"O sr. presidente falou em pistas que incriminam um partido político. Falou de quê? O que é que sabe sobre esta matéria? Já comunicou às autoridades o que alegadamente sabe? Falou de uma rede de incendiários. Rede? O que sabe sobre essa rede? Quem são e com que interesses actua? Interesses políticos, económicos? E, neste particular, já o comunicou às autoridades judiciais?"
Os deputados do PS-Madeira querem a presença do presidente do governo na 3.ª comissão parlamentar para esclarecer "o que sabe sobre as causas dos incêndios" e para informar se já pôs as autoridades competentes ao corrente das "pistas" e das "redes de incendiários" que diz conhecer. É desta forma que os socialistas enfrentam a "atitude miserável e politicamente indigna", que atribuem ao próprio Jardim, de considerar como "oportunismo e aproveitamento político" o debate sobre a actual "situação de catástrofe ecológica".
Porque a 5.ª comissão especializada, com a área da Protecção Civil, inviabilizou uma audição parlamentar a várias entidades ligadas à área dos fogos, "chutando" tal responsabilidade, com o voto do PSD, para a 3.ª comissão, que trata de Ambiente e Recursos Nacionais, o líder parlamentar do PS mudou de estratégia. "Como o PSD decidiu dessa forma, entendemos entregar idêntico pedido de audição junto da 3.ª comissão e logo se verá o que acontece", assume André Escórcio.
Ao contrário do que defende o presidente do governo, o PS entende que o facto de as chamas "terem andado e continuarem a andar por toda a Madeira", deixando a ilha "muito mais vulnerável a catástrofes como a de 20 de Fevereiro", e dado que "a regeneração do património florestal leva muitos anos", aconselha a "debater e estabelecer urgentes medidas para o curto e o médio prazos".
André Escórcio considera "irresponsável" atribuir apenas às altas temperaturas e aos ventos a "catástrofe ecológica" que abala a Madeira. "Há muitas causas que se cruzam e devem ser escalpelizadas pelos técnicos, académicos, investigadores e por todos aqueles que em várias e credíveis instituições lutam pela defesa do património florestal e, por extensão, ambiental", diz o líder parlamentar socialista.
Para o PS, é "desplante" dizer, como fazem os governantes, que não se justifica o recurso a meios aéreos de combate aos fogos. "Não será mais caro fazer regenerar uma floresta durante 20 anos?" - é a pergunta que fica no ar.
Preocupados com a "ausência de atitude preventiva", os socialistas invocam a tragédia ecológica no Paul da Serra, que pode "pôr em causa, durante algum tempo, a retenção das águas e o abastecimento dos aquíferos".
Bruxas e rezas
"Os problemas não se resolvem com bruxas, bruxedos e concomitantes rezas", diz o PS, que propõe "o empenhamento e a audição de todos os que directa ou indirectamente podem oferecer contributos para a solução". Acontece que, neste aspecto, os socialistas também estão preocupados quando, "perante um quadro de tragédia", o chefe do governo opta pela "ofensa gratuita a pessoas que lutam pela sua terra, pela secundarização dos especialistas, dos investigadores e dos académicos". A que se junta uma "crescente agressividade política contra todos aqueles que entendem não ser possível continuar a ignorar as verdadeiras causas e as consequências do que está a acontecer".
"Pela gravidade das situações, entendemos que o presidente do governo deve ser chamado à 3.ª comissão especializada", afirmam os socialistas, nestes pressupostos: "O sr. presidente falou em pistas que incriminam um partido político. Falou de quê? O que é que sabe sobre esta matéria? Já comunicou às autoridades o que alegadamente sabe? Falou de uma rede de incendiários. Rede? O que sabe sobre essa rede? Quem são e com que interesses actua? Interesses políticos, económicos? E, neste particular, já o comunicou às autoridades judiciais?"
Os deputados socialistas suspeitam de que, ao dizer possuir elementos sobre os incêndios, o presidente do governo esteja a pretender "manter um clima de desconfiança relativamente às oposições". Referem, a propósito, exemplos de incitamento à 'justiça popular', como na Madalena do Mar, Paul e Câmara de Lobos. "Para além da deficiente democracia que alimenta, pretende criar um clima de desestabilização social para que se justifique a branda ditadura", conclui o PS.
Crime contra a Madeira
André Escórcio precisa: "Estamos a falar de um crime contra a Madeira com inúmeros contornos" - ambientais, económicos, patrimoniais e pessoais. Donde decorrem interrogações. "Numa situação destas, o presidente do governo devia manter a política das 'bocas' sem nexo, da ofensa a prestigiados quadros, continuar em festa, ou meter os pés a caminho e trabalhar na solução do problema?"
A 20 de Fevereiro, o presidente do GR "só apareceu depois de o eng.º Sócrates ter falado", ataca o PS. "E agora, da sua desenfreada língua, apenas 'fait-divers' e 'bocas' que nada adiantam."
1,5 m€ à HeliAtlantis sem eficácia
O PS quer saber do governo a justificação e os motivos que levaram a pagar 1,5 milhões de euros à HeliAtlantis, ao tempo do Grupo Sousa, durante dez anos, a título, entre outras tarefas, do combate aos incêndios, "quando agora se assume a sua ineficácia operacional". Perguntas objectivas dos socialistas: "Qual o grau de responsabilidade política e de interesses partidários nessa contratação? Se, porventura, existisse por aqui uma empresa de alguém ligado ao poder regional, seria outra a leitura sobre os meios aéreos de combate a incêndios florestais?".
Autoridades judiciais já foram informadas?
Depois das suspeitas levantadas pelo chefe do governo quanto às causas dos incêndios, o grupo parlamentar do PS diz-se "na disposição de saber junto das autoridades judiciais se foram e quais foram as diligências efectuadas" com base nas denúncias de Jardim.
"Não é correcto colocar um órgão de soberania, o tribunal, também sob suspeita, alegadamente por incúria", diz o PS. "E [Jardim que] não se refugie, como faz no parlamento, onde não comparece, não responde aos deputados, e, quando lá vai, é para falar a solo."
Entretanto, no caso da audição parlamentar agora proposta, o PS lança um apelo a Jardim: "Enfrente a comissão, diga o que sabe, com serenidade e com saudável espírito governativo."
Peça jornalística publicada na edição de hoje do DN.
Ilustração: Google Imagens.
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