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domingo, 31 de agosto de 2008

COMO VOU SAIR DESTA!

As intervenções explicam, claramente, o desespero do presidente. O sentimento que transparece é de agonia permanente, de um estado depressivo que se consubstancia em quatro palavras: como vou sair desta! E se ontem o tom da agressividade política centrava-se mais na forma que no conteúdo, hoje, na lógica de quem torto nasce jamais se endireita, o que emerge é o continuado, insuportável e preocupante acto mistificador. O bombo, a baqueta e o som produzido é repetidamente o mesmo, apenas a letra, de quando em vez, adequa-se aos fins, mas sempre sem desvios relativamente ao princípio que uma mentira repetida muitas vezes, ao próprio e aos da plateia conivente, parece ser verdade. Aliás, tanto é assim que o partido, em Lisboa, percebendo a tramóia, cora de vergonha e não concede crédito. Ora, se os da cor, pelo silêncio, retiram o tapete, a leitura política que se pode extrair é que o Dr. Jardim é um homem só e esgotado, onde nem o “raffiné” da técnica da argumentação política lhe vale. Subsiste, por teimosia, amor ao poder e pela consciência que transporta de ser refém de alguns e da teia que urdiu mas que se romperá, tal como um castelo na areia, na subida da maré.
No actual contexto político, o Dr. Jardim há muito que deixou de ser líder. Ele é apenas um exímio na arte de conquistar a submissão dos outros aos seus propósitos. Percebe-se isto na leitura de Galbraith, quando sublinha que numa interpretação quotidiana, na maior parte das vezes, este tipo de político apenas é “um perito em identificar-se à vontade já condicionada da multidão e em revelar-lhe aquilo que ela própria quer”. Isto é, durante anos, condicionou-a e hoje, fala-lhe através de uma pregação de fé subordinada às condicionadas crenças da clientela. É por isso que os rituais da política (comícios e inaugurações) transportam uma “compensação equivocada da personalidade como fonte de poder. É o que pode ser chamado de efeito histriónico”. Fala ao seu condicionado auditório de acordo com o seu pensamento que ele sabe ser a crença dos outros. A sobrevivência política assim lhe exige: púlpito e jeito para a pregação sobre aquilo que os outros, condicionados, querem ouvir. É neste pressuposto que assentam os rituais das seitas religiosas que enchem estádios e auditórios. E quão perigosas são!
Portanto, o problema nunca foi, num primeiro momento, a Lei das Finanças Regionais e agora a Constituição da República. A primeira rendeu votos, a segunda, para a qual a população está a ser empurrada na crença, o quadro volta a ser preocupante. Sobretudo porque as ditas “causas fracturantes” do desenvolvimento regional são outras. São de governação rigorosa e não de “hipocrisia” do Estado; são de modelo económico e não de “extorsão” e “violação dos direitos”; são de respeito pelos doze princípios do desenvolvimento e não de um “colonialismo” que ninguém sente; são de inteligência no esgotamento da larga Autonomia que existe e não de mais Autonomia. E olhe-se para os Açores, desde o tempo de Mota Amaral ao de Carlos César. Olhe-se para o crescimento e desenvolvimento sustentáveis que apresentam, com menos impostos, mais benesses sociais e, entre outros, combustíveis mais baratos.
Ora, se outra tivesse sido a educação e cultura democrática do Povo, se outro fosse o conceito de liberdade e de cidadania, se a alternância no poder tivesse sido norma nestes 32 anos, se a Igreja tivesse contextualizado a Palavra e não se rendido à obediência do vil metal, a Madeira não estaria hoje neste labirinto. A própria vivência democrática seria suficiente na busca de soluções. Como assim não acontece, o mentor desta história, todos os dias levanta-se com as quatro palavras que o atormentam: como vou sair desta!
Artigo de opinião, da minha autoria, publicado, na edição de hoje, do DN-Madeira.

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