A propósito da memória: "(...) os próprios responsáveis educativos acham que a forma é mais importante que o conteúdo, que a rapidez é mais importante que a reflexão e o endeusamento da tecnologia faz-se pelo lado do consumo e não a inventá-la e a estudá-la (...)".
Acabei de ler uma excelente entrevista de um Sociólogo que muito admiro: António Barreto. Fala de vários aspectos, mas, particularmente, dediquei atenção às questões relacionadas com o ensino. Identifico-me, completamente, com as suas palavras. Aliás, não posso dizer que esta entrevista traga algo de novo, pois aquele conjunto de pensamentos é partilhado por muitos especialistas em educação. Só que sabe bem ouvir mais um a consolidar uma estrutura de pensamento, quando olho para a Assembleia Legislativa da Madeira e, por maior que seja o esforço de transmitir uma mensagem que ajude a transformar o actual sistema educativo, o que se encontra de resposta é o mais completo vazio conceptual por parte da maioria. E assim tudo continua na mesma, de sessão em sessão, repetidamente, tal como um relógio que toca, mecanicamente, sem saber porquê. É o que temos, embora, mantenha a esperança da concretização da sabedoria popular: "não há bem que sempre dure nem mal que ature".
Regresso ao Dr. António Barreto para deixar aqui algumas frases e conceitos, contextualizados, que deveriam constituir motivo de reflexão para muitos que por aí andam, sobretudo os políticos com responsabilidades governativas.
E a aplicação destes conceitos, fica desde já muito claro, que NÃO DEPENDEM DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
"(...) Os desfavorecidos estão mais indefesos". Isto significa que o êxito do sistema educativo depende do que se fizer a montante do sistema, através de políticas de família e de emprego. Não há volta a dar neste aspecto: "(...) as classes mais altas podem defender-se com explicações, com professores privados e com o acesso aos meios culturais (...)". E quando lhe perguntaram se o nível da qualidade do ensino baixou, respondeu: "(...) há quem diga que é mais importante saber ler um horário de um caminho-de-ferro do que um livro de um filósofo... houve um rebaixamento de critérios morais, científicos e técnicos (...)". Foi a democratização que desencadeou o facilitismo, pergunta o jornalista: "(...) eu não quero que a democratização seja a principal responsável por tudo, que não é. Mas se não existem uma estratégia e uma orientação bem definidas sobre a maneira como a democratização se vai fazer, ela acaba por ser responsável pela pulverização de critérios e até de influências. Há também um conjunto de influências científicas e técnicas que começou nos Estados Unidos - as ideias de que o ensino é prazer, de que a educação é facilidade, que não deve haver ensino, mas deve haver aprendizagem (...) é sinal de uma má evolução da educação e da cultura pensar-se que um computador e a internet substituem a leitura de um livro, ou que se aprende música através de um iPod e não a estudar. As artes deveriam fazer parte do currículo tal como a Física, a Química, a Matemática ou o Português (...). Portugal vai à frente no que é circum-escolar, nas áreas de projecto e área escola...(...)". Vai à frente na tralha como já alguém bem caracterizou, saliento eu! Mais adiante o jornalista questiona se o ensino está desumanizado e se no futuro os cidadãos serão menos solidários: "(...) menos solidários pode depender de outras coisas, mas menos humanistas de certeza absoluta. E menos conhecedores do património da Humanidade (...)". A propósito da memória: "(...) os próprios responsáveis educativos acham que a forma é mais importante que o conteúdo, que a rapidez é mais importante que a reflexão e o endeusamento da tecnologia faz-se pelo lado do consumo e não a inventá-la e a estudá-la (...)".
Notas:
1. Revista Visão de 17/23 de Junho de 2010.
2. Ilustração: Google Imagens.
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