Disse a Senhora Ministra da Educação:
"(...) Há professores que não querem ser avaliados e já o sabemos há muito tempo, mas o país não entenderá que os professores sejam uma classe à parte, pelo que terão de estar sujeitos a regras de avaliação como os outros profissionais".
Lamento, profundamente, este tipo de declarações. Por vários motivos: desde logo, os educadores e professores sempre foram avaliados. A progressão na carreira dependeu sempre de relatórios e respectivas avaliações dentro de cada estabelecimento de ensino. Sou docente desde 1971 e, no meu registo biográfico e restante documentação que envolve o processo, estão lá registados os procedimentos. Mais. Tenho uma vida dedicada ao sistema educativo que me orgulho, pela actividade pedagógica desenvolvida, pelas formações e cursos que fiz e pelos cargos que desempenhei. Portanto, não aceito que a Ministra, uma vez mais, ofenda uma classe de quem o País se orgulhar. Ainda há dias, consultando o barómetro das profissões (Agosto/Setembro de 2008), verifiquei que o povo português atribui uma apreciação positiva aos professores (+54%, logo a seguir aos enfermeiros) enquanto os políticos aparecem em penúltimo lugar com -86%. Isto dá para pensar. Depois, há aqui uma situação que a Senhora Ministra ainda não percebeu mesmo depois de ter sido confrontada com 100.000 professores na rua: não é a avaliação de desempenho que está em causa mas o processo que conduz a essa avaliação. Eu explico.
É evidente que a qualidade dos professores influencia o sucesso, mas é um erro esperar que a avaliação dos professores, só por si, venha a melhorar os resultados dos alunos. O sistema de avaliação ao qual me submeti durante muitos anos, precisava de ser revisto. Totalmente de acordo. Mas o que a avaliação deve propiciar é a interrogação dos docentes no quadro dos motivos que subjazem ao facto dos alunos não aprenderem mais. A avaliação deve ser uma oportunidade para acrescentar valor à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos, através da replicação das boas práticas no meio escolar e credibilização da função docente, no sentido dos professores agirem em vez de reagirem. É por isso que ela é fundamental mas não como está no Estatuto. Eu rejeito uma escola obcecada pela avaliação. Porque o aluno deixa de estar em causa e o objectivo desloca-se para a progressão do professor na carreira. Os contornos desta avaliação enquadra-se num ambiente de punição e não num ambiente que possibilite tirar ilações sobre o funcionamento das instituições. Eu não vejo a avaliação sob a forma de ameaça. Quando há ameaça é natural que as pessoas reajam. Eu vejo a avaliação em três vectores essenciais: enquanto componente estratégica para quem governa; enquanto ajuda no comportamento táctico ao nível da escola e, finalmente, no quadro do comportamento técnico desejável ao nível da sala de aula. São estes três vectores que uma vez conjugados podem recentrar a atenção no processo ensino-aprendizagem.Aliás, o que a Ministra pretende não é uma avaliação de desempenho mas sim uma classificação de desempenho. Porque a classificação rotula e pune. Eu entendo, pelo contrário, que a avaliação deve servir para comparar percursos e verificar os desvios desses percursos. Ora, esta avaliação no quadro em que ela está a ser desenhada, como referiu o presidente do Sindicato dos Inspectores Escolares, “só poderá trazer mais caos ao caótico sistema educativo”. E é isso que vai acontecer e já está a acontecer. Só que há políticos que gostam de percorrer o caminho mais fácil. E esse é o do controlo sobre o professor e sobre a escola e não sobre o sistema e o processo ensino-aprendizagem.
Eu defendo, por tudo isto, não uma avaliação de desempenho mas a implementação de uma Cultura de Desempenho onde a meta seja os jovens em formação para a vida. Aliás, num tempo que tanto se fala do sector privado, a Ministra ainda não se apercebeu que no sistema empresarial de topo, o que existe é uma cultura de desempenho que tem muito mais a ver com o êxito global da instituição do que propriamente com objectivos menores de fiscalização e medição do trabalho feito. As empresas de sucesso já não vão por aí. A questão que se coloca é, portanto, a de saber como é que essa avaliação deve ser implementada. Eu aproximo-me mais da perspectiva integradora por ser capaz de influenciar o sucesso académico, influenciar a organização e gestão escolar, influenciar a liderança e a própria capacidade de auto-regulação da escola.
É isto que a generalidade dos professores e dos parceiros sociais defendem. O que a Senhora Ministra quer é apenas que dois terços dos professores não atinjam o topo da carreira. Por isso digo-lhe, enquanto professor e Deputado do PS, lutarei sempre por uma Cultura de Desempenho, rigora e exigente, que dignifique a classe e que corresponda a uma ESCOLA PÚBLICA DE QUALIDADE. Mas não alinho em disparates de natureza economicista e em atitudes de provocação e de mão senso. Neste pressuposto, porque assim penso e porque entendo que os educadores e professores não contribuiram para a falência do sistema educativo, por aqui, na Região Autónoma da Madeira, para que não se comentam os mesmos erros, vou estar atento. E os professores da Madeira que se acautelem porque não vem aí nada de interessante, se tivermos em consideração que, em matéria de avaliação, o que está no Estatuto do Ministério da Educação é o que se encontra escrito no Estatuto da Madeira. Cuidado!
"(...) Há professores que não querem ser avaliados e já o sabemos há muito tempo, mas o país não entenderá que os professores sejam uma classe à parte, pelo que terão de estar sujeitos a regras de avaliação como os outros profissionais".
Lamento, profundamente, este tipo de declarações. Por vários motivos: desde logo, os educadores e professores sempre foram avaliados. A progressão na carreira dependeu sempre de relatórios e respectivas avaliações dentro de cada estabelecimento de ensino. Sou docente desde 1971 e, no meu registo biográfico e restante documentação que envolve o processo, estão lá registados os procedimentos. Mais. Tenho uma vida dedicada ao sistema educativo que me orgulho, pela actividade pedagógica desenvolvida, pelas formações e cursos que fiz e pelos cargos que desempenhei. Portanto, não aceito que a Ministra, uma vez mais, ofenda uma classe de quem o País se orgulhar. Ainda há dias, consultando o barómetro das profissões (Agosto/Setembro de 2008), verifiquei que o povo português atribui uma apreciação positiva aos professores (+54%, logo a seguir aos enfermeiros) enquanto os políticos aparecem em penúltimo lugar com -86%. Isto dá para pensar. Depois, há aqui uma situação que a Senhora Ministra ainda não percebeu mesmo depois de ter sido confrontada com 100.000 professores na rua: não é a avaliação de desempenho que está em causa mas o processo que conduz a essa avaliação. Eu explico.
É evidente que a qualidade dos professores influencia o sucesso, mas é um erro esperar que a avaliação dos professores, só por si, venha a melhorar os resultados dos alunos. O sistema de avaliação ao qual me submeti durante muitos anos, precisava de ser revisto. Totalmente de acordo. Mas o que a avaliação deve propiciar é a interrogação dos docentes no quadro dos motivos que subjazem ao facto dos alunos não aprenderem mais. A avaliação deve ser uma oportunidade para acrescentar valor à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos, através da replicação das boas práticas no meio escolar e credibilização da função docente, no sentido dos professores agirem em vez de reagirem. É por isso que ela é fundamental mas não como está no Estatuto. Eu rejeito uma escola obcecada pela avaliação. Porque o aluno deixa de estar em causa e o objectivo desloca-se para a progressão do professor na carreira. Os contornos desta avaliação enquadra-se num ambiente de punição e não num ambiente que possibilite tirar ilações sobre o funcionamento das instituições. Eu não vejo a avaliação sob a forma de ameaça. Quando há ameaça é natural que as pessoas reajam. Eu vejo a avaliação em três vectores essenciais: enquanto componente estratégica para quem governa; enquanto ajuda no comportamento táctico ao nível da escola e, finalmente, no quadro do comportamento técnico desejável ao nível da sala de aula. São estes três vectores que uma vez conjugados podem recentrar a atenção no processo ensino-aprendizagem.Aliás, o que a Ministra pretende não é uma avaliação de desempenho mas sim uma classificação de desempenho. Porque a classificação rotula e pune. Eu entendo, pelo contrário, que a avaliação deve servir para comparar percursos e verificar os desvios desses percursos. Ora, esta avaliação no quadro em que ela está a ser desenhada, como referiu o presidente do Sindicato dos Inspectores Escolares, “só poderá trazer mais caos ao caótico sistema educativo”. E é isso que vai acontecer e já está a acontecer. Só que há políticos que gostam de percorrer o caminho mais fácil. E esse é o do controlo sobre o professor e sobre a escola e não sobre o sistema e o processo ensino-aprendizagem.
Eu defendo, por tudo isto, não uma avaliação de desempenho mas a implementação de uma Cultura de Desempenho onde a meta seja os jovens em formação para a vida. Aliás, num tempo que tanto se fala do sector privado, a Ministra ainda não se apercebeu que no sistema empresarial de topo, o que existe é uma cultura de desempenho que tem muito mais a ver com o êxito global da instituição do que propriamente com objectivos menores de fiscalização e medição do trabalho feito. As empresas de sucesso já não vão por aí. A questão que se coloca é, portanto, a de saber como é que essa avaliação deve ser implementada. Eu aproximo-me mais da perspectiva integradora por ser capaz de influenciar o sucesso académico, influenciar a organização e gestão escolar, influenciar a liderança e a própria capacidade de auto-regulação da escola.
É isto que a generalidade dos professores e dos parceiros sociais defendem. O que a Senhora Ministra quer é apenas que dois terços dos professores não atinjam o topo da carreira. Por isso digo-lhe, enquanto professor e Deputado do PS, lutarei sempre por uma Cultura de Desempenho, rigora e exigente, que dignifique a classe e que corresponda a uma ESCOLA PÚBLICA DE QUALIDADE. Mas não alinho em disparates de natureza economicista e em atitudes de provocação e de mão senso. Neste pressuposto, porque assim penso e porque entendo que os educadores e professores não contribuiram para a falência do sistema educativo, por aqui, na Região Autónoma da Madeira, para que não se comentam os mesmos erros, vou estar atento. E os professores da Madeira que se acautelem porque não vem aí nada de interessante, se tivermos em consideração que, em matéria de avaliação, o que está no Estatuto do Ministério da Educação é o que se encontra escrito no Estatuto da Madeira. Cuidado!
2 comentários:
Caro Professor,
Compreendo as suas reservas em relação às declarações da ministra, no entanto a realidade mostra-nos que alguma razão ela tem.
Não existe nenhuma profissão em que todos sejam excelentes, e isso também é verdade para a profissão docente. No entanto a generalidade dos professore chega ao topo da carreira. Eu que estou por fora, tenho alguma dificuldade em explicá-lo.
Talvez a explicação esteja nas cumplicidades que se geram dentro das escolas entre os professores e os avaliadores.
O sistema de avaliação deve ter em consideração as capacidades do professor com professor e não como aluno.
Não é por fazer muitos trabalhos e frequentar muitos seminários que um professor é bom professor.
Os resultados dos alunos a todos os níveis são resultado em primeiro lugar do esforço do próprio aluno mas o professor também tem um papél essencial que deve ser avaliado e comparado com o dos outros colegas.
Concluindo. a avaliação dos professores tem duas funções: a de contribuir para a melhoria da própria função docente e a de selecção/reconhecimento do trabalho. Uma avaliação que apenas se concentre numa das vertentes será sempre uma avaliação coxa.
Obrigado pelo seu comentário. É uma posição que deve ser considerada, porque permite reflectir.
Sabe, eu sou pelo rigor e pela disciplina (de professores, alunos e auxiliares de acção educativa) e, portanto, pelo sucesso educativo. Nada mais é desesperante do que, nesta profissão, trabalhar e ter consciência que o resultado não é proporcional ao investimento. Regressar a casa, no final de um dia de aulas e reflectir sobre o que aconteceu e qual o futuro do que aconteceu. Participar num Conselho Pedagógico e sentir, muitas vezes, um profundo desalento.
Isto acontece por variadíssimos motivos: a sociedade que temos, a desestruturação familiar que existe, a pobreza que chega à escola (47% dos alunos têm acção social), a organização da escola (estabelecimentos de ensino com 1000 a 2200 alunos só geram insucesso), os currículos e os programas. Há aqui um mix, eu diria explosivo. E os professores são a parte mais fraca do processo. Trabalham (não tenho dúvidas que a esmagadora maioria o faz com brio e responsabilidade), burocratizaram-no e os resultados são aqueles que conhecemos.
Há maus professores (?) não duvido. Mas para isso há processos de correcção que não passam pela vertente apenas economicista.
Eu sou pela avaliação rigorosa e quando defendo um outro tipo de actuação, obviamente, que estou a colocar em causa, neste caso, os docentes menos colaborantes, menos profissionais. Os meus 37 anos de serviço docente permitem que olhe para o sistema não com olhos corporativos mas com os olhos de outros olhares sobre o sistema.
Ainda hoje escrevi sobre declarações do Senhor Presidente do Governo. Aquilo que ele afirmou, há mais de trinta anos está ultrapassado em muitos países que são referências no processo educativo de sucesso.
Mas este é um ponto de vista. É a minha verdade. Mas há, certamente, outras verdades. A sua posição e a minha, por exemplo, deveriam constituir motivo de debate público. Infelizmente, ele não existe.
Enviar um comentário