Adsense

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

DESPORTO E TURISMO

A propósito do título conquistado pelo madeirense Cristiano Ronaldo e a eventual correlação com o interesse desse título em termos promocionais da Madeira, ouvi, ontem, várias figuras a tecerem considerações, do meu ponto de vista, umas menos bem enquadradas, outras, despropositadas porque infundamentadas. Eu conheço quatro estudos sobre esta matéria porque, em todos eles, fui orientador metodológico. O último dos quais realizado por uma madeirense, Licenciada em informação turística pela Escola de Turismo do Estoril. Tratou-se de um estudo que replicou, de uma forma profunda e muito consistente, um outro realizado pela Universidade da Madeira. Havia que saber e confirmar as percentagens apuradas num primeiro momento. A autora chegou às mesmas conclusões. O estudo assentou em minuciosos inquéritos, elaborados em cinco línguas, aplicados, em percentagens idênticas, junto de turistas oriundos dos cinco maiores mercados geradores de turismo da Madeira. A abordagem foi exaustiva ao ponto da autora procurar saber quem vendeu o destino, que imagem deu do destino Madeira, que material desportivo colocou na mala de viagem e o grau de satisfação encontrado na Região em relação às expectativas criadas. A amostra foi considerada cientificamente significativa, foi testada e validada.E os dados apurados dão conta, por exemplo, em resposta múltipla que:
44,3% procura a Madeira pelos passeios a pé, pelas montanhas e levadas;
35,0% pela paisagem natural (clima, mar e flores);
18,0% pelo descanso/repouso;
18,7% pela qualidade do ambiente.
Seguem-se depois muitos dados nos mais variados domínios: tranquilidade, social, cultural, criatividade, aventura, etc. etc. São quase trezentas páginas de revisão bibliográfica, de aplicação metodológica e respectivas conclusões.
Mais: 83,6% dos turistas afirmaram não conhecer clubes madeirenses. Outro dado: 92,8% disseram que durante a sua estada na Madeira não assistiram a qualquer espectáculo desportivo, aos quais se junta a percentagem dos que não responderam a esta questão. E os que disseram conhecer clubes madeirenses, 70,4% referenciaram o Clube de Golfe do Santo da Serra, o Palheiro Golfe e o Clube de Ténis do Funchal.
Fica, portanto, claro, que não existe uma correlação directa entre os investimentos no desporto, sobretudo no desporto de expressão profissional, caso concreto do futebol, e os fluxos turísticos. Só mais um dado de certa forma importante: dos inquiridos, 54,5% disseram ter uma prática física e desportiva regular nos seus países de origem. Mais do dobro relativamente à taxa madeirense.
É evidente que as pessoas viajam por múltiplos interesses, desde quererem arrastar os pés na areia em puro descanso, até aos interesses culturais, isto é, o que as move é o desejo de conhecer a monumentalidade, aquilo que é património da humanidade, o característico, aquilo que é único, mesmo que não existam Cristianos, Messis e outros de nome planetário nesses espaços. Com muita boa vontade, poder-se-á dizer que o desporto faz parte de um pacote de imagem (vinho, bordado, etc.). Mas nada comparável, por exemplo, à noite de fim de ano, que pela história de muitos anos, pelo anfiteatro maravilhoso que o Funchal dispõe, proporciona um espectáculo quase único e que, por isso, atrai milhares. O fim de ano, tal como outras iniciativas, é vendido pelo espectáculo e nunca porque o Cristiano Ronaldo aqui nasceu! Há muitos anos que é assim. Isto significa que é preciso contextualizar as situações e estudar as correlações directas e indirectas. Se assim não se fizer ficamos pelas generalidades e banalidades.

1 comentário:

Scherzan disse...

Totalmente de acordo.
Mas como se sabe, quando os interesses são outros...