a uma proposta de comemoração da data histórica do 25 de Abril, na Assembleia Legislativa da Madeira. Esta atitude constitui, na sua essência, uma despudorada forma de querer apagar o curso da História, ignorar o sacrifício de 48 longos anos de fascismo, ignorar quantos tombaram nessa luta pela liberdade, ignorar quantos ficaram anos nas masmorras, quantos foram barbaramente espancados, quantos tiveram de fugir e viver na clandestinidade. É ignorar o drama de tantas famílias, as mortes numa guerra colonial sem sentido, a pobreza e a ignorância.
E o mais curioso de tudo isto é o facto de, os mesmos que chumbam ou mandam chumbar uma proposta de comemoração, andavam de corda ao pescoço, falidos ou quase falidos e hoje, fruto do 25 de Abril, beneficiando das grande oportunidades que a Revolução trouxe, têm uma carteira bem recheada.
Esta Região não seria nada se não fosse o 25 de Abril. Não teria órgãos de governo próprio e não teria tanta gente dependente da mesa do orçamento. Eu falo assim, porque não nasci num berço de ouro, atravessei os difíceis e muitos complexos anos 50, 60 e 70, andei no mato combatendo aqueles que me identificaram como inimigo, expus-me ao perigo e sei o que representou para todos nós madeirenses e porto-santenses essa data gloriosa da nossa História recente. Não vão conseguir apagá-la porque lá diz o poeta Manuel Alegre:
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
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