É óbvio que, hoje, o futebol de natureza profissional, o futebol que assenta a sua dinâmica em pressupostos puramente empresariais, não tem Pátria. O alto rendimento que o espectáculo implica joga no campo da mercadoria transaccionável. O jogador é apenas um elemento do produto desta indústria. Até aí, com algumas análises que se justificam em função da loucura em que tudo isto se transformou, por ambições desmedidas e muito comprometedoras, em função das milionárias transferências, posso, não digo aceitar mas compreender. O que já não entendo é que, com os mesmos argumentos, se passe da lógica associativa empresarial para a lógica da representação do País.
A seleção que, Sábado, jogará com a Dinamarca em partida decisiva do Mundial, contará com, julgo eu (não sei se há mais), quatro jogadores nascidos fora do País e que só a dupla ou a opção pela nacionalidade portuguesa os faz integrar a equipa nacional. Não aceito, por uma questão de princípio e que deveria ser imposto a todos os países.
Ao nível de selecções, onde o Hino Nacional é tocado e cantado, deveria existir um princípio de respeito pela verdadeira nacionalidade dos seus membros. Uma selecção, custe o que custar, deve ser o espelho da política desportiva do País e não uma máscara do país que, no plano do desporto (enquanto prática profissional) apresenta graves lacunas. Sábado, provavelmente, dos onze que entrarão em campo, em função dos jogadores que sei terem optado pela nacionalidade portuguesa, quase 30% não são portugueses de corpo inteiro.
Uma situação destas deixa-me triste por dois motivos: primeiro, porque a almejada vitória deve surgir na sequência de uma política desportiva nacional desde a escola ao topo do rendimento e, por isso, tal opção traduz a nossa própria fragilidade; segundo, o dinheiro e os respectivos interesses que se escondem (o mundial é um palco para os jogadores se exporem, daí certas opções) pode comprar muita coisa, não a Pátria a que pertencemos e da qual temos o direito de nos vermos representados ao mais alto nível no quadro das nações, por aqueles que fazendo parte do nosso povo foram eleitos como os melhores. Isso faz parte da nossa auto-estima.
Ora, se trabalhamos pouco e se nos enquadramos numa deficiente organização, então revejamos os pressupostos que impossibilitam atingirmos os patamares da excelência. O caminho parece-me ser esse e não o da facilidade que a lei possibilita.
Apenas um desabafo. Sentido.
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