Vele a pena ler o trabalho da jornalista Rosário Martins na edição de hoje do DN. As declarações do Pároco Bernardino Andrade, serenas, acutilantes e angustiantes, clarifica o que se esconde nesta dita "Madeira Nova". Confesso que me comovi com algumas passagens do texto, dada a dureza e profundidade das palavras ditas. Aqui fica um excerto na convicção que é tempo de dizer BASTA a um governo regional que pouco ralado se apresenta face à dimensão do problema social que temos entre mãos.
"(...) A Tabua tem fama de ser uma freguesia pequena em tamanho mas até é muito comprida e com grandes problemas sociais. Um deles é a pobreza envergonhada ou disfarçada que se vem notando cada vez mais. Antes, o pobre era facilmente identificado porque vinha de saco às costas, bordão na mão e a pedir esmola. O pobre de hoje conduz um carro e vive na maior angústia, até mesmo sem ter o que comer", retrata o padre. Um drama que lhe tem sido levado ao conhecimento, vivendo depois atormentado com a dor dos paroquianos. "Há dias, uma senhora com uma farda e a conduzir um carro disse-me com as lágrimas nos olhos que teve de desligar o frigorífico porque não tinha nada para meter lá dentro." O desemprego é outro problema que se acentua no mapa social da Tabua. Contudo, sem resolução no imediato. "Abrimos o Lar da Tabua e logo surgiu uma 'montanha' de pessoas a pedir trabalho, não para melhorar a vida mas para sobreviver".
Enquanto isto acontece o Presidente da Junta de Freguesia da Tabua apenas diz que está preocupado com os coelhos que têm andado pelas zonas agrícolas... santa ignorância de um homem com 60 anos consecutivos na presidência da Junta de Freguesia!
Mas a propósito de pobreza, ontem fiquei estupefacto com o relatório da Provedoria da Justiça que apontou significativas insuficiências na organização e funcionamento dos lares da Região. De imediato veio o Secretário dos Assuntos Sociais dizer que "(...) a identificação das falhas foi muito importante para nós trabalharmos no sentido de serem resolvidas". Pergunta-se, então, o que faz a Secretaria e toda a sua complexa estrutura humana de suporte? Então não sabiam do que se passa ao nível da assistência médica e até de ausência de planos de segurança? É evidente que conhecem a realidade. O problema é outro, é político e de sensibilidade para resolver os problemas dos mais necessitados, muitos deles que apenas têm o ar que ainda respiram.
3 comentários:
"Há dias, uma senhora com uma farda e a conduzir um carro disse-me com as lágrimas nos olhos que teve de desligar o frigorífico porque não tinha nada para meter lá dentro."
- Padre da Tabua citado pelo "Com que Então".
Se o objectivo era o de gerar comiseração, a mim não o conseguiu.
Então a senhora é proprietária de uma viatura e não tem o que comer?!!?!?!
....Não, há aqui qualquer coisa que não bate certo!...
A Madeira actual tem também destes casos surrealistas... Todavia, estes, não me causam impressão.
Provavelmente a senhora tinha um rendimento do agregrado familiar que lhe aconselhava o desvelo de nunca se meter em "altas paradas" (i.e. comprar um carro); porque o fez? Agora aguente-se! Prefere dar de comer ao carro do que ao frigorífico!....
Triste gente!
Não tenho pena!!
Vico D´Aubignac
Atenção, meu Caro, o Pároco falou de "uma senhora com uma farda e a conduzir um carro". Pode ser uma empregada, uma funcionária de qualquer organismo. E sabe-se que hoje há muita gente que trabalha e é pobre. É um paradoxo mas é verdade. Que há muita gente que também não estabelece prioridades na vida, é verdade que sim. Mas que há novos pobres não podemos ignorar... E neste quadro temos todos que estar atentos porque a pobreza não é nem pode ser uma fatalidade.
Sim tem razão.
Todavia, acredito que haja epopeias como a relatada, desta feita com viatura registada em nome próprio.
V d`A
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