Veja-se a reacção: acabar com os chumbos é facilitismo, é passar de ano sem saber; quem não sabe, chumba! Este é o único plano B para a complexidade dos problemas de desmotivação, desinteresse, indiferença e aversão à escola, reflexo de graves problemas individuais e sociais...
Na edição de ontem do DN (aqui) li um notável artigo da Dr. Júlia Caré, ex-Deputada do PS-M na Assembleia da República. O título não podia ser mais sugestivo: "O Facilitismo dos Chumbos". E é notável sobretudo porque traz elementos estudados, oferece exemplos concretos e aponta caminhos. Não é uma opinião que procura a via mais fácil, pelo contrário, dirige-se para o âmago dos problemas e apresenta uma visão aberta, esclarecida e fundamentada. Sublinha a Drª Júlia Caré: "(...) Os alunos das nossas escolas não são já maioritariamente oriundos de classes médias lusas urbanas. Os socialmente inferiores subverteram a ordem estabelecida. Foram reabilitados pelo menos ao nível do discurso político, adquiriram a sua parcela de direitos universais, introduzindo comportamentos diferentes no espaço escolar, trazendo para dentro da escola as marcas da diferença cultural do seu viver dia-a-dia".
Eis, aqui, o princípio que deveria orientar uma nova visão do problema e que muitos tentam ignorar. Porque, diz a autora do texto, "o sempre foi assim" têm na organização institucional da escola, no seu nobre desígnio quixotesco. Veja-se a reacção: acabar com os chumbos é facilitismo, é passar de ano sem saber; quem não sabe, chumba! Este é o único plano B para a complexidade dos problemas de desmotivação, desinteresse, indiferença e aversão à escola, reflexo de graves problemas individuais e sociais, a comprometer as "metas de aprendizagem" que a governante (Ministra Drª Isabel Alçada) agora pretende introduzir".
Confesso que me senti reconfortado com este artigo, depois de ler alguns textos e declarações sem um mínimo de sentido, inclusive, por parte dos governantes. Quando encetei, há muitos anos, esta luta por uma escola para os tempos de hoje, segui as palavras de um meu antigo Mestre que disse em uma aula: "como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente". O problema reside aí, na rotina, na ausência de pensamento estratégico e político sobre os temas de relevante importância como é o caso concreto da Educação. A EDUCAÇÃO está a ser discutida ao nível de quem discute um Nacional-Benfica ou um Bate Borisov-Marítimo. A EDUCAÇÃO é muito mais complexa do que o presidente do Governo dizer que o Marquinhos ou qualquer outro estão a jogar menos bem, precisa que nos dispamos de preconceitos, das vivências porque passámos há 15, 20 e 30 anos nos bancos da escola, precisa da colaboração dos investigadores, dos académicos e que todos se sentem à mesa do diálogo para (re)construir um sistema que está completamente desajustado da realidade.
Eu que sempre entendi que "AS NOVAS OPORTUNIDADES" são VELHOS PROBLEMAS POR RESOLVER, gostei de ler um exemplo, apenas mais um porque existem milhares, trazido pela Drª Júlia Caré:
"(...) um exemplo de práticas organizativas e curriculares inovadoras, vindo de Inglaterra, implementado desde Setembro de 2007 numa escola para os 11 - 16 anos, uma "comprehensive school", situada numa área com sérios problemas sociais e baixas expectativas em educação, em que 40% da população escolar manifestam necessidades especiais não especificadas, incluída na lista das "failing schools", (escolas de insucesso). Adoptou-se currículos personalizados para cada aluno, a partir das suas aprendizagens já realizadas, devidamente acreditadas, com o suporte das novas tecnologias, oportunidades de e-learning, permitindo aos alunos escolherem as horas em que aprendem melhor. O trabalho organiza-se à volta dos conteúdos, destrezas, disciplinas e competências que alunos e pais, com a ajuda de professores, acham importantes. Criar horários individuais flexíveis e organizar os alunos, conciliando idades diferenciadas com as disciplinas escolhidas, não terá sido difícil. Na base, "strong collaborative community leadership and engagement", (forte liderança e empenho comunitário colaborativo) abertura à mudança e o envolvimento dos alunos em todo o processo".
Impossível? Para alguns certamente que sim, porque é mais fácil o sistema como está. Produz insucesso, mas paciência, alguns sobreviverão para manter a aparência. Trabalhar contra o insucesso... é muito duro!
Ilustração: Google Imagens.
Eis, aqui, o princípio que deveria orientar uma nova visão do problema e que muitos tentam ignorar. Porque, diz a autora do texto, "o sempre foi assim" têm na organização institucional da escola, no seu nobre desígnio quixotesco. Veja-se a reacção: acabar com os chumbos é facilitismo, é passar de ano sem saber; quem não sabe, chumba! Este é o único plano B para a complexidade dos problemas de desmotivação, desinteresse, indiferença e aversão à escola, reflexo de graves problemas individuais e sociais, a comprometer as "metas de aprendizagem" que a governante (Ministra Drª Isabel Alçada) agora pretende introduzir".
Confesso que me senti reconfortado com este artigo, depois de ler alguns textos e declarações sem um mínimo de sentido, inclusive, por parte dos governantes. Quando encetei, há muitos anos, esta luta por uma escola para os tempos de hoje, segui as palavras de um meu antigo Mestre que disse em uma aula: "como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente". O problema reside aí, na rotina, na ausência de pensamento estratégico e político sobre os temas de relevante importância como é o caso concreto da Educação. A EDUCAÇÃO está a ser discutida ao nível de quem discute um Nacional-Benfica ou um Bate Borisov-Marítimo. A EDUCAÇÃO é muito mais complexa do que o presidente do Governo dizer que o Marquinhos ou qualquer outro estão a jogar menos bem, precisa que nos dispamos de preconceitos, das vivências porque passámos há 15, 20 e 30 anos nos bancos da escola, precisa da colaboração dos investigadores, dos académicos e que todos se sentem à mesa do diálogo para (re)construir um sistema que está completamente desajustado da realidade.
Eu que sempre entendi que "AS NOVAS OPORTUNIDADES" são VELHOS PROBLEMAS POR RESOLVER, gostei de ler um exemplo, apenas mais um porque existem milhares, trazido pela Drª Júlia Caré:
"(...) um exemplo de práticas organizativas e curriculares inovadoras, vindo de Inglaterra, implementado desde Setembro de 2007 numa escola para os 11 - 16 anos, uma "comprehensive school", situada numa área com sérios problemas sociais e baixas expectativas em educação, em que 40% da população escolar manifestam necessidades especiais não especificadas, incluída na lista das "failing schools", (escolas de insucesso). Adoptou-se currículos personalizados para cada aluno, a partir das suas aprendizagens já realizadas, devidamente acreditadas, com o suporte das novas tecnologias, oportunidades de e-learning, permitindo aos alunos escolherem as horas em que aprendem melhor. O trabalho organiza-se à volta dos conteúdos, destrezas, disciplinas e competências que alunos e pais, com a ajuda de professores, acham importantes. Criar horários individuais flexíveis e organizar os alunos, conciliando idades diferenciadas com as disciplinas escolhidas, não terá sido difícil. Na base, "strong collaborative community leadership and engagement", (forte liderança e empenho comunitário colaborativo) abertura à mudança e o envolvimento dos alunos em todo o processo".
Impossível? Para alguns certamente que sim, porque é mais fácil o sistema como está. Produz insucesso, mas paciência, alguns sobreviverão para manter a aparência. Trabalhar contra o insucesso... é muito duro!
Ilustração: Google Imagens.
4 comentários:
Parece-me que em qualquer espaço já fiz um comentário sobre este tema.
Na antiguidade as altas esferas morreram envenenadas pelas bebidas ingeridas em vasos de chumbo.
Mais recentemente a OMS
aboliu todo o uso do chumbo, inclusivamente para tapar os buracos dos dentes e, até as ferragens já não são chumbadas há longos anos. As canalizações de chumbo para transporte de água , até n velha Lisboa foi substituída. Qual a razão que não se deve abolir os chumbos aos alunos? Alguúem é obrigdo estudar? Nãopodemos bater nos professores? Os pais não devem também dar um boa tria nos Professores? Valha-nos nosssa Senhora dos Pecados. Lembro-me um célebre prof. de Matemática que dizia que o obrigatório era só até à quarta classe. Era o DR. Mateus Pestana.Possívelmente ainda o chegou a conhecer. Foi meu prof. na antiga E.I.C.Funchal. Devíamos acabar com o Ministério da Educação e criar o magisterio da Instrução para os encarregados de educação, já que os prof. não podem dar educação.
Obrigado pelo seu comentário.
Com ironia corrosiva ou não percebi o alcance da sua mensagem.
Apenas quero dizer-lhe uma coisa: sou um professor que exige rigor, disciplina, responsabilidade, qualidade e sucesso. O meu combate é contra uma escola de insucesso.
Foi mesmo ironia. Confio nas suas amavéis palavras. Como também já fui Formador profissional durante aluns anos, o meu sentido é o da responsabilidade , da tolrância , da educação e do aproveitamento do ensino. Só assim se consegue uma sociedade responsável. Um abraço amigo. João
Obrigado pelo seu comentário.
Quero corrigir a minha anterior mensagem. Quis dizer: "com ironia corrosiva percebi..."
É bom sentir que não estamos sós na defesa de alguns pontos de vista. Há mais pessoas empenhadas, atentas e preocupados com o rumo do insucesso. E o Meu Caro é um deles.
Obrigado e um abraço.
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