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terça-feira, 21 de setembro de 2010

ULTRAJANTE


"O homem vende-se aos bocados, a prestações, dia a dia. Muitos, ao fim dum tempo, já nem sabem que estão a vender-se: atingem uma posição que os obriga a defender interesses contrários a tudo o que sempre sustentaram, e são comprados por essa posição" - Luis Sttau Monteiro.

Soube, há momentos, que a Jornalista Daniela Maria tinha sido afastada da liderança da redacção da RDP-Madeira. Já não bastava lhe terem retirado o programa "Debate Político" da RTP-M. Agora, de forma ultrajante, colocam-na, depois de 34 anos de serviço, em claro retrocesso na carreira. Uma vergonha, perpetrada por jovens que da vida e do respeito pelas pessoas, pouco devem ter.
Conheço a Jornalista Daniela Maria há muitos anos. Confesso que tenho por ela uma grande admiração como Mulher e como profissional do "serviço público" de rádio e televisão. A sua irrepreensível qualidade e a sua total doação ao trabalho, mereciam outra consideração e respeito. Nunca, mas nunca, nela notei o favorecimento, a notícia ardilosa, o sectarismo, o querer evidenciar de que lado é que está. Vi-a sempre, mas sempre, como Jornalista tão distante quanto próxima, isenta, conhecedora e transmitindo confiança. Participei em dois ou três debates na televisão conduzidos por ela e testemunhei a segurança, o equilíbrio e aquela forma de estar que poucos, muito poucos sabem fazer: não serem o centro da atenção, antes dando e colocando os convidados na situação de actores perante os temas em causa.
Esta é mais uma marosca, clara, de quem gere o "serviço público". O poder não gosta de gente não comprometida. Não gosta da isenção e tudo faz para afastar, independentemente da competência profissional. Lília Bernardes também já seguiu o mesmo caminho e ali, naquele cantinho do "serviço público", pelo que é dado a perceber, há gente que não olha a meios para atingir os seus fins. A "Comissão de Aconselhamento", mesmo sem tomar posse, funciona em pleno. O verbo que mais conjuga é o "afastar". Por outro lado, solidariedade dos e pelos colegas é outra coisa que há muito morreu. Tudo isto me faz lembrar Luis Sttau Monteiro, na Angústia para o Jantar:
“O homem vende-se por pouco. Um Volkswagen, um andar no Areeiro, uma mulher que só casa pela Igreja, ou a amizade dum tipo importante, são suficientes para que se esqueça do que tem de mais íntegro e de mais seu. Por vezes o negócio é mais subtil, menos aparente, e o homem vende-se para ver o seu nome no jornal, para viajar à custa do seu semelhante ou ainda para ter acesso a certos círculos que o deslumbram. A transacção nunca é rápida. O homem vende-se aos bocados, a prestações, dia a dia. Muitos, ao fim dum tempo, já nem sabem que estão a vender-se: atingem uma posição que os obriga a defender interesses contrários a tudo o que sempre sustentaram, e são comprados por essa posição. Continuam, em voz alta, a defender os mesmos princípios de sempre, mas secretamente guerreiam os ideais que dizem ter e fazem o que podem para evitar a sua concretização. A grande maioria dos homens, porém, vende-se por cobardia. Os casados têm medo de ver os filhos com fome e as mulheres desamparadas. Os empregados têm medo de palmilhar as ruas em busca de trabalho. Os homens que optaram pela vida fácil das carreiras têm medo de não ser promovidos. Os que alcançaram uma posição estável e segura têm medo de transformações. Os que têm prestígio receiam o advento dum mundo que discuta os fundamentos do seu prestígio. Os que vivem à custa dos valores que defendem, receiam todos os outros valores. O medo desempenha na vida dos homens um papel importantíssimo. Se não fosse o medo dos homens, os homens poderiam viver sem medo."
É isto, Caríssima Jornalista Daniela... o "O Homem vende-se"! Aos bocados...
A minha total solidariedade e RESPEITO pelo brilhantismo da sua carreira.
NOTA:
Os senhores que continuam a afastar. Uma já deixou o Telejornal, dois já pediram licença sem vencimento, falta, agora, promover as amigas e amigos ao ecrã. Está quase, julgo eu, pelo andar da carruagem. Pergunto, onde fica a credibilidade e a confiança?
Ilustração: Google Imagens.

3 comentários:

Vilhão Burro disse...

Senhor Professor

A culpa é minha e dos meus compadres!
A gente vota neles, não é!?!
E mais não digo!

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Exactamente. Só que os compadres já começam a desconfiar da marosca. E um dia virão à cidade pedir contas. Ciclicamente, tem sido assim! E mais não digo.
Um abraço.

Fernando Letra disse...

Vergonhoso.

A minha total solidariedade também, mas se calhar faz mais mal que bem...