Os resultados dos exames ditam, cada vez mais, na esteira da palavra do Filósofo Henry Bergson (1859/1941), que o sistema educativo precisa de alguém que saiba "agir como Homem de pensamento e pensar como Homem de acção". O erro, portanto, penso que está aí, na incapacidade de reflectir o sistema para que ele produza resultados.
O Secretário da Educação pareceu-me a léguas do problema ou, então, tentou sacudir as responsabilidades, quando ontem abordou a questão dos maus resultados dos estudantes madeirenses nos exames nacionais do ensino básico. É que a questão não se esgota, apenas, na necessidade de mais trabalho por parte dos alunos e das suas famílias. O problema é muito mais vasto, é complexo e tem a ver com a organização de todo o sistema. Circunscrever a questão à necessidade de mais trabalho é ignorar um largo conjunto de factores que condicionam o sucesso dos alunos. Trabalhar muito em qualquer sector de actividade não significa, só por si, produzir muito.
O Secretário não olhou e nega-se a olhar para a organização social, para a centralização e para a padronização que estão a matar a escola, para os níveis de pobreza, para a burocracia que tomou conta da escola, nega-se a olhar para tanta tralha que meteram e continuam a meter na escola, não consegue ver que a gente que o rodeia, nas direcções regionais e nos diversos serviços, "produzem", não no sentido do êxito e da qualidade do ensino, mas no sentido daquilo que a escola não precisa ou pode dispensar. Gente que por aí anda a infernizar a escola, com montes de iniciativas que não servem para nada, gente refugiada em gabinetes, de conhecimento e experiência reduzidas, motivada por meia-dúzia de teorias lidas, apressadamente, e que tenta fazer da escola local das suas próprias experiências.
Ora, o Secretário ao dizer que todos têm de trabalhar mais está, inclusive, a tentar puxar as orelhas aos docentes e aos conselhos executivos quando ele, enquanto membro do governo, é o principal culpado da situação. A Escola é hoje (sempre foi) o espelho do próprio sistema político. Talvez, por isso, não se oiça da sua boca uma palavra para o trabalho social, compaginado com a segurança social, que urge ao nível das famílias, quando se sabe que uma estrutura familiar débil e inculta não pode pensar numa educação a vinte anos. Nos Açores, ao contrário da Madeira, o governo investe, do seu próprio orçamento, 23 milhões de euros anuais para acudir aos sinais de pobreza, obviamente, com a exigência de contrapartidas. Aqui, nem um cêntimo sai do orçamento regional, apesar de um conjunto de propostas feitas nesse sentido. Mas há dinheiro para as megalomanias, para os estádios da estupidificação.
O Secretário deveria preocupar-se com a mudança de paradigma, mas não, continua a repetir o erro, pelo que, quem o repete, só pode esperar amanhã os mesmos resultados de hoje. Porque não ouve os investigadores, não escuta os parceiros sociais, foge ao debate dos problemas na Assembleia Legislativa, apenas cumpre o seu horário de serviço público e político. Nada mais. Pensar a escola em uma atitude próxima de Séneca (4 aC), "mais do que saber o que foi feito, melhor será apurar o que fazer", síntese que constituiria, certamente, uma oportunidade para, paulatinamente, mudar o sistema no sentido da excelência.
Os resultados dos exames (ainda não são conhecidos todos os elementos para uma análise mais fina) ditam, cada vez mais, na esteira da palavra de Henry Bergson que o sistema educativo precisa de alguém que saiba "agir como Homem de pensamento e pensar como Homem de acção". O erro, portanto, penso que está aí, na incapacidade de reflectir o sistema para que ele produza resultados.
Ilustração: Google Imagens.
1 comentário:
Olá!
Leiam artigo objetivo e isento de sensacionalismo sobre o caso Bruno. Se gostar divulgue e comente:
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