Adsense

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O POVO, MAIS CEDO QUE TARDE, DIRÁ QUEM SÃO OS "PIROSOS"

 
O Grupo Parlamentar do PS-Madeira realizou uma conferência de imprensa frente à residência oficial do presidente do governo regional. Os deputados fizeram o seu trabalho, com elegância política, denunciaram a possibilidade que está em curso de despedimento de muitas centenas de funcionários públicos. Já que o presidente não dá explicações à Assembleia, os deputados da Assembleia resolveram ir à Quinta Vigia. A resposta veio célere: a presidência do governo "não reage a dirigentes pirosos do PS-M", face a uma conferência de imprensa realizada por "dois indivíduos socialmente desacreditados". 
A ideia que fica, embora esta agressividade política seja normal, é que o presidente do governo dá indícios que anda de cabeça perdida. A um responsável político que não seja, apenas "vigia da quinta", exige-se, perante o dramatismo da situação, compostura e uma atitude de elevação. Penso que deu mais um passo em frente no sentido de, mais cedo que tarde, o povo clarificar quem são os "pirosos".

O DIA DA CRIANÇA E O SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO


Direitos da Criança, mas quais direitos, pergunto. Ou os direitos da criança terminam no cumprimento do dever de escolarização? E a Educação? E a família de suporte? Reconhecerá o secretário quantos abandonos e quanto insucesso por aí anda devido ao facto de tudo isto estar desconjuntado? Desta governação, durante 37 anos, ter sido egoísta, ter olhado para a eleição seguinte e não para a geração seguinte? Reconhecerá que a dita "obra" foi a do betão e não a do ser humano? Obviamente que não reconhece, porque as regras partidárias obrigam a uma permanente miopia ou a assobiar para o lado. Se assim não fosse não era secretário de coisa alguma. Eu sei que assim é, que existe uma grande diferença entre uma coluna óssea e uma coluna de plasticina. Eu sei, mas não tolero. E não tolero porque estou farto de tanta encenação, de secretários que todos os dias tentam vender o seu peixe (estou a me lembrar do inenarrável secretário dos recursos naturais e ambiente, que todos os dias descobre uma coisa para botar palavra), de políticos que fazem do exercício político uma máquina de projectar areia para os olhos das pessoas, não tolero esta política de trazer por casa, sem nexo e sem rumo que desgraçou uma população inteira. Não tolero, simplesmente porque sinto que estamos a deixar uma terra vazia, uma terra de emigrantes, uma terra onde as famílias e, por extensão, a esmagadora maioria das crianças terão um futuro marcado pelas dificuldades. 


O "Dia da Criança" é amanhã, dia 01 de Junho. Todavia, li que o secretário da Educação fez questão de o antecipar para hoje. E lá vai ele, porque amanhã é Sábado, de escola em escola, fazer o número político, cumprir o calendário, para o governo aparecer na comunicação social. Se, o "Dia da Criança" comemora-se a 01 de Junho, seja Sábado ou Domingo, o que não falta são iniciativas nesse dia para que o governo eventualmente se associe. Mas não é isso que, apesar de considerar muito desadequado, me motivou escrever estas linhas. É que adivinho as imagens e conteúdos da visita: salas, recreios, meninos a brincar, conversa de treta do governante com as crianças e pouco mais do que isso. O essencial ficará de fora. E o que é o essencial? Respondo: a pobreza em que muitas crianças vivem, as necessidades sentidas, o desemprego dos pais, a dispensa de professores, a pobre acção social educativa e tudo o que ela envolve, para mais, em tempo de crise, as dívidas dos estabelecimentos de educação e ensino, a reorganização da sociedade que proteja a família e que, por extensão, ponha termo à Escola a Tempo Inteiro, enfim, um enormíssimo estendal de preocupações ficarão, com toda a certeza, à porta das escolas escolhidas a dedo para a visita. Aqueles sim, entre outros, são, directa ou indirectamente, os grandes interesses das crianças e das suas famílias, e que deveriam constituir o motivo primeiro de uma visita (mesmo que a 31 de Maio). O secretário ficará pelo número político o que significa que esta manhã não terá nem significado nem conteúdo.
Direitos da Criança, mas quais direitos, pergunto. Ou os direitos da criança terminam no cumprimento do dever de escolarização? E a Educação? E a família de suporte? Reconhecerá o secretário quantos abandonos e quanto insucesso por aí anda devido ao facto de tudo isto estar desconjuntado? Desta governação, durante 37 anos, ter sido egoísta, ter olhado para a eleição seguinte e não para a geração seguinte? Reconhecerá que a dita "obra" foi a do betão e não a do ser humano? Obviamente que não reconhece, porque as regras partidárias obrigam a uma permanente miopia ou a assobiar para o lado. Se assim não fosse não era secretário de coisa alguma. Eu sei que assim é, que existe uma grande diferença entre uma coluna óssea e uma coluna de plasticina. Eu sei, mas não tolero. E não tolero porque estou farto de tanta encenação, de secretários que todos os dias tentam vender o seu peixe (estou a me lembrar do inenarrável secretário dos recursos naturais e ambiente, que todos os dias descobre uma coisa para botar palavra), de políticos que fazem do exercício político uma máquina de projectar areia para os olhos das pessoas, não tolero esta política de trazer por casa, sem nexo e sem rumo que desgraçou uma população inteira. Não tolero, simplesmente porque sinto que estamos a deixar uma terra vazia, uma terra de emigrantes, uma terra onde as famílias e, por extensão, a esmagadora maioria das crianças terão um futuro marcado pelas dificuldades.  
Dia da Criança! Pois, mais um dia, com um lanche reforçado na Sexta, uns passeios pela ilha, muitos cantares e ilusões, um secretário a fazer de conta que tudo está bem... e na próxima Segunda, ou até no próprio dia 1, Sábado, tudo regressará à normal anormalidade, imposta por gente de aparências que não se preocupa com direitos universais que estão muito para além de um dia e de uma visita!
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

CIDADANIA, CONFIANÇA, COMPROMISSO EM SÍNTESE "OLHAR PELAS PESSOAS"


Paulo Cafôfo é um Senhor. Conheço-o. É um respeitado Professor. É o tipo de pessoa que irradia simpatia, pelo seu ar afável e porque tem dois ouvidos e uma só boca. Gosta de beber o conhecimento e só depois opinar e decidir. Gosta de trabalhar em equipa e não se verga a qualquer onda por interesses partidários. Tem uma profissão, não depende deste ou daquele esquema!  E isto é importante numa altura de significativa descredibilização da política e dos políticos. Talvez por isso mesmo granjeou a simpatia de seis partidos da oposição madeirense,  da direita à esquerda política. Só razões que a história deste processo autárquico um dia dará a conhecer, não fez o pleno entre os oito partidos da oposição. Ficaram de fora o PCP e o CDS/PP. As opções são legítimas, todavia, num quadro de 37 anos de domínio absoluto do PSD, exigir-se-ia uma melhor ponderação desses dois partidos. Ficaram de fora, paciência, ponto final, para a frente é o caminho.


Ainda é muito cedo, pois a procissão ainda anda pelo adro, mas estou a gostar da campanha do Dr. Paulo Cafôfo, o candidato da "Mudança" no Funchal. Sereno, assertivo, propositivo e muito seguro, as suas posições têm vindo a ser marcadas pela sensatez do discurso. Gosto do slogan "Olhar pelas Pessoas", porque, indiscutivelmente, milhares estão a passar muito mal e porque são elas, no seu todo, que fazem a cidade. Cidadania, Confiança, Compromisso são outras três palavras com muita força: cidadania, porque o Funchal (e toda a Região, claro) precisa, com urgência, de uma dose cavalar de reposição de direitos e deveres na relação das pessoas com a sociedade onde vive; confiança, porque todos nós necessitamos de alguém de princípios e de valores que reponha o exercício da política nos carris da seriedade, da honestidade e do desenvolvimento; compromisso, porque palavra dada terá de ser palavra cumprida, coisa que há muito anda arredada dos políticos. De resto, Paulo Cafôfo é um Senhor. Conheço-o. É um respeitado Professor. É o tipo de pessoa que irradia simpatia, pelo seu ar afável e porque tem dois ouvidos e uma só boca. Gosta de beber o conhecimento e só depois opinar e decidir. Gosta de trabalhar em equipa e não se verga a qualquer onda por interesses partidários. Tem uma profissão, não depende deste ou daquele esquema! E isto é importante numa altura de significativa descredibilização da política e dos políticos. Talvez por isso mesmo granjeou a simpatia de seis partidos da oposição madeirense, da direita à esquerda política. Só razões que a história deste processo autárquico um dia dará a conhecer, não fez o pleno entre os oito partidos da oposição. Ficaram de fora o PCP e o CDS/PP. As opções destes partidos são legítimas, todavia, num quadro de 37 anos de domínio absoluto do PSD, exigir-se-ia uma melhor ponderação desses dois partidos. Ficaram de fora, paciência, ponto final, para a frente é o caminho.
Na luta pela vitória estão, assim, três candidatos: Paulo Cafôfo (Coligação), Bruno Pereira (PSD) e José Manuel Rodrigues (CDS).  Estes dois últimos, embora os respeite, do meu ponto de vista, são os candidatos que exprimem a velha musiquinha de vira o disco e toca o mesmo. Bruno Pereira, representa Alberto João Jardim, tem a sua bênção, e daí que questione se os madeirenses quererão mais do mesmo? Isto é, uma Câmara ao serviço dos interesses da actual maioria política, vergada ao "chefe" da Quinta Vigia. Votar neste candidato corresponde à tentativa de manutenção de uma estrutura caduca e de um pensamento político caduco. Simplesmente porque causas iguais determinam as mesmas consequências. E, das duas uma, ou o eleitorado quer manter uma "guerra" que não lhe diz respeito, refiro-me às desinteligências internas do PSD-M e a onda de vingança às designadas "facadas nas costas", ou aposta numa candidatura que não integra esse filme de terror. Por outro lado, a candidatura de José Manuel Rodrigues em todo este processo tem a configuração de uma bengalinha do PSD. Não é preciso ser muito inteligente para perceber que o CDS não tem quaisquer hipóteses de ganhar a Câmara, mesmo com alguns descontentes do PSD a deslizarem o voto para o CDS. Daqui se infere que a possibilidade, se ela chegar a existir, é a da repetição, no Funchal, do que se passa ao governo da República. Coligar-se-ão, sem pestanejar, repartindo o poder e mantendo o mesmo prato servido há 37 anos aos funchalenses. Aliás, o CDS não assume, claramente, um NÃO ao PSD. A estratégia, leio eu nas entrelinhas do discurso político, é tentar esquecer o que se passa na República, mostrar por aqui alguma diferença e, depois, logo se verá. Em função do resultado das eleições, na busca de uma maioria absoluta, entre o PSD e a Coligação, estou em crer que o CDS dará a mão ao PSD. Porque "gato escaldado, de água fria tem medo", defendo eu, melhor será a opção por uma candidatura de "cidadania, confiança e compromisso". 
Os dados estão lançados, para já, pelo andar da carruagem, por aquilo que os candidatos dizem e pelo que me apercebo dos encontros que vou tendo, parece-me que Paulo Cafôfo está em vantagem. A ver vamos.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

EM 2012: UM EM CADA CINCO SOFREU DOENÇA PSIQUIÁTRICA


Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

O meu velho e estimado Amigo Dr. José Sacadura acaba de enviar-me um importante artigo de opinião assinado pelo Médico psiquiatra Pedro Afonso. O artigo foi publicado no Jornal PÚBLICO. Vale a pena ler.

"Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente."

"DEVEM TUDO A JARDIM"


Mas ao contrário do que a deputada Ana Serralha disse, aquele desaguisado entre deputados não é um "um assunto meramente pessoal". É um assunto de regime, de funcionamento da estrutura democrática, de subserviência, de interesses, de alguns queijos que podem estar a ser abocanhados e tudo isto é grave, muito grave, porque o poder político, em circunstância alguma, deve servir para ajudar seja lá quem for. A frase política "devem tudo a Jardim" pode indiciar esquemas de favor e de protecção que, em abstracto, são absolutamente condenáveis. Aliás, a deputada ao dizer aquela frase deveria ser mais concreta, especificando o que devem e porque devem. Aprendi, há muitos anos, o complemento directo: quem deve, deve alguma coisa: deve o quê? Pois bem, nesse documento a remeter ao Tribunal, deveria explicar o que é que esses dois colegas de partido devem a Jardim, por que devem e em que circunstâncias ficaram devedores. A transparência deve estar acima de tudo, para que, politicamente, não subsistam equívocos. 

As tetas do poder!

A deputada Ana Serralha (PSD) assumiu: "Devem tudo a Jardim". Referia-se, depreendi, ao desaguisado entre os deputados Miguel de Sousa e Jaime Ramos e que foi parar à Justiça. Só que aquela frase tem muito que se lhe diga. Pode constituir uma análise pessoal e pode, também, ser sermão de encomenda. Seja como for, aquela declaração  exprime, antes de mais, um sentimento de paizinho que distribui a riqueza e que garante, se se portarem bem, a multiplicação dos pães, por isso mesmo, a quem devem total obediência; exprime que devem estar calados no interior da "máfia boazinha" porque, eventualmente, a tal multiplicação dos pães pode ter tido, em muitas circunstâncias, um empurrãozinho do paizinho a quem tanto devem. Trata-se, portanto, de uma frase que entala o próprio Jardim e que só a História, que um dia terá de ser feita, dará a conhecer os nós e as verdadeiras dependências. Por enquanto, conjectura-se, através dos factos mais ou menos conhecidos. 
"Devem tudo a Jardim" trouxe-me à memória um diálogo que tive, em Casablanca, com um motorista, numa visita por lugares da História e da cultura local. Ele, visivelmente pobre, menos bem vestido e calçado, mas com a fotografia do então rei colada ao pára-brisas (cerca de um quarto da população marroquina, o que significa 8,5 milhões de pessoas, está em risco de pobreza extrema). Puxei pelos seus pensamentos, pela sua, pressupus, triste vida, pelas dificuldades e, a páginas tantas, quando o questionei sobre aquela fotografia do rei, espalhada, também, por todas as instituições públicas de Marrocos, disse-me: "devo-lhe tudo. Eu gosto do rei". Isto é, pobre, quase andrajoso, sem dinheiro para viver com dignidade, na sua opinião, o pouco que tinha ficava a se dever à bondade do rei! Fiquei esclarecido. E esclarecida deve estar a senhora deputada Ana Serralha, embora num outro patamar de riqueza, pois também tudo deve a Jardim, pensará. O barco da governação afunda, há gente que já não diz coisa com coisa, a estrutura despedaça-se, mas devem tudo ao "comandante". Se estão no barco ou no salva-vidas, não sei, a Jardim devem essa bênção de estarem no sítio certo, na hora certa e com a opção certa. Princípios, valores, análise aos erros, ter uma função crítica e livre, alto e párem o baile, porque a obediência tem de estar em primeiríssimo lugar. Isolando o contexto, a deputada, repito, também deve "tudo o que é a Alberto João Jardim". Por extensão, enquanto gestora do lar de idosos do Porto Moniz, deve-o a Jardim. Não há sua competência e dedicação. E os idosos que lá estão, obviamente que têm uma dívida de gratidão a Jardim! Ao ponto a que isto chegou!
O "pastor" pode ser um desastre,
mas todos no rebanho é que é bom!
Regresso ao desaguisado. Ao contrário do que a deputada disse, as alegadas ofensas não são um "um assunto meramente pessoal". É um assunto de regime, de funcionamento da estrutura democrática, de subserviência, de interesses, de alguns queijos que podem estar a ser abocanhados e tudo isto é grave, muito grave, porque o poder político, em circunstância alguma, deve servir para ajudar seja lá quem for. A frase política "devem tudo a Jardim" pode indiciar esquemas de favor e de protecção que, em abstracto, são absolutamente condenáveis. Aliás, a deputada ao dizer aquela frase deveria ser mais concreta, especificando o que devem e porque devem. Aprendi, há muitos anos, o complemento directo: quem deve, deve alguma coisa: deve o quê? Pois bem, nesse documento a remeter ao Tribunal, deverá explicitar o que é que esses dois colegas de partido devem a Jardim, por que devem e em que circunstâncias ficaram devedores. A transparência deve estar acima de tudo, para que, politicamente, não subsistam equívocos. E mais: quando é assumido que os deputados desavindos "(...) deviam pensar mais no que podem dar à Madeira do que naquilo que a Madeira lhes pode dar", parece-me de dedução óbvia que há muito por esclarecer, se o poder tem sido uma máquina ao serviço de interesses particulares, se a riqueza de uns e de outros fica a dever-se a Jardim ou se, politicamente, a Madeira pouco conta relativamente à conta bancária dos protagonistas. Tudo isto deveria ser esclarecido, simplesmente porque o povo da Região não deve nada a Jardim, vive do seu trabalho (os que trabalham) e não faz sentido querer inculcar nesta gente a mentalidade do condutor de autocarros com o qual me cruzei em Casablanca.
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 28 de maio de 2013

A SUJA UTILIZAÇÃO DOS MEIOS PÚBLICOS


Um nojo. Tenho dificuldade em entender este continuado desplante, sem que ninguém ponha cobro a isto, como se tudo fosse possível a quem, numa democracia a sério e respeitada, pudesse, impunemente, fazer o que lhe dá na real gana. E o povo junta-se, ouve e alguns aplaudem. Correcto seria voltar-lhes as costas em sinal de um absoluto não à indevida utilização dos dinheiros públicos. Mas ali ficam, não sei se para ouvir o actor da tragédia ou porque existe uma grande falta de cidadania e de conhecimento sobre o que nas suas costas armadilham. Há ali qualquer coisa de masoquista, do tipo "bate-me forte que eu gosto!" A verdade é que esta gentinha da politiquice barata salta para cima do palco, como se tudo isto fosse "nosso", como se não devessem respeito a ninguém, como se a Democracia não tivesse regras claras no seu próprio funcionamento. Repito, um nojo. 

E se se preocupasse com a Economia
e com o desastre do desemprego? 
No meio de tanta tristeza e de tanta falta de dinheiro, as festas, desde a cebola à castanha, passando pelo limão, mesmo que os tempos sejam azedos, podem servir de algum escape aos problemas. Não resolvem nada, mas distraem, ao mesmo tempo que os agricultores sempre vão escoando o produto do seu trabalho. O que me transtorna é esta pouca-vergonha de utilizar estes momentos para a mais suja utilização de meios públicos para campanha do partido. Já não basta o Jornal da Madeira alimentado com mais de três milhões anuais de apoios a fundo perdido, o povo ainda paga, à borla, de forma descarada, os comícios destes senhores. Paga o palco, o sistema de som e tudo o que envolve a organização, para sua excelência subir ao palco, pegar no microfone, vomitar ódio e atacar, sem contraponto, toda a oposição regional. Mais, ainda, em tempo de pré-campanha eleitoral autárquica, anunciar o "seu" candidato e os porquês da "sua" escolha. Um nojo. Tenho dificuldade em entender este continuado desplante, sem que ninguém ponha cobro a isto, como se tudo fosse possível a quem, numa democracia a sério e respeitada, pudesse, impunemente, fazer o que lhe dá na real gana. E o povo junta-se, ouve e alguns aplaudem. Correcto seria voltar-lhes as costas em sinal de um absoluto não à indevida utilização dos dinheiros públicos. Mas ali ficam, não sei se para ouvir o actor da tragédia ou porque existe uma grande falta de cidadania e de conhecimento sobre o que nas suas costas armadilham. Há ali qualquer coisa de masoquista, do tipo "bate-me forte que eu gosto!" A verdade é que esta gentinha da politiquice barata salta para cima do palco, como se tudo isto fosse "nosso", como se não devessem respeito a ninguém, como se a Democracia não tivesse regras claras no seu próprio funcionamento. Repito, um nojo. E se aplico esta palavra é porque ela reflecte, inclusive, o pensamento de algumas pessoas afectas ao partido da maioria. Ainda há dias cruzei-me com uma que me disse, abertamente, "um nojo" (...) "comigo, acabou". 
E ele fala da Constituição, e fala dos direitos, e fala da Autonomia, e fala das pessoas, e fala aos jornalistas com um ar altivo, e fala, e fala e fala. Fala para jogar os problemas para outros, para Lisboa, porque essa coisa que se chama GOVERNAR, decididamente, não é com ele. Com ele é escrever uns artigos, mandar umas bojardas em cima de um qualquer palco, reclamar mais dinheiro e massacrar, politicamente, quem nunca aqui foi governo. No meio desta treta, desta caricatura da democracia, pergunto, onde andará o Representante da República, já que o Presidente, enfim, anda encafuado em Belém. 
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

NA CORRIDA À CÂMARA MUNICIPAL DO FUNCHAL - A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

UM PRESIDENTE GROTESCO E CARICATO!


"Palhaço". Tal como o jornalista e escritor já o admitiu, pode ter sido excessivo. Há outras formas de dizer exactamente o mesmo e Miguel Sousa Tavares tem dito através da notável capacidade que tem. Mas se aquela caracterização se verificou é porque resulta de milhares, talvez milhões, que não se revêem nas atitudes do Presidente da República. Digamos que se colocou a jeito, muito a jeito, face a tantas "palhaçadas" políticas. Basta percorrer a comunicação social em geral, os blogues, as redes sociais, ter presente o que dizem os comentadores e figuras com altas responsabilidades e logo nos aperceberemos que há uma onda de total descrédito relativamente ao Doutor Cavaco Silva. Interpreto, assim, a caracterização de "palhaço" pelas cenas ridículas e burlescas que temos vindo a assistir. É presidente, mas parece que não é, evoca Nossa Senhora de Fátima como inspiradora das relações de Portugal com a "troika" e, perante um povo completamente encostado à parede, discute o pós-troika ao invés dos grandes dossiês da governação. Se isto não é politicamente grotesco e caricato, digam-me lá o que é! É que já vamos em 7 anos de palhaçadas políticas!


Deixei, intencionalmente, passar uns dias para melhor reflectir. Decidi dar a minha opinião. Com a devida ressalva pela nobreza artística da figura de palhaço, mas em um outro sentido da palavra, admito que Miguel Sousa Tavares tenha sido excessivo. Admito! É evidente que ele não falou da figura institucional "Chefe de Estado", tampouco da figura institucional "Presidente da República", caracterizou, apenas, o cidadão Cavaco Silva que desempenha aquela função. Penso que teria sido mais grave ter dito, por exemplo, que o "nosso Chefe Estado é um palhaço", no sentido mais vulgar da palavra. Mas, enfim, tal como o jornalista e escritor já o admitiu, pode ter sido excessivo. Há outras formas de dizer exactamente o mesmo e Miguel Sousa Tavares tem dito através da notável capacidade que tem. Mas se aquela caracterização se deu é porque resulta de milhares, talvez milhões, que não se revêem nas atitudes do cidadão Cavaco Silva. Digamos que se colocou a jeito, muito a jeito, face a tantas "palhaçadas" políticas. Basta percorrer a comunicação social em geral, os blogues, as redes sociais, ter presente o que dizem os comentadores e figuras com altas responsabilidades e logo nos aperceberemos que há uma onda de total descrédito relativamente ao Doutor Cavaco Silva. Ainda ontem o movimento "que se lixe a troika" distribuiu, dizem, 40.000 cartões vermelhos para serem exibidos ao Presidente da República, no Jamor, no momento da entrega da Taça de Portugal. Interpreto, assim, a caracterização de "palhaço" pelas cenas ridículas e burlescas que temos vindo a assistir. É presidente, mas parece que não é, evoca Nossa Senhora de Fátima como inspiradora das relações de Portugal com a "troika" e, perante um povo completamente encostado à parede, discute o pós-troika ao invés dos grandes dossiês da governação. Se isto não é politicamente grotesco e caricato, digam-me lá o que é! É que já vamos em 7 anos de palhaçadas políticas!

Vendo pelo mesmo preço que comprei: ontem, caiu-me na caixa de correio electrónico um alegado comunicado da "Associação Portuguesa de Palhaços". Sugestivo! Pouco me interessa a sua origem, se é verdadeiro ou falso, porque o que ele demonstra é o sentimento que por aí anda. Basta ler para perceber  esse sentimento que atravessa a sociedade portuguesa. O Professor Cavaco Silva foi o pior, repito, o pior Presidente da República pós 25 de Abril. Lamento dizer, mas é uma figura política que arrepia, que não gera empatia, que se mostra incapaz de tomar posições no quadro das suas responsabilidades políticas, que mostra uma falsa independência e distanciamento político, quando a prática dita uma absurda colagem ao governo apenas por questões ideológicas. É que não é uma ou outra pessoa a dizer o que eu aqui assumo, são milhares senão milhões, repito, a dizerem o mesmo, que se sentem desprotegidos, sem alguém que seja o fiel da balança nesta pouca-vergonha que se passa em Portugal. O problema é que temos de o aturar (teremos?) até 2016. O drama está aí, por um lado, um governo que afunda Portugal, por outro, um Presidente que não esboça uma tentativa de ajudar a criar futuro. Se um diz mata o outro manda esfolar. É isso que sinto. Quando o vejo acompanhado pela Drª Maria Cavaco sinto um calafrio para não dizer outra coisa. Nada do ponto de vista pessoal, obviamente, mas no que ao exercício da política diz respeito. E aqui vamos.
Ao contrário de olhar para o seu comportamento e para o que se está a passar na sociedade, ao contrário de manter-se discreto, desvalorizando as palavras de Miguel Sousa Tavares, furioso, pediu à Procuradoria Geral da República que verificasse a existência ou não da prática de um crime de ofensa à honra do Presidente da República. Será pior, estou certo, porque se os seus níveis de popularidade andam muito negativos, doravante, os silêncios transformar-se-ão em câmaras de eco. Mas o curioso é que ele se mantém discreto, em prolongado silêncio, sobre os BPN's das nossas vidas, os atropelos à vida dos cidadãos em geral condenando-os à pobreza, o ensurdecedor silêncio (do senhor Silva) sobre o exercício da política na Região Autónoma da Madeira, enfim, tantas e tantas situações face às quais não sentimos a existência daquele que deveria ser o mais "Alto Magistrado da Nação". 
Finalmente, uma pequena nota sobre as consequências: um Acórdão do Tribunal da Relação do de Porto 2007 diz que a "A expressão "és um palhaço", ainda que proferida para manifestar desconsideração, não é ofensiva da honra ou consideração do visado." Mais adiante refere: A palavra palhaço é, como muitas ou, quiçá, como todas as palavras, polissémica. Quando a usamos podemo-nos estar a referir ao comediante cuja intenção é divertir o público através de comportamento e maneirismos ridículos, mas também poderemos querer desconsiderar a pessoa visada com ela. Mas nestes casos, de pluralidade de sentidos, não temos que acolher o significado atribuído pelo visado só porque este se considerou ofendido (...)".
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 26 de maio de 2013

CRIME


A política do bico calado, do falar grosso nos adros e nos palcos, do insulto e da ofensa sectorialmente dirigida, produziu dois efeitos: primeiro, criar uma ideia de força numa personalidade frágil; segundo, gerar múltiplos medos e o aprisionamento de personalidades de mérito que não se atrevem aos porquês. Questionam em casa e no círculo reduzido dos amigos mais chegados. Porque estão em causa muitas coisas, o lugar, a família, a empresa, enfim, os benefícios da obediência! 


À medida que o tempo passa, de braço dado com a austeridade, cresce a impotência. Não a do presidente do governo regional da Madeira, mas a do povo que se sente preso na armadilha montada, nesse profundo e estreito alçapão, limitador de movimentos libertadores. A política ardilosamente montada constituiu o maior crime político após Abril de 1974. Educaram para a subordinação, não educaram para a liberdade e para o conhecimento. Através de uma espiral de fora para dentro foram apertando, subjugando e colocando o povo de joelhos e de mão estendida; não partiram do ser humano, enquanto centro, para desenvolver políticas libertadoras através de uma espiral para fora. Intencionalmente o fizeram. Se o presidente se sente impotente, o povo sente-se, hoje, castrado!
A política do bico calado, do falar grosso nos adros e nos palcos, do insulto e da ofensa sectorialmente dirigida, produziu dois efeitos: primeiro, criar uma ideia de força numa personalidade frágil; segundo, gerar múltiplos medos e o aprisionamento de personalidades de mérito que não se atrevem aos porquês. Questionam em casa e no círculo reduzido dos amigos mais chegados. Porque estão em causa muitas coisas, o lugar, a família, a empresa, enfim, os benefícios da obediência! 
Entre outras, as expressões “único importante” e “povo superior” conjugaram-se nesse sentido, de mostrar um poder que não tem e colar o pensamento político a uma colossal mentira. A história foi, assim, montada e gizada para o alegre embrutecimento democrático através de uma política de ilusão. Isto é crime, não do ponto de vista jurídico, mas um crime político porque limitador do futuro e do desenvolvimento. Tão grave como a dívida pública e o processo “cuba livre” é a dívida da educação, a dívida social e a cultural, porque estas marcarão a Região por muitos e maus anos!
NOTA:
Opinião, da minha autoria, publicada na edição de hoje do DN-Madeira.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 25 de maio de 2013

DISCORDO DE CORREIA DE CAMPOS


A questão agora é a de saber até que ponto o PCP e o BE, no quadro das suas anteriores posições políticas, são capazes de concertar esforços no sentido de um entendimento sobre aquilo que me parece essencial: que não podemos rasgar documentos assumidos, mas podemos exigir a renegociação de tais documentos. Isto é, não são os de fora que vão ditar, unilateralmente, as regras do jogo, ao jeito de come e cala-te, mas com adultez política, as partes interessadas negociarem aquilo que é do próprio interesse das partes. A dúvida reside aí. Neste pressuposto, não me parece correcto, embora tenham direito à opinião, que um ou outro por aí apareça a tentar fazer a cama onde o CDS possa vir a deitar-se. Sabe-se o que tem sido a direita no poder, o que tem sido o CDS/PP que, há muito, faz um jogo de estar e não estar comprometido com as políticas, um CDS mestre a surfar as ondas e que se tem mostrado incapaz de dizer basta. É cúmplice no quadro a que chegámos. Politicamente, porque a História ensinou-me, tenho dificuldade em aceitar um partido que renega a sua identidade ideológica porque é sempre melhor ser poder do que oposição! 



Em declarações ao jornal i, o ex-ministro da Saúde socialista, Dr. Correia de Campos, considerou ser necessária uma aliança nas próximas eleições – partindo do princípio de que o PS será o vencedor do sufrágio – e que esta só pode ser alcançada com o CDS porque, explica, "as relações com o CDS são fáceis e podem indiciar a possibilidade de haver uma coligação". 
Ora, nem tudo o que é fácil é bom para o país, por isso, discordo, totalmente. Caso o povo não dê ao PS uma maioria absoluta, um governo de coligação, do meu ponto de vista, só pode integrar o PS, o BE e o PCP. Portugal (e a Europa) precisa de um governo de esquerda, um governo de princípios e de valores sociais, capaz de duas coisas: primeiro, internamente, corrigir todos os erros de percurso, sobretudo os dos últimos anos, que assente as suas políticas, entre outras, no crescimento económico, na intransigente defesa do que a Constituição determina como direitos (educação, saúde, segurança social), que aposte na reconfiguração do malfadado código de trabalho e, genericamente, na reorganização de toda a sociedade; em segundo lugar, seja capaz de mostrar perante a Europa que os portugueses não são capacho dos interesses seja lá de quem for. As dívidas são para serem pagas até ao último cêntimo, todavia, num ritmo e com juros adequados à realidade da situação social para a qual essa treta da troika nos arrastou através de uma incompreensível austeridade. Com a direita política, sabe-se que tal não é possível.
A questão agora é a de saber até que ponto o PCP e o BE, no quadro das suas anteriores posições políticas, são capazes de concertar esforços no sentido de um entendimento sobre aquilo que me parece essencial: que não podemos rasgar documentos assumidos, mas podemos exigir a renegociação de tais documentos. Isto é, não são os de fora que vão ditar, unilateralmente, as regras do jogo, ao jeito de come e cala-te, mas com adultez política, as partes interessadas negociarem aquilo que é do próprio interesse das partes. A dúvida reside aí. Neste pressuposto, não me parece correcto, embora tenham direito à opinião, que um ou outro por aí apareça a tentar fazer a cama onde o CDS possa vir a deitar-se. Sabe-se o que tem sido a direita no poder, o que tem sido o CDS/PP que, há muito, faz um jogo de estar e não estar comprometido com as políticas, um CDS mestre a surfar as ondas e que se tem mostrado incapaz de dizer basta. É cúmplice no quadro a que chegámos. Politicamente, porque a história ensinou-me, tenho dificuldade em aceitar um partido que renega a sua identidade ideológica, porque é sempre melhor ser poder do que oposição!  
A posição do Deputado Europeu Dr. Correia de Campos (PS) causou-me uma certa azia. Essa posição conjuga-se com a do Dr. Bagão Félix (CDS) que, há dias, na SIC, falou da grande proximidade entre socialistas e democratas-cristãos na construção inicial desta comunitária Europa. Pode ter sido por acaso, mas as vozes começam a saltar e a gerar opinião. Da minha parte, embora seja uma hipótese muito remota, fica já decidida a minha posição: absoluto não a uma coligação entre o PS e o CDS/PP. Chega. Ponto final.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A NECESSÁRIA REVISÃO DO PAEF

OS SINAIS DO ESTOIRO


Mas enquanto o naufrágio total não se dá, ei-los, teimosamente, na continuação da sua cega política, tudo chumbando e tudo negando, como se toda a porcaria amontoada pudesse ser varrida para debaixo dos enormes tapetes que a Assembleia tem no seu inventário. Dir-se-á que, ou são cegos, de facto, ou este é o estertor do regime, convencidos que se aguentam no trapézio. Tenham atenção, porque a rede já foi retirada e que mais cedo que tarde o estatelanço provocará um estoiro e, provavelmente, muita gentinha, por iniciativa própria, viajará para outras paragens. Aqui ficarão os peões, os "tontos úteis", os que ajudaram na festa, os que compuseram o tabuleiro dos interesses, mas que não passam disso mesmo, de peões. Quando olharem em redor não haverá delfim que ajude, simplesmente porque não haverá delfim! Tudo tem um fim e este regime de um só homem está a terminar. Parecem baratas tontas ou aquelas formigas quando se dá um bombada de insecticida no meio do carreiro. Dispersam-se, fogem, tentam defender-se, embora estonteadas.

Vazio... como demonstra esta mesa e cadeiras.
Muita água, sim, muita água!

Continuam a chumbar tudo. Naquela Assembleia impera a lei da selva, embora os leões cada vez mais velhos, cansados e incapazes, agora, na maioria, até se comem uns aos outros. A coisa está feia com ameaças de perda de mandato, casos em tribunal, deputados arrolados como testemunhas a tentarem saltar do barco que afunda, o presidente da Câmara do Funchal a dizer que  AJJ não tem mão no partido, deputados que se negam visitar a Ribeira Brava porque um autarca disse o óbvio, que "ser autarca não tem nada a ver com ser deputado", que "basta ver as responsabilidades que recaem em cima de um e outro. Basta ver a carga de trabalho de ambos. Basta ver as férias que um e outro usufruem. Basta ver a imunidade que o deputado tem e quase a forma pidesca como o autarca é visto". Declarações que subscrevo, porque, certamente, Ismael Fernandes estava a se referir à bancada do seu PSD. Ele certamente sabe que naquela bancada poucos trabalham e se assim não é, pergunto, quantos diplomas apresentaram como fruto das reuniões e dos estudos? Quantos? Comparado com o trabalho de vários deputados da oposição, a bancada do PSD fica a léguas! Sei do que falo (peço desculpa por enunciar uma vivência pessoal) porque, entre outros, trabalhei dez meses no projecto sobre o Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, documento extenso e complexo e que obrigou a uma preocupação constante no cruzamento de múltiplas variáveis, e que foi chumbado em cerca de vinte e cinco minutos. A maçada que tiveram foi levantar o rabinho da cadeira para votar contra! E esta gente ficou  zangada com a posição do autarca.
Mas enquanto o naufrágio total não se dá, ei-los, teimosamente, na continuação da sua cega política, tudo chumbando e tudo negando, como se toda a porcaria amontoada pudesse ser varrida para debaixo dos enormes tapetes que a Assembleia tem no seu inventário. Dir-se-á que, ou são cegos, de facto, ou este é o estertor do regime, convencidos que se aguentam no trapézio. Tenham atenção, porque a rede já foi retirada e que mais cedo que tarde o estatelanço provocará um estoiro e, provavelmente, muita gentinha, por iniciativa própria, viajará para outras paragens. Aqui ficarão os peões, os "tontos úteis", os que ajudaram na festa, os que compuseram o tabuleiro dos interesses, mas que não passam disso mesmo, de peões. Quando olharem em redor não haverá delfim que ajude, simplesmente porque não haverá delfim! Tudo tem um fim e este regime de um só homem está a terminar. Parecem baratas tontas ou aquelas formigas quando se dá um bombada de insecticida a meio do carreiro. Dispersam-se, fogem, tentam defender-se, embora estonteadas.
Mas o chumbo às diversas propostas não traz nada de novo numa Assembleia absolutamente previsível. Ali trabalha-se para produzir chumbo, ou melhor, naquela desprestigiante Assembleia dir-se-á que nunca encerra a época de caça, já que há chumbo todo ano em cima de tudo quanto por ali apareça. Chegam ao ponto, um ponto imbecil, sublinho, de apadrinharem a não entrada dos deputados da oposição numa qualquer escola. Ouvi o deputado Emanuel Gomes, de Machico, dizer que não, que isso perturbava e que iam para ali pregar a sua doutrina! Que tristeza de político que nega uma das suas próprias atribuições enquanto deputado, a de ir, contactar, ver, questionar, saber e documentar-se para poder formar uma opinião! E depois ficam zangados com o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Brava por assumir que trabalham pouco em relação a um autarca. Emanuel Gomes que é professor, que deve saber que a visita seja lá de quem for a uma escola não perturba rigorosamente nada o seu funcionamento. Obviamente que não querem é que se saiba a realidade, as dívidas aos fornecedores, o papo-seco sem queijo nem fiambre, o yogurt que não chegou, o desespero dos professores, a burocracia, os problemas disciplinares, a fome, enfim, tudo o que hoje torna a escola um lugar de grande preocupação para quem a dirige. É isto que não querem deixar ver e saber, pelo que bloqueiam ao jeito de uma qualquer ditadura. Tenha vergonha, ou melhor, tenham vergonha.
Continuem a brincar enquanto existe "guerra", porque quando a paz chegar será muito difícil aceitarem o lugar de oposição.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

"O QUE TEMOS DE FAZER"


Não deixa de ser curioso como é que este homem fala de Autonomia quando foi ele mesmo que a devolveu a Lisboa, consequência da sua megalomania política, das obras desastrosas e desajustadas e da condenável atitude de não ter as contas públicas transparentes (veja-se o processo "cuba livre"). A Autonomia está suspensa, foi entregue de bandeja e levará muitos anos para que seja totalmente devolvida e acrescentada. E como é que ele fala de Autonomia se mantém inalterado o Estatuto Político-Administrativo, depois da revisão constitucional de 2004, que veio garantir novos poderes à Região? Falou, ainda, de liberdades e direitos. Pois bem, desde sempre, que tem ele vindo a fazer? Que liberdade se "respira" na Região? Quantos foram imolados no altar dos seus interesses políticos por terem opinião diferente? E quantos tiveram de sair da Região? E quantos foram silenciados pelas atitudes que classificou de "raffiné"? E como se processou o "assalto político" a quase todas as instituições associativas, no quadro do seu controlo político? E quantos lóbis foram alimentados em prejuízo de tantos que trabalham e vivem apenas do seu esforço? E mais: que liberdade pode ter um Homem sem trabalho e com fome? Uma vez mais, em uma só palavra: paleio.



Escreveu o "único importante", em artigo de opinião: "o que temos de fazer". Dou a resposta: pô-lo a andar! É a única forma de acabar com o pesadelo desta massacrante figura política e abrir espaço para um novo tempo. Ele escreve: "(...) eles não dão prioridade à luta pela Autonomia Política, pelas liberdades e direitos do povo madeirense contra um colonialismo de Lisboa, impróprio de uma Europa democrática e de um regime político português que se afirma democrático. Tudo isto confirma que os nossos adversários não têm qualquer projecto alternativo para o futuro da Madeira, o qual nos faça sair deste abismo em que a Europa e a República Portuguesa lançaram o povo madeirense e nos faça assumir um regime de Autonomia Política com a dimensão que o povo madeirense necessita (...)". Em uma só palavra: paleio. Tal como é paleio, como há dias reclamou, uma maior autonomia para a Região. É a velha e gasta estratégia de chutar para longe as suas fragilidades e de culpabilizar os outros pela dramática situação que o povo madeirense atravessa. Vou por partes.
Não deixa de ser curioso como é que este homem fala de Autonomia quando foi ele mesmo que a devolveu a Lisboa, consequência da sua megalomania política, das obras desastrosas e desajustadas e da condenável atitude de não ter as contas públicas transparentes (veja-se o processo "cuba livre"). A Autonomia está suspensa, foi entregue de bandeja e levará muitos anos para que seja totalmente devolvida e acrescentada. E como é que ele fala de Autonomia se mantém inalterado o Estatuto Político-Administrativo, depois da revisão constitucional de 2004, que veio garantir novos poderes à Região? Falou, ainda, de liberdades e direitos. Pois bem, desde sempre, que tem ele vindo a fazer? Que liberdade se "respira" na Região? Quantos foram imolados no altar dos seus interesses políticos por terem opinião diferente? E quantos tiveram de sair da Região? E quantos foram silenciados pelas atitudes que classificou de "raffiné"? E como se processou o "assalto político" a quase todas as instituições associativas, no quadro do seu controlo político? E quantos lóbis foram alimentados em prejuízo de tantos que trabalham e vivem apenas do seu esforço? E mais: que liberdade pode ter um Homem sem trabalho e com fome? Uma vez mais, em uma só palavra: paleio. 
E fala de projecto alternativo para o futuro da Madeira. Mas qual projecto? Será o projecto que se confina, apenas, em ter mais dinheiro para continuar a esbanjá-lo em obras descontextualizadas e sem qualquer adequação às reais necessidades de uma Região pobre, assimétrica e dependente? Mais dinheiro para derramar, de forma populista, por um associativismo desprovido de sentido? Mais dinheiro para enterrar num Jornal da Madeira enquanto factor de propaganda, de lavagem ao cérebro e pólo de manutenção do poder? 
Finalmente, ao contrário do que assumiu, os adversários desta política têm uma alternativa. E essa baseia-se em pressupostos que coloca o madeirense no centro das várias políticas, nunca os afilhados do regime. A alternativa coloca-se no patamar do respeito pelos empresários, pela criação de emprego, pela transparência das contas públicas, pelo reforço do direito à escola e à saúde públicas, pela defesa ambiental, pela negociação a todos os níveis, de forma séria e honesta, pela não agressividade às pessoas, pelo respeito pelos órgãos de governo próprio e prestígio das restantes instituições. Neste pressuposto, a alternativa existe. Ela deixa de existir quando o discurso tem muito de "moinhos de vento", quando se situa, apenas, na cantilena da revisão constitucional e quando não ataca os problemas reais, antes se situa no campo da ilusão.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

NUNO CRATO - A INCAPACIDADE DE COLOCAR-SE NO LUGAR DOS PROFESSORES


Estes sujeitinhos não dormem. Todos os dias surge um novo agravamento, sempre mais qualquer coisinha, isto é, com uma colher que rapa o tacho onde pouco já existe. Deitam-se a pensar na maldade do dia seguinte. Demonstram ausência de capacidade política para colocar o país a funcionar com perspectivas de sucesso, apenas dominam o que está mais à mão: a política de agravamento de impostos e a atitude de confisco aos rendimentos do trabalho, pensões, aposentações e corte nos direitos, em geral, e sociais, em particular. Com toda a sinceridade já não os enxergo. 


Pois, pois... o gesto diz tudo,
é rapar o dinheirinho até ao tutano!

Já era conhecida a decisão, e outras vêm a caminho ao ritmo da contínua vergasta sobre os portugueses, a partir de Agosto os aposentados vão descontar mais para o subsistema ADSE. Trata-se da segunda subida significativa no espaço de ano e meio para pensionistas que recebem pouco acima de 485 euros. Passa de 1,5% para 2,25% de contribuição e, em 2014, novo agravamento se verificará ao passar para 2,5%. Qual metáfora, trata-se de mais uma voltinha na chave de fendas para um parafuso que já não tem para apertar.
E se nos aposentados será assim, o que dizer de tudo o resto? Por exemplo, nos 30.000 funcionários públicos que serão despachados e nos milhares de professores que, a partir de Setembro, serão encaminhados para o regime de mobilidade especial, com cortes situados entre 33% a 53%, segundo cálculos da Fenprof? E vem o ministro Nuno Crato considerar "estranha" a posição de todos os sindicatos à anunciada greve dos docentes para o primeiro dia de exames nacionais. Ele que se coloque na posição de um professor no topo da carreira, portanto, a caminho dos 30 anos de serviço, confrontado com o tecto máximo de 1.455,00 euros para quem cair na mobilidade especial, com um corte será de 52,9%! Ele que se coloque na posição de ver os rendimentos do trabalho abruptamente reduzidos até ao despedimento e que pense como reagiria? Ele que nasceu em Lisboa e com família na capital, imagine-se numa situação de horário zero, face a uma decisão arbitrária do ministério da Educação, ser colocado em Bragança ou em Faro e sem estar sujeito a qualquer concurso! Por favor, desampare a loja. E se falo deste caso específico, o da Educação, é porque dela depende o nosso futuro colectivo. Com medidas destas, é minha convicção que cada vez mais nos distanciamos da tal "luz ao fundo do túnel".  Olho, com os meus olhos políticos, para este sujeito e fico com náuseas. E pergunto, então, se não fosse ministro e apenas professor de uma qualquer escola, se não reagiria através de uma greve?
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA COMPORTA-SE COMO UM INIMIGO DE PORTUGAL E DOS PORTUGUESES


Aquele despropositado Conselho de Estado assemelhou-se a um jogo de futebol, onde nada se decide e que apenas serve para cumprir o calendário. O comunicado dele saído denuncia isso mesmo. Se juntarmos as declarações anteriores de vários conselheiros bem como de outras figuras de referência nacional, pode concluir-se que se tratou de um desperdício de tempo. O essencial e prioritário não foi debatido, as questões que colocam em causa a vida de todos os portugueses continuarão por aí em rédea solta sem que ninguém contextualize e com firmeza aponte um caminho. O Presidente da República, uma vez mais, demonstrou fraqueza e calculista submissão a interesses ideológicos. Se nunca o foi, agora, está cada vez mais distante de ser o presidente de todos os portugueses.



Ora, num momento de sérios constrangimentos para empresários e trabalhadores, num momento de absoluta falta de confiança, num momento em que está demonstrado o total descrédito das políticas de austeridade, de empobrecimento e de continuada espiral recessiva, o comunicado do Presidente enuncia que no "quadro da criação de uma união bancária, o Conselho analisou a instituição dos mecanismos de supervisão, de resolução de crises e de garantia de depósitos dos bancos, um passo da maior importância para corrigir a actual fragmentação dos mercados financeiros da Zona Euro" (...) o "reforço da coordenação das políticas económicas" e a "criação de um instrumento financeiro de solidariedade destinado a apoiar as reformas estruturais dos Estados-membros", tendo sido defendidos mecanismos para fomentar a saída da crise económica com reformas que ajudem ao crescimento e ao emprego" (...) e que no quadro do "programa de aprofundamento da União Económica e Monetária deve criar condições para que a União Europeia e os Estados-membros enfrentem, com êxito, o flagelo do desemprego que os atinge e reconquistem a confiança dos cidadãos, devendo ser assegurado um adequado equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à actividade económica".
Ora, trata-se de um texto genérico, distante da realidade nacional e que poderia ter sido elaborado no âmbito de uma qualquer conferência europeia. Para um comunicado daqueles não seriam necessárias seis ou sete horas de reunião. É claro que o Presidente conhece os problemas nacionais, sabe onde está a doer, mas comporta-se como uma figura política manhosa e ardilosa, simplesmente porque não consegue libertar-se das suas convicções partidárias. A sua doutrina esmaga e cega, impedindo-o de uma postura de distanciamento e actuação em função dos interesses nacionais. Este Presidente comporta-se como um inimigo de Portugal e dos portugueses. Os conturbados tempos que vivemos exigem respostas adequadas e firmeza na actuação, exigem transparência nas atitudes de todos os órgãos de soberania, em circunstância alguma reuniões improdutivas, descontextualizadas e sem valor real para a vida dos portugueses. Ele ainda não percebeu que a maioria dos portugueses não o suporta.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

JÁ NÃO É SÓ O GOVERNO QUE DEVE IR EMBORA... O PRESIDENTE TAMBÉM.


Ainda hoje li a síntese de um estudo que dá conta que os portugueses vão precisar de trabalhar este ano mais de cinco meses, até ao dia 04 de Junho, para pagar impostos e só daí em diante o salário se torna verdadeiro rendimento líquido. Paga, por um lado, e retiram-lhe direitos sociais, por outro. Paga, trabalha mais horas e agora, como se não bastassem todas as agressões anteriores, aos funcionários públicos, querem penalizá-los com 4% nos salários de 2014, ao mesmo tempo que manifestam interesse em reduzir 10% nas aposentações anteriores a 2005. Perante isto, o Presidente dá-se por satisfeito com o rumo do País, entende que assim está bem, que não há fome, que o País "ai aguenta, aguenta..." e, no extremo, Nossa Senhora de Fátima resolverá esta situação que pertence ao domínio dos comportamentos dos homens e mulheres que por aqui andam. Ele brincou e brinca, abusivamente, com o domínio da transcendência e da fé apenas para mascarar uma complexa situação que só poderá ser resolvida com atitudes políticas sérias, honestas e que fazem apelo à inteligência e à negociação. 


Este Presidente da República banalizou a importância do Conselho de Estado. Do essencial das suas competências ressaltam a audição sobre a dissolução das Assembleias da República e das Regiões Autónomas, sobre a demissão do governo, sobre a declaração de guerra e feitura da paz, sobre determinados actos do Presidente da República interino e aconselhamento do Presidente da República no exercício das suas funções, quando este lho solicitar. Estes são os pontos fundamentais que justificam a convocação do Conselho de Estado. Ora, num momento de gravíssimas dificuldades, de um governo a duas e mais vozes, de um claro descalabro da dívida em percentagem do PIB, de acelerado crescimento do  desemprego e de persistente recessão, o Presidente convoca o Conselho para uma inexplicável abordagem sobre o futuro do pós-troika. Ou é declaradamente incompetente, ou tem uma agenda própria, ou está ao serviço de outros interesses ideológicos ou está a fazer do povo uns parvalhões que não sabem o que se está a passar. Ou, então, reflecte um mix de tudo isto, envolvido com o celofane da importância do fim da sétima avaliação da troika, enquanto "inspiração" de Nossa Senhora de Fátima, a 13 de Maio. Uma mensagem que me chegou dizia que "nem o Almirante Américo Tomáz foi tão longe"! Bastaria que colocasse como ponto único da agenda de trabalhos: "análise à situação política" e isso poderia envolver as questões mais pertinentes que hoje se colocam ao povo. Pelo contrário, solicita uma audição e aconselhamento para um pós-troika, que bem longe vem, quando tudo leva a crer que este governo, extremamente corroído por dentro, pode cair mais mês menos mês. É o sentimento que existe junto do povo, mas é também esse o sentimento que cresce junto de comentadores e jornalistas. Poucos, muito poucos, acreditam nesta receita austera que está a devorar os portugueses.
Ainda hoje li a síntese de um estudo que dá conta que os portugueses vão precisar de trabalhar este ano mais de cinco meses, até ao dia 04 de Junho, para pagar impostos e só daí em diante o salário se torna verdadeiro rendimento líquido. Paga, por um lado, e retiram-lhe direitos sociais, por outro. Paga, trabalha mais horas e agora, como se não bastassem todas as agressões anteriores, aos funcionários públicos, querem penalizá-los com 4% nos salários de 2014, ao mesmo tempo que manifestam interesse em reduzir 10% nas aposentações anteriores a 2005. Perante isto, o Presidente dá-se por satisfeito com o rumo do País, entende que assim está bem, que não há fome, que o País "ai aguenta, aguenta..." e, no extremo, Nossa Senhora de Fátima resolverá esta situação que pertence ao domínio dos comportamentos dos homens e mulheres que por aqui andam. Ele brincou e brinca, abusivamente, com o domínio da transcendência e da fé apenas para mascarar uma complexa situação que só poderá ser resolvida com atitudes políticas sérias, honestas e que fazem apelo à inteligência e à negociação. 
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 19 de maio de 2013

"FAZ AQUILO QUE RECEIAS E A MORTE DO MEDO SERÁ CERTA"


Fernando Savater, Filósofo espanhol, em "Carta a la Ministra", porque há um "perverso propósito de convertir a los neófitos  em dóciles e adocenados robots al servicio de la omnipotencia castradora del poder establecido". Savater, mais adiante, fala da democracia que "consiste en institucionazar la libertad de las personas en su relación com el poder colectivo de la comunidad de la que forman parte. Es decir reconocerles voz, voto, capacidad de debate público y de decisión en el establecimento de leyes, autoridades y orientación del rumbo comunitario". En una palavra, convertir al individuo autónomo en último referente de la legitimidad del proceder colectivo: que la sociedad cobre sentido por medio de la vontad de las personas y no que las personas obtengan su sentido del servicio que prestan a una vontade común, de la que son portavoces irrevocables unos pocos predistinados en autoproclamada comunicación directa con el destino del pueblo, la verdade científica de la economia ou las raíces ancestrales de la tribu" (...) " Bien está. Pero libertad política que estamos reclamando (...) una reclamación incessante, inacabable (...)". Estamos, infelizmente, distantes desta forma de entendimento da democracia e, por esta e outras razões, o medo espreita a cada esquina.



Ontem participei num debate sobre as questões sociais. Nesse espaço de reflexão escutei uma intervenção do Padre José Luís Rodrigues. Segui as suas palavras com muita atenção. É um cidadão encantador pela forma como transmite a Palavra, porque é feliz naquilo que faz, porque é democrata e, portanto, uma pessoa livre que não se põe com rodriguinhos para analisar e enfrentar as situações. Não esconde nem se esconde. Sinto que respeita e gosta de ser respeitado. É o seu limite. Ontem, de forma sumária e incisiva, entre outros aspectos, equacionou a questão do medo. Isso levou-me a regressar a um seu artigo, publicado em Julho de 2011, onde sublinhou: o Autor Ralph Waldo Elerson, filósofo e poeta, disse: "faz aquilo que receias e a morte do medo será certa". A sociedade madeirense precisa de enveredar por este caminho, enfrentar o medo passa por aqui, permitir que aquilo que receia avance e venha, mesmo que nos façam crer que seremos dominados pelos piores diabos (...)". Nem mais.
Da sua intervenção resulta uma preocupação que acompanho: não existisse medo, subserviência política e auto-censura nesta sociedade e, certamente, teríamos um quadro social completamente diferente daquele que, infelizmente, nos confrontamos. A participação seria outra e os processos seriam outros. Mas muitos e muitos agacham-se, não tocam nas feridas por medo, e pior, ainda, escondem-nas ou passam por elas como gato sobre brasas. Isto acontece-se ao mesmo tempo que, na escola, como li em Fernando Savater, Filósofo espanhol, em "Carta a la Ministra", porque há um "perverso propósito de convertir a los neófitos  em dóciles e adocenados robots al servicio de la omnipotencia castradora del poder establecido". Savater, mais adiante, fala da democracia que "consiste en institucionazar la libertad de las personas en su relación com el poder colectivo de la comunidad de la que forman parte. Es decir reconocerles voz, voto, capacidad de debate público y de decisión en el establecimento de leyes, autoridades y orientación del rumbo comunitario. En una palavra, convertir al individuo autónomo en último referente de la legitimidad del proceder colectivo: que la sociedad cobre sentido por medio de la vontad de las personas y no que las personas e nom que las personas obtengan su sentido del servicio que prestan a una vontade común, de la que son portavoces irrevocables unos pocos predistinados en autoproclamada comunicación directa con el destino del pueblo, la verdade científica de la economia ou las raíces ancestrales de la tribu" (...) " Bien está. Pero libertad política que estamos reclamando (...) una reclamación incessante, inacabable (...)". Ora, estamos, infelizmente, distantes desta forma de entendimento da democracia e, por esta e outras razões, o medo espreita a cada esquina.
Em Abril passado escrevi um texto sobre esta matéria que aqui reproduzo o essencial: (...) É muito complexo o que se está a passar. Há uns anos, apesar dos constrangimentos que uma maioria política instituía através das suas atitudes, constatava-se a existência de muitos homens e mulheres livres de pensamento. Tinham coragem de afrontar, de dizerem o que pensavam, de militarem nos partidos políticos da oposição, capazes de dizerem bem alto "não vou por aí". Lembro-me de tantos(as) que constituíam a primeira linha de uma cidadania activa, para quem se olhava e reconhecia coragem, competência e formação política. Transpiravam liberdade. Hoje, não, os constrangimentos deram lugar ao medo e ao pânico. 
Sentem-se acorrentados, o receio do despedimento fá-los recuar, os quadros intermédios e superiores da Administração Pública se estavam condicionados, hoje, estão condicionados e apavorados. Há um silêncio ensurdecedor pelo receio de perderem o lugar na avalancha dos despedimentos que se aproxima. Falo com empresários e trabalhadores e o mesmo constato, o medo. Mas ao mesmo tempo que assistem à tragédia, a esta doentia forma de governar, incapaz de sair do labirinto onde se meteu, sinto também espelhada a revolta, o desejo de romper com esta gente de pensamento menor.
Intencionalmente geraram as condições para a existência do medo. Medo do futuro, medo de não poderem pagar os seus compromissos, medo de não poderem educar os filhos? E quando isto acontece emerge um outro medo: o da afirmação pessoal, o medo de dizer que discorda, o medo de assumir um papel político-social e, por extensão, o medo da mudança. Há medo, sem margem para qualquer dúvida, mesmo entre os que fazem parte do poder. Já há quem olhe em redor para ver quem está por perto. São sinais de uma sociedade doente e com medo. 
O Padre José Luís Rodrigues tocou, exactamente, no ponto onde dói. Quando formos capazes de sacudir o constrangimento do medo, quando a sociedade se libertar deste sufocante espartilho, estou certo que do debate emergirão as soluções capazes de enfrentar as questões sociais (e todas as outras, claro) com outra dimensão no quadro de adequadas soluções. 
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 18 de maio de 2013

ELES NÃO SABEM NADA DE POBREZA


Tudo o que seja combate à pobreza mantendo o padrão da desigualdade" (Professor Bruto da Costa) não tem sentido, pois apenas mantém tranquila uma parte da consciência política. É por isso que a solução deste gravíssimo problema não está na caridade, palavra que não gosto. Respeito e muita consideração nutro pelas mais diversas instituições que combatem a pobreza, de dia e de noite, respeito o notável trabalho das paróquias que matam a fome e esbatem casos muito sérios de carências várias, mas entendo também que não é pela via da caridade que os problemas se resolvem. A caridade transporta um significado de esmola, quando o ser humano deve ser portador de dignidade e direitos que não devem ser confundidos com esmola. É, por isso, tempo de sair dos gabinetes e ir ao terreno e ver como vivem as pessoas, como anda a satisfação das necessidades consideradas básicas; é tempo de olhar para a nova configuração da pobreza resultante do estreitíssimo beco do consumo; é tempo de olhar para uma classe dita média mas em crescente e acelerado risco de pobreza; é tempo de olhar para o número crescente dos sem-abrigo; é tempo de olhar para as famílias, para a solidão, para o alcoolismo, para a toxicodependência, para as crianças e jovens em risco; é tempo de olhar para o porquê do consumo de anti-depressivos e para as consequências daí resultantes; é tempo de olhar para o número de suicídios que se verificam na Região cujo número é dramático; é tempo de cortar, drasticamente, nas despesas de capital, em obras que nada adiantam; é tempo de rever planos megalómanos e atentar naquilo que é necessário e gerador de emprego não precário; é tempo de humildade política, da autarquia do Funchal assumir as suas responsabilidades; é tempo de olhar para as centenas de crianças pobres filhas de famílias desestruturadas que andam por aí em casas de acolhimento, de olhar para as centenas que batem à porta da Igreja, na Cáritas e tantas outras instituições de solidariedade; é tempo de dizer não a novos templos e colocar o dinheiro disponível ao serviço do desenvolvimento; é tempo de acabar com a escandalosa subsidiodependência do associativismo em geral; é tempo de estabelecermos como objectivo: “pobreza zero”. 


No âmbito da candidatura do Dr. Paulo Cafôfo à presidência da Câmara Municipal do Funchal, convidaram-me para participar numa jornada de reflexão sobre as questões sociais que se colocam na Região e, particularmente, no Funchal. Do que disse, deixo aqui algumas passagens que reflectem o conjunto de preocupações que me animam:
"Há pobreza na Região porque este é um pobre Governo. E começo por vos dizer que, parecendo humor não é, a política existe, no plano das questões sociais, com um objectivo determinante: corrigir os diversos orgasmos. Todos nós somos fruto do amor e de um orgasmo. Corrigir porque ninguém tem culpa de nascer em berço pobre ou muito pobre. E o exercício da política, na essência do texto constitucional, em matéria de direitos sociais, visa essa luta por tornar mais igual, aquilo que circunstâncias várias geraram desigualdades. No fundo, a questão central pode ser colocada desta forma: se eu sou feliz na minha vida, por que motivo os outros não são? Quando eu sou um ser humano igual aos demais. Ora, colocado o problema sobre estes dois prismas, o orgasmo que, por um lado, determinou um ser pobre e, por outro, o constrangimento do direito à felicidade, temos, obviamente, aqui um campo de actuação extremamente vasto e complexo. 
Desde logo porque uma família pobre está impedida de pensar numa educação a vinte anos. Um percurso de vinte anos de educação envolve encargos que são desproporcionais às possibilidades de quem é pobre. Quem é pobre é forçado a pensar a vida ao mês, à semana e quantas vezes ao dia. Porque as prioridades são as imediatas e nunca as de longo prazo. A família pobre não pode fazer uma sementeira educativa quando sabe que os frutos da árvore da vida, se houver frutos, estão a cinco, seis, sete mil dias de distância. Daí o abandono e o insucesso ditado, também, por outras razões, simplesmente porque há que resolver as questões imediatas que a sobrevivência dita. Por outro lado, os pobres, os socialmente excluídos, não podem ser responsabilizados pelo péssimo funcionamento da economia, pela falência das empresas, pelo desemprego que no nosso caso atinge já 20% da população activa. Se há culpados esses não são os pobres ou mesmo os que pertenceram à classe dita média. Alguém teve a responsabilidade de governar a região e os municípios; alguém foi responsável pela não diversificação da economia; alguém foi responsável pela inexistência de políticas de família; alguém foi responsável pelas bolsas de pobreza na cidade do Funchal; alguém foi responsável pela ausência de investimento numa consistente política educativa, libertadora e único caminho capaz de romper com o círculo vicioso da pobreza. 
E neste aspecto específico, o da educação, enquanto instrumento libertador, digo-vos que não existe perversidade no meu pensamento quando, há muito, sublinho que esta política educativa regional, organizacionalmente autónoma, foi intencionalmente arquitectada. Não foi por mera incompetência e falta de visão que levou a que confundissem escolarização com educação, pois sabe-se que a manipulação política e a vitória eleitoral depende muito das fragilidades de quem vota. É, por isso, que não lhes preocupa cerca de 6.000 repetências de ano e por ano na Madeira. Não lhes preocupa que a repetência de ano de um aluno custe ao erário público cerca de 3.500 a 4.000 euros. Não lhes preocupa que este insucesso custe 21 milhões, ano perdido e ano repetido, isto é, cerca de 10,5 milhões de euros por ano. Ao invés de combaterem o insucesso logo nas primeiras idades, permitem as repetências e, daí, o insucesso e o abandono. Como se isto não bastasse, centralizaram o sistema, coarctaram a autonomia das escolas e tudo fazem para dispensar professores. 
É conhecida a declaração do presidente do governo em C. Lobos, aquando da visita oficial do Presidente da República. Ao abeirar-se de uma criança, perguntou: passaste o ano? Disse a criança: não! Retorquiu o presidente: não te preocupes, eu também perdi três anos e sou presidente do governo. 
Eu diria, perante estes dados, que há em tudo isto uma inteligência, perversa, é certo, mas ela existe e compagina-se com outros interesses de natureza política, onde o que parece é! E se abordo esta questão é porque, regresso aos que nasceram em berço pobre, regresso ao círculo vicioso da pobreza que só pode ser combatido através de uma política educativa que tenha em consciência que ninguém pode ficar para trás. E cada vez mais, centenas, muitas centenas estão a ficar dramaticamente para trás. 
Assisti, faz algum tempo, a uma conferência do Doutor Alfredo Bruto da Costa que aqui veio abordar as questões da pobreza. O Padre José Luís Rodrigues também assistiu. Curiosamente o Secretário dos Assuntos Sociais esteve ausente, vá lá saber-se porquê! Nessa conferência anotei alguns números. 
Anotei que no último estudo nacional, realizado entre 1995 e 2000, nesse intervalo de seis anos, o investigador concluiu, reparem bem, que 80% dos madeirenses passaram dois ou mais anos por uma situação de pobreza; que 30% viviam em pobreza regular, dos quais 15% em pobreza persistente. O estudo, repito, foi realizado entre 1995 e 2000, portanto, não sofríamos ainda as consequências de um cofre vazio. Passados treze anos, em 2013, com 25.000 desempregados, fora os que emigraram, todos perceberão que a situação obviamente se agravou. 
Ora, este estudo deveria ter feito soar a campainha de alarme de todos os que têm responsabilidades políticas, desde o governo aos autarcas. Mas a campainha política não soou. Pelo contrário, ouvi o secretário dos Assuntos Sociais, na Assembleia Legislativa, assumir que a pobreza rondava os 4% (10.600 – RSI). Nessa altura, a Suécia tinha 6,7%. Estaríamos, pois, no melhor dos mundos, segundo o governo. Esta afirmação do secretário foi tão indecorosa que, dias depois, o presidente do governo veio dizer que a pobreza, afinal, rondava os 8 a 10%. Traduzido em números: para o governo seriam cerca de 25.000 pessoas em situação delicada; para os vários estudos elaborados em bases científicas, cerca de 80.000. Uma pequena diferença de 55.000 pessoas, varridas para debaixo do tapete dos interesses políticos. 
Isto significa que, governo e autarquias, não sabem qual a verdadeira dimensão da pobreza. Aliás, nunca quiseram saber. Na Assembleia, várias vezes, foi chumbada uma proposta do Dr. Bernardo Martins no sentido de se proceder a um estudo sobre a pobreza: quantos são, quem são, onde vivem e quais as causas da pobreza. Isso nunca interessou, porque seria denunciar a verdade e colocar em causa as políticas. Preferível foi e tem sido ocultar os números de tão importante assunto, porque a manutenção do poder sempre esteve em primeiro lugar relativamente às pessoas. Digamos que tem prevalecido uma doentia mentalidade que o pobre e a fome de muita coisa, podem esperar. Eles desenrascam-se, pensarão. 
Aliás, os decisores políticos, quer no governo quer nas autarquias desde sempre denunciaram uma grande dificuldade em colocar-se no lugar dos pobres e dos excluídos. Fazem-me lembrar uma história verídica, contada por um meu amigo: numa viagem ao Brasil esse meu amigo foi convidado para jantar na residência de um abastado empresário e presidente de um clube brasileiro. O empresário vivia num espaçoso e requintado apartamento de luxo com uma vista soberba. Deslumbrante, segundo narrou. A páginas tantas, este meu Amigo, com toda a elegância, perguntou qualquer coisa sobre as favelas e as dificuldades das pessoas. A resposta veio célere: "sinceramente, eu não sei nada de pobre nem de pobreza". E a conversa ficou por ali, no meio de um jantar que, segundo esse meu Amigo, chegava para quatro vezes mais o número de convivas. De facto, eles não sabem o que é a pobreza. 
É, por isso, tempo de sair dos gabinetes e ir ao terreno e ver como vivem as pessoas, como anda a satisfação das necessidades consideradas básicas; é tempo de olhar para a nova configuração da pobreza resultante do estreitíssimo beco do consumo; é tempo de olhar para uma classe dita média mas em crescente e acelerado risco de pobreza; é tempo de olhar para o número crescente dos sem-abrigo; é tempo de olhar para as famílias, para a solidão, para o alcoolismo, para a toxicodependência, para as crianças e jovens em risco; é tempo de olhar para o porquê do consumo de anti-depressivos e para as consequências daí resultantes; é tempo de olhar para o número de suicídios que se verificam na Região cujo número é dramático; é tempo de cortar, drasticamente, nas despesas de capital, em obras que nada adiantam; é tempo de rever planos megalómanos e atentar naquilo que é necessário e gerador de emprego não precário; é tempo de humildade política, do governo e da autarquia do Funchal assumirem as suas responsabilidades, de deixarem de olhar para o umbigo porque há mais mundo para além do umbigo de cada um de nós; é tempo de olhar para as centenas de crianças pobres filhas de famílias desestruturadas que andam por aí em casas de acolhimento, de olhar para as centenas que batem à porta da Igreja, na Cáritas e tantas outras instituições de solidariedade; é tempo de dizer não a novos templos e colocar o dinheiro disponível ao serviço do desenvolvimento; é tempo de acabar com a escandalosa subsidiodependência do associativismo em geral; é tempo de estabelecermos como objectivo: “pobreza zero”. 
O combate à pobreza, a erradicação da pobreza deve constituir um desígnio. A pobreza não é uma fatalidade. Lutando contra ela estamos, certamente, a criar os pressupostos de um futuro melhor. Estaremos a defender a estabilidade social e a diminuição do crime. Mas isto implica determinação, coragem, convicções e políticas lúcidas. Não se resolve com um pontual almoço ou um jantar de Natal onde se reúnem alguns idosos, os pobres e onde se pronunciam discursos hipócritas, vazios de conteúdo e de significado. Há aqui questões de base ideológica que esta Coligação tem de saber combater. Há aqui questões de base humanista que temos de saber combater. Mas, atenção, não basta um programa de boas intenções. A generalidade dos programas de luta contra a pobreza, diz-nos a história dos processos, mantêm os padrões da desigualdade. Os próprios programas reproduzem a desigualdade, isto é, não se mostram capazes de quebrar o círculo vicioso da pobreza. 
E, atenção, nada tenho contra os ricos, desde que a riqueza não seja mal explicada, paguem os seus impostos, gerem postos de trabalho e paguem o salário justo. Mas o que se sabe é que os ricos, falo de pessoas e de instituições, nunca ou muito raramente são tocados, simplesmente porque o poder de decisão está sempre do lado do capital. Vivemos e somos subjugados pelo domínio de uma economia e de um sistema capitalista selvagem que impede uma nova visão do sistema económico humanista. E os programas reflectem isso mesmo. 
Para nós que aqui estamos de boa vontade e de espírito aberto sabemos que a causa da pobreza não está nos pobres, está, fundamentalmente, nas mudanças que são de natureza política. "Tudo o que seja combate à pobreza mantendo o padrão da desigualdade" (Professor Bruto da Costa) não tem sentido, pois apenas mantém tranquila uma parte da consciência política. É por isso que a solução deste gravíssimo problema não está na caridade, palavra que não gosto. Respeito e muita consideração nutro pelas mais diversas instituições que combatem a pobreza, de dia e de noite, respeito o notável trabalho das paróquias que matam a fome e esbatem casos muito sérios de carências várias, mas entendo também que não é pela via da caridade que os problemas se resolvem. A caridade transporta um significado de esmola, quando o ser humano deve ser portador de dignidade e direitos que não devem ser confundidos com esmola. 
É, portanto, pela via política, com deliberações conjugadas que "dêem o peixe mas também a cana", em simultâneo, utilizando a expressão do Professor Alfredo Bruto da Costa. A "caridade" que coloco aqui entre aspas, deve ser o fim da linha, o ataque às margens mais distantes, para quem mergulhou tão fundo que experimenta dificuldades em se erguer apesar de toda a acção nesse sentido. A caridade não resolve, a prazo, problema algum, apenas se destina a esbater e aliviar a consciência dos erros dos políticos. Esta Coligação pela mudança deve partir do pressuposto que a "armadilha da pobreza é a armadilha das desigualdades" e, portanto, não se pode cair no círculo vicioso de que "os pobres são pobres porque são pobres", antes "os pobres são pobres porque os ricos são ricos". Mas para quem disto sabe, como é o caso do Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa, cujo pensamento aqui deixei, investigador que para além de académico é Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, instituição ligada à Igreja Católica, o PSD acabou por enxovalhá-lo, apelidando-o de comunista, gonçalvista e de outras coisas. É chamada ignorância altifalante! 
Penso que estamos à beira de uma tragédia social. Não sei onde isto irá parar. Os pobres de longa duração, sabemos pela constatação da realidade, entraram numa linha de conformismo. São pobres e ponto final. Mas os que estão a cair rapidamente na zona escura da pobreza, esses podem vir a ter uma reacção de revolta que pode potenciar a violência. E no limite a violência pode afectar a democracia. A liberdade para além de ser um direito básico e universal, implica a existência de condições para o seu exercício. E um Homem com fome não é um Homem livre, disse Amartya Sen, Nobel da Economia em 1998. Não nos esqueçamos das altíssimas taxas de abandono escolar e da frustração de centenas de jovens à procura de um espaço onde possam exercer uma profissão. Estamos, pois, sentados em cima de uma bomba relógio. Vivemos uma situação de algum caos, ausência de esperança e isso pode servir para espoletar situações menos agradáveis. Oxalá que não. 
Por outro lado, é intolerável, inaceitável, contraproducente, obsceno até, enterrar milhões em obras desajustadas da realidade. Embora escasso e embora as dívidas atinjam um quantitativo assustador, o dinheiro existe. O problema está na definição política das prioridades. Todos conhecem a pirâmide das necessidade de Maslow. Quando milhares se encontram distribuídos pelos primeiros três patamares, a mentalidade política situa-se no patamar da realização pessoal (topo). Quero eu dizer que a grande obra no ser humano foi substituída pela obra do cimento e outras, quanto mais desajustada da realidade melhor. Porque o grande vende quando não existe uma cultura que possibilite uma ponderada análise. E a propósito de obras, dizia o sociólogo Lucien Romier: “uma equipa de futebol por cada mil habitantes e o problema social será resolvido”. Não é por acaso que a Região tem 37 campos de futebol, quando temos milhares de pessoas a passar muito mal. Enquanto ali estiverem não pensam nas agruras da vida, nos seus direitos e nas oportunidades que são, sucessiva e subtilmente, negadas. 
Portanto, eu diria que uma Câmara de “mudança” saída desta Coligação tem de dizer basta às opções e atitudes políticas miseráveis, cretinas, sem qualquer ponta de humanismo, de amor ao próximo, de respeito pelas prioridades e de sentido de justiça. Deve ser missão desta Coligação para a “mudança” um novo olhar para os pobres, para o que aí vai de desgraça social, para a miséria, olhar para o lado e ver o ambiente familiar, social, económico, financeiro e cultural em que esta Região e particularmente o Funchal mergulhou. Temos a obrigação de olhar para a degradação dos princípios e dos valores, olhar, repito, para o porquê dos suicídios, para os assaltos e roubos, para os assassinatos, olhar para a fome de tudo e não empurrar para longe os problemas que são daqui e aqui têm de ser geridos e resolvidos. Temos de saber parar com o esbanjamento em obras vergonhosas, sem sentido de oportunidade e que apenas servem a estupidificação de uns e a "glória" eleitoral de outros. O limite da tolerância, parece-me óbvio, já foi atingido, face ao descaramento, à sistemática perseguição a quem pensa diferente, à castração do pensamento de todos aqueles que, enquadrados no círculo vicioso da pobreza, não têm armas, nem a do voto, para "combater" este estado de situação reles, sem nível e esgotado. 
Fui Vereador na Câmara Municipal do Funchal durante doze anos. Ali nunca respirei um ambiente de preocupação pelas questões sociais, embora, por Lei, uma das suas atribuições seja a protecção à infância e à 3ª idade. Nunca percepcionei a existência de sentimentos, de princípios e de valores humanos e cristãos. No entanto, saem em procissões e vão a todos os Te-Deum. Nunca percebi que a identificação de uma necessidade fosse questionada na sua génese, o que significou sempre a percepção de certos avanços embora as necessidades anteriores não estivessem satisfeitas. Nunca constatei uma interpretação do desenvolvimento assente em três dimensões inter-relacionadas: a dimensão económica, a dimensão social (que tem a ver com a vida e com as desigualdades) e com a dimensão cultural. A Câmara do Funchal, desde sempre, nunca percebeu o desenvolvimento numa perspectiva endógena e integrada, enquanto resultado de considerações e de avaliações de ordem filosófica, ideológica e metodológica. A autarquia do Funchal nunca considerou estes factores que conduzem ao desenho e contextualização do desenvolvimento. O Funchal tem sido gerido ao sabor de interesses e de coutadas. Por isso, a indiferença conduziu a que o Funchal se apresente hoje como uma fruta razoavelmente bonita por fora, mas muito corroída por dentro. E aqui vive 50% da população. É o centro rico, mas o centro onde a pobreza tem maior expressão, onde se multiplicam as bolsas de pobreza escondidas pelas ruas secundárias, os becos, travessas, entradas e impasses. 
O Funchal é, por outro lado, uma cidade saturada, de crescimento desordenado que tem vindo a gerar problemas na escala da própria cidade. O Funchal está assimétrico, não existe um sentido de medida, uma cidade construída à medida do Homem. Vivemos numa cidade sem alma, porque foi passada, eu diria, ao ferro nivelador da uniformidade do pensamento político. Não temos uma cidade dos cidadãos. Vivemos numa cidade onde há desumanidade nos direitos do Homem, existe muita reclusão, gente que não sai do lugar onde vive, porque não há uma dimensão económica e solidária à luz de objectivos culturais, porque não existe um projecto colectivo que aglutine e dinamize o conjunto do corpo social em todas as variáveis. Quando a natureza puxa os seus galões, aí ficam as fragilidades à vista como aconteceu no 20 de Fevereiro.
Ora, isto implica mudar as estruturas do pensamento político, que leva tempo, no sentido de devolver a cidade aos cidadãos. Isto implica a defesa de uma identidade própria que relegue o crescimento pelo crescimento através de modelos e padrões de vida importados, isto é, conducentes a uma cidade cheia de coisas, mas na verdade, vazia de significado. 
(...)
Mas atenção, Amigo Paulo Cafôfo. Esteja atento. Há pessoas para todo o tipo de comportamento. E há candidatos que se ajeitam a isso. Falam e escrevem sem qualquer coerência e sem memória. O que ontem era a verdade, indiscutível, insofismável, hoje, enterram os pensamentos, as palavras ditas e apresentam-se com novas roupagens, com um discurso maquilhado, como se ninguém tivesse presente o que foi dito em nome da defesa de uma política que deu no que deu. Gritaram contra todos quantos alertaram para a pobreza, para as carências de uma população que dia a dia ia sendo empurrada para a periferia, espoliada nos seus direitos e encostada à parede por clara ausência de políticas autónomas geradoras de necessários equilíbrios. Pessoas que chumbaram propostas, umas atrás das outras, na Câmara e a outros níveis, que negaram audições, boicotaram inquéritos, subiram ao palanque para pregar a palavra do "vigia da quinta" (feliz expressão do Padre Martins Júnior) e para ocultar a realidade que milhares já estavam a sentir na pele. Bastaria andar por aí com olhos não partidários, bastaria ter presente os desabafos, o desenho da economia e das finanças, as megalómanas obras, as dívidas, as caraterísticas do sistema educativo e o quadro da formação profissional, para além do novo analfabetismo, ou melhor, de um crescente número de pessoas sem instrução que os novos tempos exigem, para concluírem que o buraco, não apenas o financeiro, mas o buraco da pobreza, da dívida social, estava a aumentar e a tornar-se incontrolável. Apesar disso, mandava a liturgia partidária que tudo fosse negado. Por falta de inteligência? Digo eu, não, por falta de respeito por si próprios e cega obediência ao "chefe", o tal que determina ou determinava quem ocupa os lugares no hemiciclo e nas autarquias. São essas mesmas pessoas que hoje, afogadas em porcaria social até ao pescoço, aflitas perante a crescente onda de contestação, levaram a efeito uma "semana da solidariedade" e hipocritamente, admitiram a existência de "pobreza extrema e exclusão" e, com uma distinta lata política, falaram de dez cantinas sociais e das instituições de solidariedade social que são "braços armados" da política do governo no combate à fome, disseram. Negaram, inclusive, durante anos, a existência de um Banco Alimentar e os sem-abrigo eram residuais e se estavam nessa situação a culpa era de muitos deles. Hoje temos mais de uma centena a viver e a dormir onde calha e temos mais instituições de solidariedade social que freguesias. Negaram que as cantinas escolares abrissem no período de férias para irem ao encontro das crianças que passam mal. Mete-me dó este tipo de pessoas que se vendem por uma posição. Pessoas que conseguem enaltecer a política do governo regional quando, se o desastre social está aí, apenas se deve à péssima governação, no governo e nas autarquias. Andam agora as comadres zangadas, quando dispuseram de uma maioria absoluta, durante 36 anos consecutivos. Cuidado, pois, com o discurso desses candidatos, porque é necessário, serenamente mas de forma acutilante, lembrar o que andaram a fazer. E cuidado com aqueles democratas que de cristãos pouco têm, porque parece que nada tiveram a ver com a actual situação, no quadro do esquecimento das denúncias. Com o dinheiro que aí esteve disponível, com outras estratégias, ao contrário de construírem uma terra de paz e de felicidade, uma terra capaz de suportar o embate da crise externa, geraram uma terra assimétrica, frágil, impotente e de enormes desequilíbrios a todos os níveis. 
Vou terminar estas linhas digitadas ao correr do pensamento. Mas gostaria de deixar aqui, para reflexão alguns pontos. Desde logo, sugiro que 2014, seja para a Câmara Municipal do Funchal o “Ano do Combate à Pobreza e à Exclusão Social”. O ano que conduza a um estudo sobre a pobreza e a exclusão social no quadro do reconhecimento do direito dos cidadãos em situação de pobreza e exclusão social a viverem com dignidade; um ano de lançamento de um trabalho de reforço da coesão social. E se esta iniciativa sugiro é porque entendo que a prioridade do próximo(s) mandato(s) deve apontar quase exclusivamente para as pessoas. O Funchal está numa situação, eu diria, dramática. As pessoas neste momento desejam serviços exemplares de recolha de lixos, fornecimento de água, energia, limpeza urbana, segurança e protecção civil, enfim, uma eficaz gestão corrente. Os cidadãos querem mais rigor, menos burocracia, menos folclore político e uma melhor definição das prioridades. O resto pode esperar. O que não pode esperar, porque é decisivo, é o combate inteligente e seguro nas questões sociais. Não depende apenas da Câmara, todos o sabemos, mas depende muito da Câmara. Esta obra de cunho social tem trabalho pela frente, no mínimo, para cinco mandatos. Ao rigor financeiro para pagamento aos fornecedores, de uma dívida que é gigantesca, a prioridade deve centrar-se nas pessoas. As pessoas precisam de emprego, os empresários precisam de confiança para gerarem emprego, mas só isso não chega. É imperativo de uma política social, de uma Câmara com preocupações sociais, olhar para a política educativa, para as famílias e para um horizonte com utopia. 
Galeano diz que a utopia está lá no horizonte. E de facto está como todos sabemos: damos dez passos e ele afasta-se dez passos. Damos cem passos e ele afasta-se cem passos. Galeano pergunta, para que serve então a utopia? Serve para caminhar. Só que este caminho tem de ser escolhido sob pena de nos encontrarmos hoje num cruzamento totalmente esburacado, taparmos os buracos do cruzamento e, no final, olhamos e damos connosco no cruzamento, no mesmo lugar, porque perdemos tempo a tapar buracos. Neste cruzamento esburacado, há que seguir um caminho, mesmo com buracos, tapando-os, mas com determinação, definindo o objectivo com clareza, sempre no pressuposto que o horizonte se vai distanciar, mas o caminho teimosamente será sempre aquele que for inicialmente escolhido. 
E volto ao princípio, não nos esqueçamos que a política, naquilo que é essencial para o ser humano, visa corrigir as desigualdades que começam no orgasmo, no berço pobre e no berço rico. Obrigado".