Aos problemas de gestão e administração da escola, os de natureza burocrática e os de natureza pedagógica, juntar os da organização dos jovens, passou a constituir não uma oportunidade para educar mas uma ameaça. Esta constitui uma outra perversão do sistema educativo que não tem sabido potenciar a força interna da escola, que está nos jovens, para neutralizar as fraquezas da própria escola.

Ora, isto gera o desinteresse e o abandono. É sintomático que não existe uma cultura no sentido da integração e da participação voluntárias, onde os professores surjam, por um lado, como catalizadores das iniciativas e, por outro, como agentes de supervisão em função da sua experiência de vida. Dir-se-á que falta uma atitude cultural de confiança, pelo que subsiste a ideia que os jovens não são capazes e, até certo ponto, irresponsáveis para tomarem nas suas mãos o poder de iniciativa.
É evidente que esta mentalidade mata o sentido de participação, quando um dos princípios do desenvolvimento é precisamente o da participação: ou as pessoas participam ou os processos morrem. Este quadro tende a agravar-se, desde logo, por duas razões essenciais: primeiro, devido a uma cultura centralizadora do poder instituído que gosta de saber quem lidera e a que força política pertence. Começa aí a castração da capacidade de intervenção livre. É a divisão da escola entre bons e maus, entre os da cor dominante e os outros; segundo, em consequência, porque se torna mais fácil controlar as iniciativas quando as rédeas se encontram nas mãos do poder institucional.

Há uma escola em Portugal, a Escola da Ponte, onde, sobre os valores matriciais do projecto educativo, se destaca: “Como cada ser humano é único e irrepetível, a experiência de escolarização e o trajecto de desenvolvimento de cada aluno são também únicos e irrepetíveis. O aluno, como ser em permanente desenvolvimento, deve ver valorizado na construção da sua identidade pessoal, assente nos valores de iniciativa, criatividade e responsabilidade”.
O próprio projecto educativo da escola deveria, desde modo, contar com a participação dos jovens, uma vez que a eles se dirige. É assim que é feito em sistemas educativos sérios e com resultados. Só que isso implica, também, estabelecimentos com menos alunos e docentes habilitados com uma formação adequada para estruturarem e potenciarem, desde o 1º ciclo, as dinâmicas de uma juventude com sentido democrático, participativa e integrada.
Só que, infelizmente, não podemos ignorar a coexistência de uma atitude de alguma desconfiança por parte das direcções executivas. Aos problemas de gestão e administração da escola, os de natureza burocrática e os de natureza pedagógica, juntar os da organização dos jovens, passou a constituir não uma oportunidade para educar mas uma ameaça. Esta constitui uma outra perversão do sistema educativo que não tem sabido potenciar a força interna da escola, que está nos jovens, para neutralizar as fraquezas da própria escola. O sistema tem andado distraído relativamente a esta matéria, todavia, creio, intencionalmente. Um exemplo: fala-se da indisciplina que grassa nas escolas. Pois bem, há estabelecimentos de ensino cujo regulamento interno, o enunciado dos direitos e deveres, é gerado a partir do debate dos próprios alunos e homologado em assembleia de escola. Todos sabemos que aquilo que nasce de nós próprios tendencialmente é cumprido. Aquilo que é imposto sem a participação tende a ser violado. Diz a sabedoria popular que “o proibido é o mais apetecido”. A vida ensinou-nos isso, então, porque raio, não trazer esse conhecimento para a escola? As pessoas estão a se esquecer que os compromissos fazem parte do processo educativo. Dir-se-á que dá mais trabalho. Talvez. Mas, a prazo, estou certo que os resultados são melhores.
Um pouco por tudo isto que fui escrevendo ao correr do pensamento, julgo que as escolas deveriam despertar os alunos para a existência do seu próprio clube. O clube com regime estatutário próprio, nascido dos estudantes e para os estudantes, dinamizador de toda a actividade cultural e desportiva. É ali que se ganha o conhecimento, as dinâmicas do trabalho, o sentido organizacional, a capacidade de planeamento, o sentido de responsabilidade e a estimulação da comunidade escolar em múltiplas áreas de intervenção.

A terminar, quando o próprio Conselho Regional de Juventude, outra clássica força de bloqueio, tem uma composição escolhida a dedo político, que reúne, quando reúne, não para debater mas para confirmar o que o poder político deseja, enfim... está tudo dito.
Ilustração: Google Imagens.
Ilustração: Google Imagens.
1 comentário:
Meu carop amigo.
Parece-me bem que já em tempos fiz este comentário não sei bem onde.
Eu advogo actualmente que não devia de haver o Ministério fda Educação. Deveria existir o ministério da Instrução, e o magistério da educação. Quando a educação deveria ser dada em casa, os educandos deveriam receber a instrução nas escolas. Quando um prof. pede para os encarregados de educação comparecerem e, estes resolverem que é tempo perdido, atacarem os prof. ,maltratarem os colegas e os profissionais de acção escolar e, estarem no bem bom a beberricarem uma cervejola com os amigos, nada feito. Quando se ostracisam os prof. retirando-lhes todo o poder educacional, nada feito. Mais , muito mais teria para dizer, por hoje aqui ficamos. Um abraço solidário. João.
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