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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A POBREZA NÃO É UMA FATALIDADE

Os anos vão passando e vai crescendo, cada vez mais, a sensibilidade pelas questões sociais. Não consigo ver o meu semelhante em dificuldades perante as agruras da vida. Comove-me a pobreza e quando toca a crianças e idosos o problema ainda é maior. Começo a não suportar as terríveis imagens que me entram casa adentro através dos operadores de televisão. Não só pela imagem de infelicidade de milhões mas pelo conhecimento do que elas traduzem. E às vezes solto um palavrão de repúdio pela organização social, pelos senhores do mundo tão sensíveis que são à riqueza e tão insensíveis que são à pobreza que nasce ao seu lado. Não só pelos senhores do mundo, essas 300 famílias que dominam tudo e influenciam desde o que comer, o que vestir e até em quem votar, mas também por aqueles que aqui, ao nosso lado, ralados andam com a fome, com o círculo vicioso da dependência e da falta de meios para dar sentido à vida. Quando a pobreza não é uma fatalidade.
Ontem, em conversa com um distinto Amigo jornalista que muito considero, dizia-me, a propósito: estava eu a tomar o pequeno almoço quando uma mulher, que não apresentava sinais exteriores de pobreza, se abeirou da mesa, olhou para a sandes e perguntou-me o preço daquela sandes. E lá caminhou, silenciosamente!
Esta narração trouxe-me de imediato à memória um homem, simples, num take-way de um hipermercado, na fila, à minha frente, olhando para uma travessa com batatas perguntou à empregada: se eu pedir só isto, quando é? Saiu da fila e foi-se embora!
Situações destas (e não são as mais graves) denunciam, claramente, os dramas que por aí andam. Porém, alegremente, com pompa e circunstância, continua o Governo a inaugurar as obras do regime, com o dinheiro de todos nós, como se a fome pudesse esperar para amanhã.
Mas que raio de sociedade esta, que raio de governo este que não verte um pingo de sentimento pelo que está a acontecer, pelos sinais evidentes de uma corrosão que está a conduzir ao suicídio, à violência, ao crime e à degradação do tecido social.
Perdoem-me os visitantes deste espaço pela palavra, mas MERDA para tudo isto. Há gente que nem conta dá que a sua segurança depende do bem-estar (mínimo) dos outros. Para que serve tanta riqueza, para que servem as trafulhices, essa ânsia de mais e mais quando apenas têm um estômago e a vida é tão curta. Para quê o "smoking" quando estão descalços nos princípios e nos valores que dão sentido à vida. E porventura são assíduos da Missa, batem no peito, curvam-se e beijam o anel do Senhor Bispo e, no fundo, dão sinais de uma hipocrisia sem limites. O Povo tem que pôr travão a tudo isto.

1 comentário:

il _messaggero disse...

O pior é que aliado a essa espiral de pobreza, nunca houve uma devida preocupação em fornecer as ferramentas e as condições para a minoração de tal situação, preferindo-se uma visão a curto prazo numa lógica muito assistencialista, que no nosso país tem raízes em algum paternalismo que instituições como a Igreja ou o Estado sempre demonstraram.

O que acontece é que as pessoas pese saciem as suas necessidades a curto prazo, ficam sempre dependentes da vontade de alguém e nunca adquirem "de facto" ferramentas para poder almejar sair de tal situação.

Olhando à região, fazendo uma retrospectiva a todos estes anos de governo laranja e pese este não seja um mal que só se verifica cá, notamos que o modelo de desenvolvimento empregue foi redutor numa lógica de fornecer e elevar as competências da população em termos de educação e qualificação. A aposta contínua em betão e cimento [necessária até certo ponto], reflecte-se em parte na actual situação.
Por outro lado isso reflecte-se na falta de empowerment de cidadania que a sociedade da região demonstra ter [em conjunto com muitas outras razões por demais conhecidas]. Não há ainda uma efectiva maturidade eleitoral democrática (o princípio de alternância democrática é uma miragem) nem a percepção do conceito de fiscalização que o acto eleitoral pode representar.

Daí a existência de autênticos senhores que continuam a ganhar com a perpetuação de toda esta situação.
Todo este poder contínuo, conferiu aos detentores do mesmo [ou pelo menos a alguns] o aparente sentimento de impunidade e gerou todo um sistema de relações que beneficiou alguns, por vezes envolto em relações muito dúbias.

Daí o contraponto feito com imenso dinheiro para futebol, obras e eventos de cariz populista, procurando assim aplacar e adormecer a restante população que está na periferia de todo este jogo de relações.

No entanto, devo lembrar que tudo tem um fim e em última instância, existem sempre as chamadas situações de convulsão social, que providenciam o devido escape para o reequilíbrio da situação. estamos pois claro a falar de revoluções e situações semelhantes. Espero que não cheguemos a tanto!