Adsense

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

COLIGAÇÃO NEGATIVA OU UMA MINISTRA NEGATIVA?

Não há qualquer coligação negativa, como afirmou o Ministro Augusto Santos Silva, a propósito dos projectos ontem apresentados na Assembleia da República, relativamente à avaliação do desempenho docente. O que existe, lamentavelmente o digo, é um monumental erro da equipa que lidera a Educação no Governo. O problema reside aí. Reside na teimosia, na ausência de bom senso político, na incapacidade que tem existido para negociar, saliento, desde a altura em que o Estatuto da Carreira Docente foi apresentado. A questão da avaliação do desempenho é apenas um capítulo de um longo processo que descurou o diálogo e a concertação dos interesses de todas as partes. Já o afirmei e repito, se o Estatuto está errado a avaliação de desempenho não pode estar certa. Disseram-no, em média, 110.000 educadores e professores. Se eu lá estivesse (na Assembleia da República) naquele momento, apesar do meu vínculo ao PS, de militante e de dirigente durante muitos anos, por respeito às minhas profundas convicções socialistas, por respeito a princípios e valores que estão muito para além do vínculo partidário, por respeito a uma classe profissional determinante no futuro do País, eu teria votado contra o PS nesta matéria. O que não significa, literalmente, votar ao lado do PSD. Significa que é do governo PS que espero uma mudança de atitude na condução deste processo. A mim, o poder, pequeno ou grande, nunca me inebriou. Tenho, desde sempre, como princípio da participação política o serviço à comunidade e nunca a ideia calculista do interesse pessoal. Por isso votaria contra.
Não aceito as três figuras responsáveis por toda esta deplorável situação de conflito, a Ministra e os dois Secretários de Estado, num governo do Partido Socialista, partido de matriz democrática, pela imagem pública que transmitem de falta de conhecimento do que hoje é a Escola e do que há a fazer para tornar essa Escola portadora de futuro. Há um deliberado ataque aos educadores e professores como se eles fossem os culpados da sociedade que temos, da cultura que temos, da pobreza que temos, das escolas que temos, da organização escolar que temos, da formação inicial que temos, da estrutura curricular que temos e dos programas que temos.
O sistema educativo é muito mais que os educadores e professores. Que havia e há necessidade de corrigir muitos processos e comportamentos ao nível da docência, obviamente que sim. Que havia e há necessidade de corrigir actuações menos correctas e desprestigiantes no sentido de possibilitar rigor e qualidade no ensino-aprendizagem, obviamente que sim. É por isso que, no caso da avaliação, por exemplo, não aceito que toda a comunidade educativa não esteja sujeita a uma avaliação. Ela é necessária e importante para o próprio desempenho profissional do docente. Não é aceitável, porém, que a avaliação surja na Escola como elemento perturbador, de conflito interno e apenas com a característica punitiva e não formativa. Não aceito que o aluno deixe de ser o centro da política educativa e que as preocupações se desloquem para a progressão na carreira do profissional de educação. A escola não "vende" produtos mensuráveis ao fim do dia, da semana ou do ano. A missão da Escola é EDUCAR, pelo que as variáveis do processo educativo não são idênticas às do processo empresarial. Neste aspecto, Senhor Ministro Augusto Santos Silva, pessoa que considero, não há aqui uma coligação negativa contra o governo, há sim, no Ministério da Educação, uma equipa negativa contra o próprio governo.
É por isso que, aqui, na Região Autónoma da Madeira, continuo a pugnar por um sistema diferente. O que existe é mau demais e os seus mentores, pelo que não fizeram durante trinta anos, serão um dia julgados nas urnas. E serão julgados no plano da censura social pelo estado a que deixaram chegar a Educação. Os indicadores do analfabetismo, da retenção, do insucesso, do abandono e da qualificação profissional não deixam margem para dúvidas. Viveram num permanente folclore, de visitas a escolas, de entrega de prémios por isto e por aquilo, de muita propaganda e de poucos resultados. Vamos pagar muito caro o atraso que temos em matéria de Educação que é muito mais do escolarizar os jovens.

9 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Professor,Senhor Deputado

Permita que subscreva a sua reflexão e que aceite o meu aplauso pela verticalidade exposta.
A teimosia,do trio ministerial, configura um mau serviço,não só ao Governo do Partido Socialista,como aos Princípios e Valores do Socialismo e da própria Democracia.
Há quem,legitimamente,avente as hipóteses de, a actual equipa ministerial, ser constituída por "toupeiras" ou por burocratas.
Em qualquer dos casos,muito mal andarão as estruturas organizacionais e doutrinárias do Partido.
No segundo caso,a imagem que transparece, para além da ditarorial,é a que decorre do aforismo que afirma ser a Burocracia a mãe da Incompetência.
A manta(esburacada) da maioria absoluta(tanto lá,como cá)não consegue esconder essa lamentável realidade.
Cordialmente,cumprimento-o.

Anónimo disse...

Não me vou atrever porque sei os limites. Os meus.
Não vou contradizê-lo, em algumas das passagens deste seu escrito, porque sei das convicções. Das suas;
Não há volta a dar. Em termos das soluções que preconiza e dos caminhos de governação a seguir para este sector, é um impasse, há-de convir. Caímos sempre na teorização das coisas e na forma ideal de as fazer sem nunca as concretizar verdadeiramente. Um drama. Um impasse tão característico da dita “esquerda” não Socrática - direi eu. Uma esquerda mais alcandorada nos desígnios do poeta Alegre. Alegre não aprendeu com a idade nem com a experiência de vida: representa o idealismo e o romantismo. Ora o mundo não gira alavancado nessas diatribes de alma. Sabeis! Já Eça de Queiroz e Anthero de Quental se renderam ao realismo. Há que acordar desses sonos entorpecedores! Vá lá!
Sr. Professor, já reparou que tirando os oportunistas do PSD e da restante oposição minúscula, a vossa “malfadada” causa (contra o processo de avaliação dos professores) tem apenas 140.000 apoiantes: os próprios senhores professores!!?...
….Sim, senhor professor, tenha paciência, mas a vossa causa esgota-se em vós próprios!
PLUTARCO, famoso filósofo e moralista grego, já dizia que se deveria ouvir as verdades da boca dos “amigos verdadeiros” ou dos “inimigos ardentes”. Nesta esteira, não serei vosso inimigo mas arreigadamente da vossa causa! E ainda bem, já que da vossa plêiade de amigos verdadeiros todos (vós) assistis ao “filme” de um ângulo impróprio e não escutam ninguém. Acho na verdade que estareis cegos.
Vede: a massificação do ensino levou a que o próprio sistema chamasse a si “cão e gato” para assegurar as necessidades gulosas da sua expansão. E isso foi terrível: descurou-se a vocação e arregimentou-se sem cuidados meros trabalhadores de jorna. Foi o caos.
Concedo, não tenho de resto dúvidas nenhumas disso, de que o senhor professor bem como alguns (poucos) milhares de colegas seus, estarão a salvo das invectivas que o resto da sociedade lhes dirige neste momento, todavia era bom que começassem a desenvolver um crescente convencimento de que o padrão tipo dos senhores professores de hoje em dia não foi talhado no vosso modelo de virtudes, pelo contrário; os nossos filhos estão hoje entregues aos cuidados desapaixonados de jovens imberbes que necessitam eles próprios de voltar aos bancos instrutórios da escola e ás educadoras casas paternas, onde, filhos e pais, deveriam rogar em conjunto por um qualquer acto de salvação.
Necessitamos pois e com a maior urgência de separar o trigo do joio, instituindo, desapiedadamente, um sistema genuíno de avaliação, ainda que à partida portador de muitos defeitos mas naturalmente a ser objecto de aperfeiçoamento.
Viva a avaliação dos senhores professores! VIVA!!
Cumprimenta-o,
Vico D´Aubignac

Anónimo disse...

Senhor Vico D`Aubignac

O Senhor está redondamente enganado!
Milhares de famílias estão preocupadas com o que se está a fazer aos professores.
Professores que, humilhados e ofendidos,estão cada vez mais desmotivados a,com alegria, levar a bom termo a sua nobre missão: a de educar,complementarmente,os nossos filhos.
Fartos de serem tratados como carne para canhão,pelos bem instalados na esfera do Poder;fartos da ingratidão dos que, deles,receberam as "luzes" para não serem bem piores do que são;fartos do muito que se lhes exige,em troca dos exíguos apoios no cumprimento da sua missão;fartos da surdez, dos governantes, às sugestões provenientes de uma prática continuada.
Haverá,por certo,deficiências.
Exclusivas dos docentes?!
Pois é...não convém aprofundar a questão!
Não convém reflectir e corrigir todo um universo que condiciona o processo educativo...
É mais fácil matar o mensageiro, já que o autor da mensagem é "inimputável". Não será assim?!
É espantoso o descaramento de quem tanto exige, sem,de si,proporcionar o máximo das suas capacidades e exemplos.
Esquece-se de um pequeno pormenor:
Que os professores,de facto,sempre foram, e são,auto-didactas no seu mister;
que são iniciados na sua actividade como quem, nunca tendo sido ensinado a nadar,é lançado para o mar e se lhe exige que, de imediato,vença e ganhe a travessia.
Dá que pensar, não dá?!
O Autor do blog, nas suas reflexões,não tem dito tudo isto e mais alguma coisa?!
Basta ler...com atenção.

Anónimo disse...

Senhor Professor,
Não venho tomar mais o seu tempo. Serve o presente apenas para lhe agradecer. De todas as vezes que tento expôr a minha visão sobre a temática da avaliação dos professores, inclusivé no seio familiar - que por cá também habita essa “espécie” tão melindrada – sinto-me um gaulês sentenciado: o céu cai-me mesmo em cima da cabeça!
O senhor professor foi pois, nesta qualidade, o único que até hoje aceitou ouvir-me até ao fim; os demais fulminam-me com olhares injectados de cólera. É um aborrecimento quando as coisas se radicalizam! Bem-haja a tolerância!
Em relação aos comentários aqui produzidos sobre o meu texto, nada mais tenho a acrescentar aos seus autores – que presumo sejam professores - para além de lhes chamar a atenção para a lateralidade dos seus argumentos em relação à questão de fundo que me angustia.
Cumprimentos a todos.
Vico D´Aubignac

Anónimo disse...

Senhor Vico D`Aubignac

Não me parece justa a acusação de intolerância,atribuída aos comentadores que apresentam argumentos enfocando a questão da avaliação dos professores,que colidam com uma visão redutora e imediatista do problema, como é a que defende o ilustre acusador.
Como sabe, lá diz o velho ditado, que, "Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele"!
Como começou por dizer,julgando conhecer os seus limites, atreveu-se!!!
Permita-me que lhe diga:
Às consequências, do atrevimento,não lhe fica bem a vitimização,transmutando aquela pele na de imolado cordeiro.
Ao afirmar, o que afirmou,
("Necessitamos pois e com a maior urgência de separar o trigo do joio,instituindo,desapiedadamente,
um sistema genuíno de avaliação,ainda que à partida portador de muitos defeitos mas naturalmente a ser objecto de aperfeiçoamento.
Viva a avaliação dos senhores professores!VIVA!")
assume-se como detentor de toda uma verdade e de uma inquestionável razão!
Parece ser certo,que a intolerância,quando confrontada, é a primeira a fazer lancinantes apelos...à tolerância.
A "angustiada" equipa ministerial não faria melhor,nem teria maior, e melhor, apoio que aquele que V.Exa. lhe oferece.
Dando de barato a ofensa que, levianamente,se permite fazer aos "cães e gatos, meros trabalhadores de jorna",necessários à inevitável, imperiosa e desejável massificação do Ensino, é legítimo perguntar-se:
Que fez o Estado, isto é, os sucessivos governos(do "centro" e da "esquerda socrática",note-se bem),ao longo de trinta anos, para corrigir e dotar a Educação, dos meios,humanos e materiais,que merece?!
A solução preconizada, por si e pelo Ministério,é a de,desapiedadamente, lançar ao abandono os "animaizinhos" que,mais crescidos,fazem mossa na gamela orçamental dos donos da quinta?!
A ingratidão e a hipocrisia, são coisas muito feias.
Mas, não ligue. O Vilhão(ou será Vilão)sem princípios, sou eu.

Anónimo disse...

Caro "Vilhão",

Passe lá por casa para tomarmos um café e discutir o tema....

Anónimo disse...

Senhor Vico D`Aubignac
Obrigado pelo convite, mas não conheço nenhum sítio que tenha só uma casa...Defeito meu.
Ou será que estabeleceu alguma confusão entre Burro e Bruxo?!
Tenho visto muitas saídas à Francesa, mas esta é bem original!

André Escórcio disse...

Caríssimos Amigos (sejam quem forem)... para além do humor e de alguma pimenta, passemos ao que interessa, isto é, à discussão dos problemas do sistema educativo. É nesse campo, no espaço da "festa" das ideias que nos devemos situar. Eu sei, pelo que tenho lido, que é possível a avaliar pelos comentários. É que eu não sendo portador de qualquer verdade absoluta, estou também interessado em aprender.
Um abraço.

Anónimo disse...

Senhor Professor
Tem toda a razão. Pelo entusiasmo,eventualmente excessivo,posto na "refrega"que pretendi esclarecedora dos pontos de vista dos não directamente implicados no diferendo, Professores/ME,peço desculpa.
No entanto,creio que a Educação de um Povo ultrapassa os muros da Escola e, nesse sentido,comtemporizar com afirmações,polémicas em si mesmas,é conceder razão aos que abusam do poder.
Bom seria que a discussão generalizada, em vez de endeusar e versar,questões menores, como,por exemplo,a efémera e semanal diatribe futebolística,se consubstanciasse na procura de soluções para os graves problemas que nos afligem.
Sou dos que,num País,não abundante em recursos materiais, continuam a apostar no mais valioso recurso natural que importa preservar, acarinhar e desenvolver: a Inteligência e a Capacidade da sua população.
A alienação desta realidade é um crime de alta traição, a que, a História,não subtrairá os sucessivos governantes.
E,não é com mercurocromo, que se curam infecções.
Muito menos com o "veneno" que a tríade ministerial,leviana e teimosamente, injecta em quem, contra ventos e marés,se esforça por acostar a bom porto.
E mais não digo.