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sexta-feira, 12 de junho de 2015

REPRESENTANTE DA REPÚBLICA: "SOMOS UM PAÍS QUE ESTÁ A ANDAR PARA A FRENTE". VÊ-SE!


No Telejornal da RTP-Madeira, de 10 de Junho, segui a entrevista ao Senhor Representante da República para a Madeira, Juiz Conselheiro Ireneu Cabral Barreto. A entrevista foi curta (07'00) pois tive a percepção que o Jornalista, perante o ziguezagueante das respostas, abreviou antes que se tornasse enfadonho. E julgo que fez muito bem em função das oportunas questões colocadas. De qualquer forma um aspecto fez-me cruzar o que felizmente conheço com a resposta do Senhor Representante, quando, a propósito da questão, estaremos num "país desalentado", referiu que há motivos para os jovens terem esperança no futuro. O ilustre político disse basear a sua convicção "em sinais" e também através de um concurso literário, por si promovido, que contou com uma larga participação de jovens da Região, o qual "excedeu as expectativas" não só pelo número, mas pelo conteúdo dos trabalhos apresentados. Daí a sua convicção: "os jovens não estão desalentados" (...) "somos um país que está a andar para a frente". Vê-se!


Senhor Representante, quando se fala do desalento de uma juventude, constitui um erro grave fazermos uma leitura pela árvore que está à nossa frente, muito próxima dos nossos olhos, que nos impede ver, neste caso, a floresta do desencanto. Expoentes máximos em tantas áreas Portugal sempre os teve. É a nata que qualquer sistema educativo produz, mesmo que assente em premissas erradas. Hoje, naturalmente, apresenta mais talentos, simplesmente porque há mais escola e mais associativismo, de acordo, aliás, com o que deriva das obrigações constitucionais. Mal seria se assim não acontecesse.
Nem todas as famílias são pobres, há crianças, jovens e jovens-adultos que tiveram a felicidade de nascer em condições favoráveis. Esses chegam lá, ao topo, e poucos, oriundos das classes menos favorecidas, no meio de muita dedicação e sacrifício das famílias, ressalvo, também conseguem ter sucesso. Porém, a esmagadora maioria, provam-no os variadíssimos indicadores, ficam pelo caminho. Saberá o Senhor Representante quantas vezes mais possibilidades tem de se licenciar, um filho de um Licenciado em relação a um filho das designadas classes operárias? Conhecerá o Senhor Representante as vergonhosas taxas de insucesso e de abandono escolar em Portugal? Conhecerá o Senhor Representante a diminuição do investimento público na Educação? Dominará o Senhor Representante os níveis de pobreza que chegam à Escola, consequência do avassalador número de desempregados? Como pode então dizer que "é um invejoso da nossa juventude" quando o Senhor Representante chegou a Juiz Conselheiro? Há aqui uma insanável contradição de natureza política. Por vezes os tais "sinais" são como "a luz ao fundo túnel" que acaba por ser o comboio! Repito, a árvore pode esconder a floresta.
Mas o menos assertivo, perante o seu "espanto" sobre a juventude, foi ter dito mais adiante: temos pela frente o "desafio da Educação. Temos de colocar os nossos jovens em patamares de Educação que sejam competitivos no país e no mundo". Boa. Em que ficamos, Senhor Representante? É óbvio que o discurso político tem de ser apontado para um futuro melhor, esperançoso, mas esse mesmo discurso não pode ignorar a realidade que nos circunda e constrange. É nesse balanço, com frontalidade, entre a realidade que caracteriza a triste situação real e a construção do futuro desejável, que um político deve assentar o seu discurso moderado e de confiança.  
Ilustração: Google Imagens.

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