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terça-feira, 29 de setembro de 2009

A DESUMANIZAÇÃO DO MUNDO LABORAL

Atente-se nesta notícia:
"Um trabalhador da France Telecom, de 51 anos e pai de dois filhos, cometeu suicídio ontem, elevando para 24 o número de funcionários da empresa de telecomunicações que nos últimos 18 meses acabaram com a própria vida. Numa carta deixada à família descrevia o seu sofrimento "motivado pelo contexto profissional". A esposa explicou às autoridades judiciais que o marido estava com uma depressão há vários meses. Desde Fevereiro do ano passado que os casos de suicídio assolam a France Telecom, onde o Estado francês tem uma participação de 27 por cento. Os sindicatos já pediram mais protecção aos cem mil trabalhadores que, à custa das reestruturações provocadas pela privatização, são obrigados a mudar de local de trabalho, de chefias ou área".
Há muito que me preocupo com a crescente desumanização do mundo laboral. A luta dos trabalhadores de Chicago, em Maio de 1886 (80 operários foram assassinados no massacre de Chicago) que, mais tarde, veio culminar na divisão do dia em três partes, oito horas de trabalho, oito de repouso e oito de lazer, sorrateiramente, quase sigilosamente, sem grandes alaridos, está em permanente destruição do conceito pelo qual muitos perderam a vida na luta pelos direitos. Dir-se-á que a inteligência capitalista perdeu um combate mas, pacientemente, contornou a situação. Deu-lhe a volta. Multiplicou os bens de consumo, criou expectativas, desenvolveu a ideia do ter antes do ser, colocou tudo frente aos olhos das pessoas e elas, alegremente, deixaram-se ir, acreditaram e foram aplaudindo ao mesmo tempo que eram expropriadas dos seus mais legítimos direitos. E veio o código de trabalho, a pressão diária, o não pagamento das horas extraordinárias, os contratos a prazo, a "prateleira", as baixas remunerações e a louca correria pela produção. As crianças que tinham tempo para serem crianças passaram a ficar nessa inconcebível escola a tempo inteiro, "armazenadas", distante dos pais e dos avós, eles, agora sem tempo para viver e educar, porque é preciso juntar os magros salários para sobreviver. Destruíram o conceito de família. Hoje, morre-se devagar, aos poucos, de uma forma diferente, de angústia e de depressão.
Diz-nos Rosemary Quintas, professora brasileira: "O retrocesso vivido nestes primórdios do século XXI remete-nos diretamente aos piores momentos dos primórdios do Modo de Produção Capitalista, quando ainda eram comuns práticas ainda mais selvagens. Não apenas se buscava a extração da mais-valia, através de baixos salários, mas até mesmo a saúde física e mental dos trabalhadores estava comprometida por jornadas que se estendiam até 17 horas diárias, prática comum nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX. Férias, descanso semanal e aposentadoria não existiam. Para se protegerem em momentos difíceis, os trabalhadores inventavam vários tipos de organização – como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos".
Este novo tempo, embora embrulhado em colorido papel de celofane, está de volta, silenciosamente, de forma adaptada mas mortífera. Basta ler a notícia que deu origem a este comentário onde o próprio Estado françês tem uma participação de 27% do capital. França que proclamou: "Liberté, Egalité, Fraternité". Que dirá Nicolas Sarkosy? A sua ex-mulher considera-o uma enorme “peça de decoração do Ocidente por trás da qual não há nada”.

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