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domingo, 15 de maio de 2011

SOCIÓLOGOS NA EDUCAÇÃO: UM TIRO DE PÓLVORA SECA!


"(...) Para Baudelot e Establet, que vão buscar inspiração aos teóricos marxistas franceses mais recentes como Althusser e Poulantzas, a principal função da escola não é técnica (a transmissão de conhecimentos) mas ideológica (a manutenção do statu quó). Além disso, defendem que, apesar das afirmações em contrário, inclusive por parte de alguns sociólogos da educação eminentes, o que se passa na escola não pode ser visto em termos de «distâncias» e «desvantagens». Só a reintrodução de outros e novos conceitos, entre os quais o de "contradição" e de "luta de classes" permitirá uma real compreensão do fenómeno escolar"

Julgo que a última do Secretário Regional da Educação é a de colocar Sociólogos nos estabelecimentos de ensino. Perante tal proposta, as perguntas que desde logo me assaltaram foram: para quê, com que efeito e com que prioridade?
Bom, eu diria que se tratou de mais uma tirada, inconsequente, que, aliás, não será levada à prática por condicionalismos orçamentais. Eu diria, ainda bem. Não deixo, no entanto, de assumir que não me repugnaria a existência de um Centro de Estudos, restrito, de especialistas em sociologia, reunidos em um qualquer departamento, para investigar e analisar a Escola na sua relação com a estrutura social na Região. Isto, partindo do pressuposto, que defendo, da existência de um sistema educativo próprio. E para o implementar, primeiro, temos de conhecer e "dominar", em todas as variáveis, a sociedade que servimos.
É evidente que, mesmo sem a participação dos sociólogos, os principais e estruturantes problemas da Educação estão identificados pelas várias instituições, desde departamentos universitários, dissertações e teses, a associações diversas no campo da Educação, passando por revistas de altíssima qualidade, até aos sindicatos de professores que, regularmente, realizam importantes fóruns de debate com figuras de referência. Os problemas estão, portanto, identificados, repito.  Eu diria que falta agir. Colocar mais um especialista na Escola, neste caso, em Sociologia, equivaleria a fechar, ainda mais, a Escola no seu microcosmos e, porventura, desligá-la da estrutura social. Aceito que deles precisamos para a investigação, para as análises mais finas sobre a pirâmide social regional, sobre as relações económicas e de produção e os factores que condicionam o objecto da escola. Eu diria, não apenas numa perspectiva funcionalista, mas de resposta adequada e sistémica, quando são evidentes os diversos conflitos resultantes sobretudo dos grupos dominantes e as correspondentes e graves desigualdades sociais, económicas e culturais. Tema que tem muito que se lhe diga em função do que já existe publicado em matéria de Sociologia da Educação.
Da Historiadora e Doutorada em Sociologia Maria Filomena Mónica li um texto sobre "Correntes e Controvérsias em Sociologia da Educação, onde, a páginas tantas, salienta: "(...) Para Baudelot e Establet, que vão buscar inspiração aos teóricos marxistas franceses mais recentes como Althusser e Poulantzas, a principal função da escola não é técnica (a transmissão de conhecimentos) mas ideológica (a manutenção do statu quó). Além disso, defendem que, apesar das afirmações em contrário, inclusive por parte de alguns sociólogos da educação eminentes, o que se passa na escola não pode ser visto em termos de "distâncias" e "desvantagens". Só a reintrodução de outros e novos conceitos, entre os quais o de "contradição" e de "luta de classes" permitirá uma real compreensão do fenómeno escolar" (...) "Tal como em Baudelot e Establet, a escola é vista como uma instituição quase perfeita de inculcação ideológica, como um aparelho capaz de exercer a «violência simbólica» sem que se verifiquem resistências por parte dos que a ela são sujeitos". Ora, face a conceitos desta natureza e ao contexto regional, pergunto, o que fariam os sociólogos na Escola? A Sociologia, enquanto ciência humana, que estuda as múltiplas unidades que formam a sociedade, as suas interdependências, a sua(s) cultura(s), salvo melhor opinião, não se coaduna com a proposta do Secretário. Parece-me absolutamente desadequada tal proposta à luz da Escola que se quer e do futuro desempenho profissional. A prioridade não é essa. Aliás, são muitas, desde a reorganização da rede escolar, a cultura organizacional, a formação inicial, complementar e especializada dos professores, a efectiva autonomia administrativa e pedagógica, o adequado financiamento, os problemas resultantes do currículo e dos programas, deles expurgando a "tralha" e, a montante, os problemas da família, da economia (emprego) e da pobreza. Se o Secretário demonstrasse empenhamento nessas áreas de intervenção conjugando-a em parceria com outras pastas do governo, estaria a prestar um bom serviço. Agora, sociólogos na Escola....    
Ilustração: Google Imagens.  

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