Adsense

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

UM DEBATE COM PINCELADAS DE FEIRA

"Vá fazer perguntas aos seus camaradas...". Se não foram exactamente estas as palavras o sentido foi esse. Disse-as o Dr. Paulo Portas ao Engº José Sócrates no debate de ontem à noite. E repetiu-as por duas vezes. E não foi este apenas o deslize, eu diria, pouco elegante. Durante largos minutos a forma de tratamento também não foi a mais correcta: um tratava o seu adversário político por Dr. Paulo Portas e este por "o José Sócrates". Ora, a eventual crispação política não pode nem deve ser levada para um debate. Os diferentes pontos de vista e respectivos argumentos devem ser geridos sem o azedume proveniente de outros momentos, sobretudo dos debates da Assembleia da República. Não consigo entender assim o exercício do poder e sobretudo o debate político. Mas estes são aspectos marginais relativamente ao que se passou e se aqui os destaco é porque entendo que o debate político deve ser vigoroso, inteligente, argumentativo, frontal mas balizado pelo respeito mútuo.
Tratou-se de um primeiro debate sectorial e, portanto, eu diria que os motores ainda estão a aquecer. Faltam nove, julgo eu, que serão determinantes para todos os que se interessam pela condução do País. Não que eles venham a ser fulcrais na decisão final. Penso que, hoje, a esmagadora maioria dos eleitores já tem a sua opção de voto definida. Estou convicto disso, embora os debates continuem a ser importantes enquanto momento de análise. São mais importantes que o folclore das arruadas.
Concretamente, sobre o essencial do debate de ontem, ao contrário de alguns comentadores que escutei e li, eu não coloco a questão, de resto simplista, que A ganhou a B. Interessa-me o essencial e aqui notei algumas fragilidades argumentativas por parte do Engº José Sócrates (na Educação, por exemplo) tal como o Dr. Paulo Portas, do meu ponto de vista, exprimiu grandes dificuldades para libertar-se ou apagar o seu passado enquanto membro do governo. Porque não basta dizer que o que está para trás já foi julgado pelo povo no acto eleitoral de 2005. O político é o mesmo, os princípios em que assentam as convicções idem e, portanto, nada mais natural do que o adversário se agarrar a esse passado recente e questionar, então, por que razão não fez, não implementou essas políticas que agora assume como necessárias? Se o debate tivesse enveredado por aí teria sido porventura mais interessante.
Sou crítico, muito crítico, por exemplo, da equipa que gere a Educação e, por isso mesmo, entendo que numa vitória eleitoral do Engº José Sócrates, essa equipa tem de ser totalmente mudada. Da mesma forma que terão de ser corrigidos muitos aspectos relacionados com o mundo laboral. No entanto, quer no caso da Ministra da Educação quer em outros sectores que exigem correcções, tais factos não me deixam desconcentrar de uma análise mais fina e extensa à orientação global da governação e, portanto, ao seu saldo, entre o activo do que de bom foi realizado e o passivo das medidas menos eficazes. O que está em causa penso que é isso. E neste saldo tenho como dado assumido que o actual Primeiro-Ministro merece continuar a governar sobretudo quando a alternativa que se coloca é a da Drª Manuela Ferreira Leite. Se compararmos o pensamento político e as atitudes da direita, eu diria que o Dr. Paulo Portas é, inclusive, muito mais sensível e assertivo em determinadas matérias que a líder do PSD.
Os próximos debates prometem.

Sem comentários: