Cem mil em Março, depois cento e vinte mil, esta semana manifestações bem concorridas no Porto, Coimbra e em Lisboa, mais de trezentas escolas com o processo de avaliação suspenso, uma greve generalizada a todo o País no dia 3 de Dezembro e perante isto, pergunto, o que espera o Primeiro-Ministro? Esta teimosia de um mulher, que afunda, dia-a-dia, a confiança e credibilidade do governo PS em matéria de política educativa, pergunto, onde irá parar? O que é que se esconde por detrás desta teimosia? Há qualquer coisa aqui de esquisito, porque nem o Primeiro-Ministro age nem a Ministra coloca o seu lugar à disposição. Ainda por cima é, partidariamente, independente! Tarde ou cedo compreender-se-ão os contornos desta teia de cumplicidades políticas.
Eu, que estudei profundamente o Estatuto da Carreira Docente, que analisei o seu desenvolvimento regulamentar no que concerne à avaliação de desempenho, que tentei perceber o que deve ser uma avaliação séria no quando do desempenho docente, não tenho a menor dúvida que não é com flexibilizações, retoques marginais ou com um simplex, que se altera o modelo. O modelo está lá, as características essenciais estão definidas e, portanto, no quadro político em que tudo isto se insere, entendo que são necessários dar três passos:
1º Mudança imediata da equipa ministerial;
2º Cancelamento de todo o processo de avaliação;
3º Revisão imediata do Estatuto da Carreira Docente e respectivas Portarias que dele derivam, com todos sentados à mesa das negociações.
Chamem-lhe recuo político ou o que quiserem, mas esta é, certamente, a via da humildade política que o Povo aprecia e que poderá salvar o PS de uma penalização que lhe pode ser fatal. Ademais, só não mudam os burros, diz a sabedoria popular. Eu próprio tinha há um ano uma postura que, em consequência da prática, considero, hoje, errada. E como eu, muitos, inclusive, parceiros sociais. Os actos de intransigência só revoltam, para mais quando associados a um lato conjunto de aspectos com os quais Portugal confronta-se. Há muita angústia por aí pelas mais diversas razões, sobretudo de natureza económica, e será grave atear mais fogo onde já parece incontrolável.
Na Madeira os educadores e professores que se cuidem. Este silêncio da Secretaria Regional da Educação, este empurrar os problemas para a frente dando a entender que nada têm a ver com isto, esta forma absolutamente irritante de sacudir os assuntos do capote das suas responsabilidades, este faz-de-conta, este Bom ou bombom para ganhar tempo, esta incapacidade de dizer, claramente, "TEMOS DE REVER O NOSSO ESTATUTO" consequência da aprendizagem feita e dos dissabores que ele está a trazer, só demonstra que os educadores e professores da Madeira estão a ser enganados por uma equipa também ela intransigente, teimosa e, pior do que isso, sem ideias e sem a noção da importância dos educadores e professores num processo educativo que conduza à excelência.
Nota:
Com a Fenprof irredutível relativamente à greve do dia 3 de Dezembro e, agora, a Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE) a manter a greve de professores depois de uma reunião com o Ministério da Educação ter terminado sem acordo quando ao processo de avaliação dos docentes, renovo a pergunta: o que espera o Primeiro-Ministro?
E, como diz no Público de hoje, se está "cansada como muitos portugueses estão cansados", porque motivo não vai descansar?
5 comentários:
Há muitos anos, um meu,muito paciente, professor, dizia-me(ainda hoje não sei bem porquê!...):
"Oh!Criaturinha!Vê lá se não te esqueces: Firmeza é Virtude; Teimosia é Burrice."
Cá para mim, a sra. ministra Lulu, tem um ar tão virtuoso...
Pode lá ser!...
Penso que a maioria das pessoas está convencida de que política e governação são uma e a mesma coisa. Ou que são sinónimos. Nada mais errado. Política é a arte de conquistar e manter o poder, enquanto que a governação se prende com a segurança e bem-estar dos cidadãos. E só se envereda pela boa governação se tal contribuir para consolidar (e depois aumentar) o poder. Se for mais barato distribuir cacetada, não há que hesitar.
O que está em causa neste diferendo é a política e não a governação. Ou seja, quem governa não está preocupado a sério com o ensino, mas em controlar e subjugar os professores.
Porque este Governo está firmemente disposto (imitando AJJ) a impor o seu pulso de ferro, a espalhar os seus tentáculos por tudo o que é sítio. E sabe muito bem que o eleitorado reage melhor ao medo do que à razão. Veja-se a quantidade de «anônimos» que comentam os blogues que não apoiam o laranjal madeirense...
Há que acabar com as corporações, com tudo o que possa a fazer frente ao poder. Há que quebrar a espinha dorsal aos farmacêuticos, aos juízes, aos médicos, aos militares, aos sindicatos, etc.. E agora aos professores.
Não se preocupe com os resultados eleitorais. Porque depois de tudo controlado, o cidadão Pinto de Sousa deixará de temer as eleições (tal como cá...).
E é para isso que a teimosia existe.
Obrigado pelo seu comentário.
Os homens passam e as instituições ficam. Por isso, mantenho uma réstia de esperança que a sociedade venha a corrigir os desvarios e que, neste caso, o PS volte a ser um partido político marcadamente de esquerda, de acordo com a sua carta de princípios. Custa-me, muitas vezes, como homem de pensamento livre, aceitar determinadas decisões políticas. Daí a minha preocupação que este nosso País não resvale ainda mais para o centro direita. Há princípios e valores que não abdico. Fazem parte, eu diria, do meu código genético.
Um abraço.
Caro André Escórcio,
Discordo completamente desta posição. Não é esse o melhor rumo para o país.
http://comqueentao.blogspot.com/2008/11/o-que-se-esconde-por-detrs-desta.html
Caríssimo Duarte,
O sector educativo, como sabe, tem feito parte das minhas preocupações ao longo da vida. Tenho feito o possível por ler, estudar, compaginar posições de grandes investigadores, mantenho laços de amizade e de intercâmbio com alguns professores universitários e, por isso, entendo que este não é o melhor caminho. É a minha verdade, mas com honestidade.
Há, evidentemente, outras verdades, que respeito.
Deste caminho e em defesa do PS, entendo que não chegaremos a lado algum. Só teremos conflito. Na política é preciso ser firme mas humilde; convicto mas com capacidade para dialogar. Não posso ir para uma mesa de negociação sujeito ao princípio de "isto ou nada". Numa negociação todos perdem e todos ganham. Ganha, depois, o País.
Ainda esta manhã recebi de uma ilustre Professora Universitária uma mensagem que, a páginas tantas sublinhava: "somos poucos mas não somos pequenos de alma". Uma professora que não tem nada a ver com partidos políticos. Apenas é investigadora.
Ora, tudo isto tem a ver com aquilo que penso e digo e que está sustentado, eu que não sou de corporativismos saloios e bacocos.
Quanto ao resto, preferia o PS com políticas que não se confundissem com outros partidos à direita e aí, penso que ambos estamos de acordo.
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