Quando assisto a discursos que não têm em consideração os contextos, em que os oradores se esquecem do seu passado, inclusive, como governantes, sou levado a considerar que o oportunismo e a ânsia de poder, toldando-lhes a honestidade, acabam por traduzir junto da população a menoridade da nossa vida política e dos seus principais actores.
Cuidado. O exercício da política não pode configurar a luta de cães por um osso! |
Assiste-se a uma progressiva degradação do exercício da política. O problema é geral. O que por aqui se passa, pública e notoriamente é um desastre, por múltiplas razões que tantas vezes tenho vindo a equacionar. Trata-se de um problema que a seu tempo será resolvido. Depende, fundamentalmente, dos que aqui vivem, mas também de um olhar responsável dos órgãos de soberania nacional. Quando o candidato à Presidência da República, Manuel Alegre, refere, no caso de ser eleito, que manterá um olhar atento sobre a Democracia na Madeira, isso constitui um sinal de significativa esperança. E espero que tal aconteça.
Ora, se por aqui se conhece a irresponsabilidade e as linhas com as quais se tecem as monobras políticas, por lá, no espaço nacional, embora com características substancialmente diferentes, há situações que causam desespero. E falo concretamente do debate na Assembleia da República, do Orçamento de Estado, agora em fase de debate na especialidade. Assisti, nestes dois dias, com várias interrupções pelo meio, a um "combate" político dos partidos da esquerda, legítima e contundentemente, colocando em causa a governação socialista; assisti a uma certa radicalização discursiva da direita parlamentar, como se nada tivesse a ver com a situação do País, como se, no seu histórico de responsabilidade governativa, nada constasse em seu desabono. Que a esquerda coloque os pontos nos i e que traga para o centro da "batalha política" as suas mais arreigadas bandeiras, considero absolutamente natural e até importante. O que já não aceito é aquele típico discurso da Drª Manuela Ferreira Leite, de quase "terra queimada" que "(...) a história e os portugueses se encarregarão de julgar quem cegamente nos conduziu a este ponto", interrogando-se, de "como foi possível o Governo ter conduzido o país a um ponto tal que tornou inevitável este tratamento" (...) e que "estão há quatro anos e meio com maioria absoluta, tinham mais do que a obrigação de ter resolvido o problema" e que, numa clara denúncia de ânsia de poder afirme que: "(...) vou lutar com todas as minhas forças para que, ao fim de dois meses de estarmos no Governo, quando lá chegarmos, não seja dito que a culpa do que se está a fazer é nossa" (...).
A política faz-se, também, com memórias e a coerência constitui um activo muito importante.. |
Não sou sectário ao ponto de não considerar os erros da governação. Há um conjunto de aspectos sobre os quais tenho uma leitura com reticências. É natural que assim me posicione. O vínculo partidário não me obriga a uma qualquer atitude cega de integração no rebanho. Guio-me por valores e, no plano partidário, pela designada "carta de princípios". E mesmo essa "carta de princípios" não me limita o pensamento livre. Olho para as situações e, naturalmente, umas não me agradam. Os actos políticos responsáveis, no quadro da Democracia, assentam, precisamente, nessa capacidade de luta pelas convicções gerais, embora com admissão de outras leituras aos processos. É por isso que, quando assisto a discursos que não têm em consideração os contextos, em que os oradores se esquecem do seu passado, inclusive, como governantes, sou levado a considerar que o oportunismo e a ânsia de poder, toldando-lhes a honestidade, acabam por traduzir junto da população a menoridade da nossa vida política e dos seus principais actores.
Ilustração: Google Imagens.
1 comentário:
Meu Caro Amigo
Abstenho-me de tecer qualquer tipo de consideração sobre o que penso do actual Governo da República.
Estou certo que iria acrescentar alguma preocupação às que o incomodam,e,isso não me parece correcto, nem necessário, fazê-lo, aqui e agora.
Acompanhei,pela TV,a discussão do OE.
Sem a responsabilidade de quem prometeu a "cooperação estratégica"(!?!!!),também me senti francamente entristecido com algumas das intervenções, num debate que mais parecia referir-se a um outro País que não o nosso.
A ausência de integridade deixou-me siderado!
E,no entanto,entre outras coisas,aplaudiu-se de pé e louvou-se(!!!)o discurso, e o apelo à VERDADE,com que a Dra.Ferreira Leite quis sensibilizar o plenário e o auditório nacional.
Mas,depois...logo em seguida...esclareceu-nos da ampla latitude daquela sua Verdade...aconselhando um "distraído", seu adversário-parceiro,a...FINGIR!
É bem certo que "é mais fácil apanhar um coxo que(ao caso) uma mentirosa"!
Esta gente merece Abril!?!
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