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quarta-feira, 14 de julho de 2010

UM POLÍTICO NÃO PODE PERDER A CABEÇA


Não esperava, pelo menos este, o Dr. Ventura Garcês descesse a um patamar discursivo que qualquer político deve repudiar. Mas esta é a tecla normal de um Partido que entende que a verdade é só uma e apenas está de um dos lados. Os outros não têm direito a outras verdades.


Desagradou-me, ontem, a forma como o Secretário Regional das Finanças se dirigiu ao Deputado Dr. Carlos Pereira. Foi extremamente infeliz para não dizer outra coisa. Só se reage daquela maneira quando faltam os argumentos políticos e se está de cabeça perdida. Não há outra justificação.
Eu assisti à forma enérgica e politicamente cirúrgica como o Deputado da bancada socialista equacionou as questões do orçamento rectificativo, desmontando-o peça a peça e atribuindo as responsabilidades a quem entendeu atribuir. E até teve o cuidado de não beliscar a capacidade técnica do governante. Há quem não saiba diferenciar a construção técnica do Orçamento com a sua construção política que subjaz. A resposta, no entanto, veio célere e, infelizmente, grosseira e maldosa. Uma coisa é contra atacar com argumentos, outra é entrar em domínios que apenas classifica quem produz as atoardas. Assim, o Parlamento não se credibiliza. Já bastam os problemas que por lá andam, ainda por cima, quando de junta a parte dos governantes, convenhamis que tais exemplos não ajudam. Não esperava, pelo menos este, o Dr. Ventura Garcês, descesse a um patamar discursivo que qualquer político deve repudiar. Mas esta é a tecla normal de um Partido que entende que a verdade é só uma e apenas está de um dos lados. Os outros não têm direito à outras verdades.
Mas essa é a rotina que está instalada na Assembleia. Talvez, nos últimos tempos, se note um pouco menos, porque a Assembleia reúne menos vezes e o tempo entre uma sessão e outra dir-se-á que dá para distender e, portanto, a agressividade tende a esbater-se. Mas, atenção, se não é no Parlamento é na escrita. Há dias, um Deputado da maioria, que de lado nenhum me conhece, entendeu escrever que eu era "arrogante". Bom, o julgador por si se julga, diz a sabedoria popular. E aquela caracterização, porquê? Apenas porque, em matéria educativa, defendo pontos de vista que a maioria não aceita. Como colide com a posição maioritária, zás, é arrogante! Não se tenta perceber se existe ali alguma consistência técnica e científica, não se tenta descobrir até onde é possível implementar um novo paradigma educativo, não, fulano é arrogante e ponto final. Ora, na posição que ocupo, onde muita coisa me cai no prato sem eu querer, vá lá eu caracterizar e utilizar tudo o que me dizem relativamente a certas pessoas!
Em uma Assembleia Legislativa, seja ela qual for, a palavra, o entusiasmo, o fervor, a acutilância, o sentido de humor, por vezes corrosivo mas elegante, é absolutamente defensável. Mas há um limite a partir do qual, sem qualquer intenção moralista da minha parte, deve ser frenado e respeitado. Porque no debate não vale tudo, mesmo que o entusiasmo entre no vermelho.
Ilustração: Google Imagens.

1 comentário:

António Trancoso disse...

Caro André Escórcio
Confesso que tenho alguma dificuldade em perceber a sua admiração!
Um eleitorado,maioritariamente,bronco...só pode gerar uma maioria parlamentar...