Jesus quando começou a sua intervenção original na sociedade teve três tentações: a tentação do poder político, a tentação do poder económico, e a tentação do espectáculo religioso. Jesus negou isso tudo. (...) Encostada ao poder, abraçada ao poder, a Igreja depois será julgada também como poder. E quando o poder político abraça muito a Igreja, sufoca-a.
A entrevista da TSF, assinada por Nicolau Fernandez e Raquel Gonçalves, publicada na edição de hoje do DN, escorreu-me na garganta como mel. É uma entrevista sincera e, embora limitada no espaço, aflora assuntos de relevante importância. Pergunta o jornalista, a páginas tantas, a Frei Bento Rodrigues: "A Igreja precisa de um Vaticano III? "O mundo mudou muito desde os anos 60. Só que também foram nomeados bispos que desejam pouco a renovação. Acho que a mudança devia ser preparada ao nível de base, nas comunidades, nas paróquias, nos movimentos". Isso seria inverter toda a lógica, retorquiu o jornalista... "Seria, mas era uma boa lógica, era uma lógica Eclesial. A Igreja somos nós todos. Os bispos são aqueles que orientam, mas a Igreja é feita de todos. O Vaticano II tem tantas virtualidades que ainda não foram acolhidas. O necessário era encontrar formas e desafios globais e locais para praticar o Vaticano II. É necessário que algo aconteça porque há um nó de problemas que ficou rígido e que neste momento é necessário desatar".
A Igreja então, nesta matéria, não tem bom senso?
A entrevista da TSF, assinada por Nicolau Fernandez e Raquel Gonçalves, publicada na edição de hoje do DN, escorreu-me na garganta como mel. É uma entrevista sincera e, embora limitada no espaço, aflora assuntos de relevante importância. Pergunta o jornalista, a páginas tantas, a Frei Bento Rodrigues: "A Igreja precisa de um Vaticano III? "O mundo mudou muito desde os anos 60. Só que também foram nomeados bispos que desejam pouco a renovação. Acho que a mudança devia ser preparada ao nível de base, nas comunidades, nas paróquias, nos movimentos". Isso seria inverter toda a lógica, retorquiu o jornalista... "Seria, mas era uma boa lógica, era uma lógica Eclesial. A Igreja somos nós todos. Os bispos são aqueles que orientam, mas a Igreja é feita de todos. O Vaticano II tem tantas virtualidades que ainda não foram acolhidas. O necessário era encontrar formas e desafios globais e locais para praticar o Vaticano II. É necessário que algo aconteça porque há um nó de problemas que ficou rígido e que neste momento é necessário desatar".
A Igreja então, nesta matéria, não tem bom senso?
"Não, não tem. A questão é a seguinte e, para mim, é claro como a água: o que espanta no Novo Testamento foi a revolução feminista feita por Jesus. Se lermos as narrativas do Evangelho, vemos que até o Cristianismo tinha acabado se não fossem as mulheres. Na ressurreição, Jesus revela-se às mulheres em primeiro lugar, e encarrega-as de ir dizer aos irmãos: a luta continua, tudo para a rua. A tal ponto que Maria Madalena, nos Dominicanos, é dita a mãe dos pregadores, porque ela é que foi revelar aos outros que Cristo estava vivo. Além disso, foram as mulheres que começaram por financiar o projecto de Jesus e, a seguir, foram as únicas que aguentaram o processo de Jesus na Cruz. Os homens pisgaram-se, cada um foi à sua vida. Acharam que não era de confiança alguém que se proclamava filho de Deus e que nem foi livrado da cruz. Houve mulheres extraordinárias ao longo da história da Igreja, mas o poder foi açambarcado pelos homens, os mesmos que pensam que é bom que varram as igrejas, que ponham flores nos altares, mas mais do que isso não dá".
Tem um livro que aborda a religião e a política. Aqui na Madeira critica-se o facto da Igreja estar muito ligada ao poder, o mesmo poder que muitas vezes afasta os padres que são da oposição. Conhece esta situação? Já me falaram dela e acho uma coisa miserável. Por uma razão simples: os padres podem meter-se na política como cidadãos. Mas não podem servir-se do facto de serem padres para manipular. E depois também não se devem deixar manipular pelo poder político. A meu ver, há que respeitar a vocação de cada um, mas seja partidário, seja governo, seja o que for, a Igreja nunca deve deixar-se dominar pelo poder político. Digo isto por uma razão simples: Jesus quando começou a sua intervenção original na sociedade teve três tentações: a tentação do poder político, a tentação do poder económico, e a tentação do espectáculo religioso. Jesus negou isso tudo. Não sou nada contra os políticos. Meu Deus, é uma das missões mais importantes na sociedade. Mas os serviços da Igreja devem ser aqueles que alertam para a voz dos sem voz, para o poder dos sem poder, para as necessidades de todos. Encostada ao poder, abraçada ao poder, a Igreja depois será julgada também como poder. E quando o poder político abraça muito a Igreja, sufoca-a.
Acha mal um padre ou um bispo ir a uma inauguração? Eu acho que era melhor não. Por uma razão simples, muitas vezes há coisas e há inaugurações que são fruto de uma política errada e muitas vezes opressiva e exploradora, e então o padre vai abençoar. Meu Deus, não! Há mais que fazer".
Tem um livro que aborda a religião e a política. Aqui na Madeira critica-se o facto da Igreja estar muito ligada ao poder, o mesmo poder que muitas vezes afasta os padres que são da oposição. Conhece esta situação? Já me falaram dela e acho uma coisa miserável. Por uma razão simples: os padres podem meter-se na política como cidadãos. Mas não podem servir-se do facto de serem padres para manipular. E depois também não se devem deixar manipular pelo poder político. A meu ver, há que respeitar a vocação de cada um, mas seja partidário, seja governo, seja o que for, a Igreja nunca deve deixar-se dominar pelo poder político. Digo isto por uma razão simples: Jesus quando começou a sua intervenção original na sociedade teve três tentações: a tentação do poder político, a tentação do poder económico, e a tentação do espectáculo religioso. Jesus negou isso tudo. Não sou nada contra os políticos. Meu Deus, é uma das missões mais importantes na sociedade. Mas os serviços da Igreja devem ser aqueles que alertam para a voz dos sem voz, para o poder dos sem poder, para as necessidades de todos. Encostada ao poder, abraçada ao poder, a Igreja depois será julgada também como poder. E quando o poder político abraça muito a Igreja, sufoca-a.
Acha mal um padre ou um bispo ir a uma inauguração? Eu acho que era melhor não. Por uma razão simples, muitas vezes há coisas e há inaugurações que são fruto de uma política errada e muitas vezes opressiva e exploradora, e então o padre vai abençoar. Meu Deus, não! Há mais que fazer".
Ilustração: Google Imagens.
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