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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NO MUNDO DA HIPOCRISIA



O jogo da HIPOCRISIA irrita-me, porque nunca se sabe com quem estamos a falar, o que nos leva a esse pernicioso sentimento de alguma desconfiança. O jogo do debate não é totalmente aberto, franco, leal, assumido como a melhor forma de garantia dos interesses colectivos.


Anda muita máscara
à solta.
A HIPOCRISIA
tomou conta dos políticos.
 
Há uma palavra, entre outras, que mexe comigo: a HIPOCRISIA. Alfred de Vigny escreveu que "a vida é demasiado curta para que desperdicemos uma parte preciosa a fingirmos". É o que mais anda por aí. No exercício da política, então, é demais. A HIPOCRISIA tomou conta das pessoas. Falar claro não é propriamente coisa que se note à vista desarmada. Há muito jogo escondido, muita ausência de verdade, muita subserviência, muitos calculismos, muitas trincheiras e muitos olhos colocados nos interesses próprios que não os desta terra que gostamos.
O Parlamento, por exemplo, é a prova acabada disso. Na esteira de Shakespeare, "há rostos enganadores que ocultam o que o falso coração sabe". O jogo da HIPOCRISIA irrita-me, porque nunca se sabe com quem estamos a falar, o que nos leva a esse pernicioso sentimento de alguma desconfiança. O jogo do debate não é totalmente aberto, franco, leal, assumido como a melhor forma de garantia dos interesses colectivos. Aquele metro quadrado que é quanto deve medir o espaço da cadeira e mesa que o deputado ocupa na Assembleia é disputado na base da NÃO VERDADE, da HIPOCRISIA susceptível de garantir a sua manutenção ou assalto. É a hipocrisia do discurso, a hipocrisia do que se diz e, depois, em particular, se reclama o contrário, essa hipocrisia de se dizer o que não se sente, é a hipocrisia de guardar a sete chaves o conhecimento, é a hipocrisia do chumbo, é a hipocrisia de badalar em todos os espaços de comunicação as palavras que enganam. É a HIPOCRISIA de chutar para bem longe os problemas que são daqui e aqui têm de ser resolvidos no quadro da Autonomia. 
Chateia-me este jogo de hipócritas que se mexem não no sentido do que melhor interessa ao Povo, mas no sentido das conveniências, do lugarzinho, muitas vezes sem a noção da sua própria incapacidade. Vivemos, por isso, um tempo complexo, de conflito, de angústia, de meias-verdades, onde se torna difícil acreditar na libertação de um povo que carrega a pobreza como se ela fosse uma fatalidade, carrega o desemprego como se para ele não existisse caminho solucionador, carrega a falência da empresa como se ela fosse determinada por Lisboa, carrega as medidas de austeridade como se a Madeira não tivesse governo próprio, carrega a mentira como se o presidente do governo fosse um homem providencial, carrega o álcool como se a vida se resolvesse com estados patologicamente inebriantes, tudo carrega, pela HIPOCRISIA dos homens (com h minúsculo), incapazes de um pingo de sentimento pelos outros. HIPOCRISIA que os leva, daqui por uns dias, rotineiramente, a desejar Bom Natal. A HIPOCRISIA está a dar cabo do exercício da política, mas ela tenderá para o seu esbatimento, "porque ninguém pode, por muito tempo, ter um rosto para si mesmo e outro para a multidão, sem no final confundir qual deles é o verdadeiro" - Nathaniel Hawthorne.
Ilustração: Google Imagens.

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