Há, no meu entendimento, uma grande perversidade nas palavras ditas e nas frases construídas, mas com um tom assassino. Porque olhamos para este Mundo e todos nós estamos a ver em que resultaram as dinâmicas económicas e financeiras, a subjugação da maioria dos povos às regras de umas trezentas famílias no Universo que determinam, subtil mas com inesgotável inteligência, o que comer, o que vestir, como pensar e em quem votar. O que vemos: países em convulsão, a pobreza a crescer, os suicídios a aumentar nas fábricas, pessoas desesperadas, alastramento do combate armado contra os governos, gente que morre em fuga, novos campos de morte lenta (refugiados) e uma absurda ausência de esperança.
Há muitos anos, aí por volta de 1991/2 muito li do que foi escrito por vários "gurus" da gestão em vários domínios do conhecimento. Estou a lembrar-me, por exemplo, de Charles Handy, Gary Hamel, Peter Senge, Peter Drucker, Michael Porter e Tom Peters, entre muitos outros. Tive de os consultar, por estudo e necessidade de elaboração de trabalhos académicos. Possuo toda a colecção da revista "Executiv Digest", onde por ali passaram centenas de colaborações do mais alto nível de análise sobre a excelência e a construção do futuro. Uma revista que também exigia saber lê-la. Deixo aqui três exemplos de frases emblemáticas que cito de cor: "nada mais certo no futuro que o emprego incerto", ou, então, "a empresa do futuro chamar-se-á Eu, SA", ou então, ainda, "Só os paranóicos sobreviverão". Frases interessantes, motivadoras no despertar de um novo mundo, tendencialmente, global. Frases, porém, também perversas quando contextualizadas, quando se estuda o que elas significam e o que elas escondem por detrás da sua leitura.
Ora, ontem, do ex-Deputado no Parlamento Europeu, Dr. Sérgio Marques (PSD), ouvi a seguinte declaração: "Acho que devemos ter a noção de que o emprego para a vida é uma coisa passada e os jovens têm de ter a consciência desta nova realidade, destas novas condições do funcionamento da economia num espaço global" (...) "Eu às vezes vejo determinados movimentos jovens a almejar aquilo que já é uma irrealidade, a almejar o emprego seguro". Se eu lá estivesse diria ao Dr. Sérgio Marques o mesmo que um dia o Dr. Álvaro Cunhal salientou: "olhe que não, olhe que não!" E olhe que não porque, passados vinte anos, aqueles gurus, na esteira do "Admirável Mundo Novo" escrito, em 1932, por Aldous Huxley, a sociedade por este prevista há quase oitenta anos, transformou-se naquilo que ela própria começa a recusar: uma sociedade coagida psicologicamente a viver em aparente harmonia, mas organizada por castas. Essa harmonia não existe, as castas existem, portanto, o sofrimento aumentou, os desequilíbrios económicos e culturais geraram um colossal fosso entre uns quantos, que tudo dominam, e a esmagadora maioria cada vez mais empurrada para um gueto absolutamente discriminatório. Aldous Huxley tinha razão na especulação que fez relativamente ao futuro.
Este assunto levaria-me a múltiplas considerações, obviamente. Tem muito que se lhe diga. Não é esse o meu objectivo. Porém, que fique claro que os meus olhos e o meu pensamento não se encontram virados para um passado estático, configurado em três tempos: o tempo do estudo, o tempo do trabalho estável e o da reforma. Estas variáveis sofreram naturais e imprescindíveis mutações de conceito. Mas, se é certo que as dinâmicas políticas, sociais, tecnológicas e culturais se encontram em permanente confronto, e ainda bem que assim é, não nos podemos esquecer do outro lado da história. É fácil assumir que "nada mais certo no futuro que o emprego incerto", mas não precisarão as pessoas de garantias de estabilidade, por questões de organização familiar, entre muitas outras, ou será lícito defender "que só os paranóicos sobreviverão"? A empresa do futuro chamar-se-á "Eu, SA", isto é, fazem um convite ao empreendedorismo, à inovação e à criatividade. Aceitemos. E que currículo bancário se torna necessário e quem, na conjuntura actual, tem essa possibilidade?
Há, no meu entendimento, uma grande perversidade nas palavras ditas e nas frases construídas, mas com um tom assassino. Porque olhamos para este Mundo e todos nós estamos a ver em que resultaram as dinâmicas económicas e financeiras, a subjugação da maioria dos povos às regras de umas trezentas famílias no Universo que determinam, subtil mas com inesgotável inteligência, o que comer, o que vestir, como pensar e em quem votar. O que vemos: países em convulsão, a pobreza a crescer, os suicídios a aumentar nas fábricas, pessoas desesperadas, alastramento do combate armado contra os governos, gente que morre em fuga, novos campos de morte lenta (refugiados) e uma absurda ausência de esperança.
Dr. Sérgio Marques, do que precisamos é de uma nova ordem mundial, de políticos-estadistas (que pensem nas gerações futuras), de políticos que saibam estabelecer o ponto e o contraponto, que tenham a consciência que a estabilidade é possível e compaginável com o desenvolvimento e que o fim último do exercício da política é o bem-estar e o óptimo social dos povos. Persistir no erro não me parece o caminho mais correcto, até porque, percebe-se, exactamente, o que pretendem os "chefes" (não líderes) deste Mundo: sacar o máximo e, todos os outros, que se danem!
Ilustração: Google Imagens.
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