Numa roda de Amigos que muito estimo, na minha casa, veio a propósito uma viagem ao Brasil onde um dos presentes tinha sido convidado para jantar na residência de um abastado empresário e presidente de um clube brasileiro. O empresário vivia num espaçoso e requintado apartamento de luxo com uma vista soberba. Deslumbrante, segundo narrou. A páginas tantas, este meu Amigo, com toda a elegância, perguntou qualquer coisa sobre as favelas e as dificuldades das pessoas. A resposta veio célere: "sinceramente, eu não sei nada de pobre nem de pobreza". E a conversa ficou por ali, no meio de um jantar que, segundo esse meu Amigo, chegava para quatro vezes mais o número de convivas.
Regresso à Madeira. É evidente que aparecerão os do costume dizer que o Dr. Roque Martins é um ressabiado, que não sabe o que diz e, alguns, mais inconvenientes, são capazes até de dizer que a idade não perdoa. O ex-Director da Segurança Social da Madeira será, com toda a certeza, uma vez mais visado publicamente. Mas ele tem razão. Ele conhece a realidade e não a varre para debaixo do tapete, não a esconde e tem a coragem de assumir que a "neste momento, a pobreza é um fenómeno que alastra de forma quase descontrolada".
A verdade é que ninguém escuta e reflecte sobre os imensos projectos que entram na Assembleia no âmbito das questões sociais. Ninguém quer saber da realidade. Os projectos são admitidos, sumariamente discutidos, chumbados e pronto, passa-se à frente, ignorando o que por aí vai.
A Região está doente. A verdade da Região não se esgota nas iluminações de Natal e no fogo de fim de ano (agora pago a prestações). Há dramas gravíssimos que urge resolver sob pena de, amanhã, cairmos numa convulsão social de difícil solução. Ao ponto que isto chegou, dívida pública, pobreza, asfixiamento do comércio e desemprego crescente, necessariamente, teria de surgir um conjunto de políticas geradoras de confiança. Mas não, o que se verifica é que do Governo Regional nada sai para além do choradinho diário sobre a República, no que diz respeito ao alegado corte de verbas à Região. Mas quando o Primeiro-Ministro pergunta onde é que foi cortado, ninguém responde. Foi assim, no último debate na Assembleia da República a propósito do Orçamento de Estado.
Há pobreza na Região porque este é um Governo pobre. Um governo sem ideias e que mantém a mesma orientação estratégica de sempre. Inovação é coisa que não existe. Este governo arrasta-se, com o peso dos anos, velho e cansado, doente e fragilizado. Quanto à pobreza estão como o abastado brasileiro: "sinceramente, eu não sei nada de pobre nem de pobreza".
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