Este sistema educativo deu tudo quanto tinha para dar. É a leitura e a síntese que faço depois de muitas leituras que desde há muito acompanho. Andam por aí os governantes com discursos ocos, absolutamente marginais, sem coragem para traçar um caminho, não de reformas mas de criação de um sistema adequado aos novos tempos. É preciso reinventar a escola e como ouvi algures, é urgente e necessário devolver a alegria às escolas. O problema é exactamente este: qual o significado desta palavra alegria para os professores, para os alunos, para os funcionários e para os pais!
O texto que aqui reproduzo diz bem da Escola que ainda temos. É escrito por um aluno do Ensino Secundário.
"No princípio do ano lectivo 2007/2008, fiquei satisfeito por ter sido eleito delegado de turma e, mais tarde, representante dos alunos no Conselho Pedagógico. O entusiasmo adveio, senti que podia fazer a diferença e fazer valer a minha opinião em conjunto com a de todos os outros alunos, meus colegas, no órgão máximo da escola que frequento. Jovem e idealista, sonhava em remodelar o sistema e o método utilizados, em fazer valer os direitos e os deveres dos alunos. Têm assento no Conselho Pedagógico, as melhores e as mais qualificadas pessoas, nomeadamente, os Presidentes do Conselho Executivo e do Conselho Pedagógico, os coordenadores, dos departamentos curriculares, da Área de Projecto, representantes, do pessoal não-docente, dos pais e dos alunos. Estava, portanto, completamente determinado, confiante e decidido a "salvar o mundo". Sentia-me orgulhoso do meu papel. Seria o porta-voz dos meus colegas. Diz a lei que o Conselho Pedagógico é o órgão de administração e gestão que assegura a coordenação e orientação da vida educativa da escola. Toda a sua actividade deve incentivar e apoiar iniciativas de índole formativa e cultural; propor o desenvolvimento de experiências de inovação pedagógica e de formação, no âmbito da escola e em articulação com instituições ou estabelecimentos de ensino superior, vocacionados para a formação e a investigação. Convocado para a primeira reunião cheguei às horas previamente estipuladas. A reunião, marcada para as 15:00, só começou às 15:30, devido a atrasos. Uma hora depois ainda estávamos no "ponto 0 – actas" (entre 8 pontos a tratar) na leitura e aprovação da acta anterior, a rever vírgulas, pontos finais, parágrafos, acentos, erros gramaticais ou ortográficos. Pois bem, como ninguém me explicou, a leitura que eu faço deste facto é a de que o autor da acta não sabe escrever. Acabado esse acto (não pedagógico) foi altura de passar ao ponto seguinte "período de antes da ordem do dia". Nesta altura, eu já tinha perdido o entusiasmo inicial. Este ponto da ordem de trabalhos, como o nome indica, é muito vago e serve para se falar de praticamente tudo, ou de nada, como se veio a verificar. Começou por falar uma professora que estava simplesmente ultrajada por a Biblioteca Escolar estar mal referida no regulamento interno, ou seja, em vez de estar na secção I, encontrava-se na secção IV. A troca de argumentos foi acesa, uma autêntica cena política que me fez lembrar a minha visita ao Parlamento português. Quem não soubesse do que se tratava, diria que ali se discutia a mais importante das questões. E após duas horas estava-se ainda no ponto 1. Encontrava-me cansado, apenas de ouvir imbecilidades que, de pedagógicas, pouco ou nada tinham. De seguida, apesar do respeito que me mereciam alguns dos presentes, pedi licença para sair da reunião, antes que eu "rebentasse". Fui para casa estudar. Eram 18:00 horas e prometi a mim mesmo nunca mais voltar ao Pedagógico. A minha colega também nunca mais compareceu. Esta má experiência abateu o meu espírito de mudança. Se a escola é dos professores "eles que se entendam"! Deixo-os com os acentos e pontos finais. Aprendi o que é um exercício pedagógico".
Nota: Pertenci a muitos Conselhos Pedagógicos. Este texto, mais do que uma crítica, permite reflectir sobre a Escola que temos e sobre os governantes que a defendem. Os professores são os menos culpados da situação.
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