Desde logo, Senhor Director Regional de Educação, reserve para si e para os seus amigos essa história do protagonismo mediático. Nunca dele precisei e sou muito feliz por isso. Agora, nem o Senhor nem os amigos a quem se juntou me vão impedir de ter opinião. Nunca precisei de vender a alma ao diabo. Se ainda não deu conta, tome consciência que vivo num País de matriz Democrática e nunca fez o meu jeito retirar dividendos políticos da desgraça. Apesar de estar há pouco tempo na cadeira do poder, achou por bem imitar os seus parceiros. Fica-lhe mal. Eu analiso, não ofendo. De resto, o teor do esclarecimento não está ao nível de um Director Regional de Educação. Por um lado, porque confirma as taxas por mim avançadas e que são do INE; por outro, mistura, na análise ao analfabetismo, apenas para confundir, todos os projectos em curso nas escolas, como se isso tivesse alguma coisa a ver com os dados do analfabetismo. E tanto assim é que, segundo dados oficiais, existem na Região cerca 3.000 adultos, com idades entre os 30 e os 59 anos que não estão a ser devidamente alfabetizados. E não estão porque na Região não foram consideradas políticas incentivadoras e porque o governo passou ao lado de um ambiente cultural favorecedor dessa necessidade. E isto é grave, porque o problema não se resume à aprendizagem mínima da leitura arrastada, da escrita que pouco vai além do nome ou de um cálculo sumário. O problema é confrontarmo-nos, hoje, com uma população que exprime dificuldades em cruzar a informação disponível. É analfabeto todo aquele que não percebe as mensagens ou não compreende o outro lado dessas mesmas mensagens. É o chamado analfabetismo funcional, aquele que aprendeu a decodificar minimamente a escrita mas não tem habilidade na interpretação dos textos. E este é um problema cultural, um problema de criação de uma necessidade. Essa necessidade, por múltiplas razões, não foi assumida e, portanto, em 2007, por estimativa, a Região tinha ainda 18.731 indivíduos analfabetos, isto é, alguns milhares de activos que condicionam o desenvolvimento. Pode o governo acenar com uma taxa de 7,1% para 2011. Os censos é que vão ditar a verdade. Só em 2015 o governo estima que a taxa se aproxime dos 5,6%. Quarenta e um anos depois de Abril. É, por isso, que em alguns corredores, consideram que esse é um problema que será resolvido dentro de dez, quinze anos, através da natureza! A terminar, Senhor Director Regional, o analfabetismo não é uma falsa questão como sublinhou o Senhor Secretário da Educação em 18 de Abril de 2007. O analfabetismo, numa perspectiva mais lata, é uma realidade que tem de ser combatida pelo que ele representa para o desenvolvimento da Região. E essa perspectiva mais lata sublinha que "os analfabetos do século XXI não são aqueles que não sabem ler nem escrever, mas sim aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender" (Alvin Toffler).
Carta do Leitor, da minha autoria, publicada, hoje, no DN-Madeira.
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