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sábado, 5 de setembro de 2009

MIGUEL PAES DO AMARAL: AQUELE JORNAL EXCEDIA TUDO EM TERMOS DE LIMITE DO ACEITÁVEL

Aos poucos, é minha convicção, começa a ficar mais clara a suspensão do Jornal de Sexta da TVI. Pelo que tenho escutado a decisão partiu da administração sendo de muito duvidosa consistência afirmar que houve interferência do governo nesta matéria, até porque, um partido, à beira de eleições, calcularia o risco que uma decisão daquelas provocaria no eleitorado. Aliás, a generalidade dos comentadores, inclusive, os porta-vozes partidários, começam a evidenciar um certo cuidado e arrefecimento nas declarações, quando tentam desviar o assunto para a parte histórica do processo, isto é, ao tempo em que o Engº José Sócrates, no congresso do PS, assumiu, democrática e abertamente, uma severa crítica ao Jornal de Sexta. Sublinho, no Congresso do PS, como Secretário-Geral e nunca como líder do Governo. No essencial, os comentadores procuram agora dizer que essas remotas declarações é que vieram a despoletar a recente decisão da administração.
Por outro lado, não deixam também de ser interessantes as posições do Engº Miguel Paes do Amaral ao sublinhar que o Jornal Nacional, de sexta-feira, nunca teria existido se tivesse continuado na Media Capital. O ex-presidente desta empresa entende que o "timing" do anúncio foi mau, apesar de achar que a decisão já devia ter sido tomada há mais tempo. Paes do Amaral frisou que não consegue compreender "como é que só agora é que esta decisão foi tomada», até porque entende que «aquele jornal excedia tudo o que era possível em termos de limite do aceitável (...) aquele jornal não se enquadra naquilo que a Prisa faz, do ponto de vista da informação, séria e credível, e também não se enquadra sequer naquilo que já era hoje em dia o perfil de informação da TVI", adiantou. Que me conste o Engº Paes do Amaral não faz parte dos quadros do Partido Socialista!
É evidente que a condução do processo não foi a mais correcta. No respeito pela lei a administração deveria ter comunicado a decisão ao director de informação e, se ele não a quisesse cumprir, deveria ter sido previamente substituído. Isto para mim é claro. Simplesmente porque a empresa tem uma administração e é a ela que deve competir a definição da orientação estratégica. E se a administração entendeu que aquele jornal não fazia sentido na sua estratégia empresarial nada mais natural do que proceder aos necessários reajustamentos. Aliás, quem está no VÉRTICE ESTRATÉGICO de uma empresa tem três deveres a cumprir:
  • A SUPERVISÃO DIRECTA (afectação de recursos, as remunerações e a motivação dos recursos humanos.
  • A GESTÃO DAS CONDIÇÕES DE FRONTEIRA da organização (o ambiente exterior).
  • O DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA da organização (a estratégia pode ser vista como o mediador entre a organização e o ambiente exterior).

Basta ler H. Mintzberg ou I. Chievenato para se perceber que é assim. A própria tecnoestrutura de uma organização empresarial ou a linha hierárquica de que fala Mintzberg não podem colocar em causa as decisões do vértice estratégico. Daqui se conclui que, o caso em apreço, só à administração diz respeito. Outra coisa é interferir no conteúdo editorial após a definição da estratégia empresarial, por um lado, no respeito pelo trabalho do jornalista e, por outro, para que a liberdade de expressão não seja beliscada. É a minha posição, baseada nos fundamentos da teoria das organizações empresariais e no bom senso que deve existir na relação entre empregadores e empregados. Mas respeito quem não concorde. Dirão, alguns, que é difícil a compatibilização dos interesses, mas é assim. Àquele nível as empresas não brincam, não fazem favores aos políticos, tampouco podem deixar a estratégia nas mãos de um departamento da empresa, pois o que está em causa é a satisfação dos accionistas. Tanto assim é que, apesar de todo o conflito, as acções da Media Capital subiram esta semana 34,35%, liderando os ganhos na bolsa nacional.
Mas este falso caso pode ainda ser analisado, secundariamente, do ponto de vista político. E neste quadro através das declarações do Senhor Presidente da República e do Presidente do Governo Regional da Madeira.
Começo por este último. Imagine-se, por exemplo, no Jornal da Madeira, não por critérios empresariais, porque somos todos nós que o pagamos através dos impostos, mas no plano da informação independente, se o Jornal, deixasse transparecer que o alvo a abater era o Dr. Alberto João Jardim! Imagine-se, apenas em teoria, o que não aconteceria aos responsáveis pela redacção! No dia seguinte estariam todos à porta do Instituto de Emprego. Quanto ao Doutor Cavaco Silva a sua posição não me espanta embora dele se espere distanciamento. Ora bem, vir falar de "liberdade de expressão" quando tem, na Madeira, um caso concreto de clara protecção de um partido e de um governo e, tão grave quanto isso, de distorção das regras de mercado, deixa perplexa qualquer pessoa atenta, se este é de facto o Presidente de todos os portugueses. Que eu saiba nunca assumiu uma posição sobre esta matéria. E, já agora, o que dizer da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) que decidiu abrir, imediatamente, um processo de averiguações à situação na TVI, mas que continua a olhar para o lado relativamente ao que se passa na Madeira! Por aqui fico.

1 comentário:

Rolando Almeida disse...

Caro André,
Como sabe, as pressões sobre o jornal da TVI surgiram antes deste episódio da suspensão do programa. E este era o resultado previsível. Ao que parece a decisão vem de Espanha e por lá provavelmente não deram importância ao momento político português. É uma hipótese entre algumas outras. De todo o modo não me parece que seja uma questão que mereça importância política, mas em boa verdade acaba por tê-la. Não interessa se José Sócrates está ou não implicado no caso Freeport, pois a justiça entre nós não funciona entre homens do poder.
De facto o jornal da TVI é de um mau jornalismo exagerado, mas já que há muitos anos que não dão os Marretas na TV, era sempre bom ver a Manuela Moura Guedes e o Vasco Pulido Valente. Garanto-lhe que é dos programas que mais me fez rir nos últimos tempos (o Jornal da TVI)
abraço