Adsense

sábado, 1 de novembro de 2008

QUANDO NÃO SE SABE O MELHOR É OUVIR E NÃO DIZER DISPARATES

Quando não se sabe o melhor é ouvir e não dizer disparates. E a um governante, em muitos momentos, o melhor é ter dois ouvidos e uma boca. Mas não, falam do que sabem e do que não sabem. Isto a propósito de mais umas declarações do Presidente do Governo, no quadro das retenções ou não dos alunos no ensino básico, defendida pelo Conselho Nacional de Educação e apadrinhada pelo Ministério. Trata-se de um assunto que, para mim, não tem nada de polémico. Basta conhecer o que se faz por aí fora em sistemas devidamente estruturados e de sucesso. Mas, para o Presidente do Governo, denunciando, claramente, que não sabe o que está a dizer, o disparo veio de imediato:
"Se é para toda a gente passar, então não vale a pena irem à escola (...) a Educação em Portugal bateu no fundo e a Madeira recusa-se a acompanhar a pouca vergonha que os socialistas lançaram na Educação", afirmou, defendendo que o "regime próprio (para Região) não é coisa de outro mundo".
Ora bem, comecemos pelo fim. Se o Sistema Educativo está como está, se os resultados não são os melhores, não é por culpa dos socialistas. Em 32 anos de sucessivos governos, o Dr. Jardim sabe que a maioria dos ministros foram indicados pelo PSD. Só nos mandatos do Doutor Cavaco foram cinco (João Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Diamantino Durão, Manuela Ferreira Leite e Couto dos Santos). Se, entre 1985 e 1995 tivessem lançado as bases de um sistema educativo consistente, hoje, estaríamos a colher os resultados. E não pode falar de lá como não pode falar de cá. Aqui, durante 32 anos, foram seis os Secretários da Educação. Houve "estabilidade". Tiveram a possibilidade de criar um sistema que até fosse exemplo para o País mas, afinal, está pior que no Continente como provam os dados do último "ranking" das escolas. Portanto, dir-se-á que se ri o roto do esfarrapado.
Quanto à questão do básico e dos respectivos exames. De acordo com a edição de anteontem do “Diário Económico”, um projecto de parecer do Conselho Nacional de Educação recomenda que o Ministério da Educação estude “soluções adoptadas noutros países que encontraram alternativas às repetições, obtendo bons desempenhos por parte dos alunos e resolvendo os problemas do insucesso”. Trata-se de um tema com "barbas". Há mais de trinta anos li o que se fazia em países que acabaram com o analfabetismo há mais de um século. E que são países prósperos, de grande qualidade no desempenho profissional. O que Dr. Jardim não percebe, porque também nunca foi professor de raíz, nunca viveu a escola como outros nem, certamente, leu o que outros, por dever profissional, foram obrigados, é que um sistema de não retenção obriga a muito mais trabalho na escola, a novos enquadramentos organizacionais, implica uma revolução no sistema educativo. Implica que o governo se preocupe com as famílias, com a sociedade a todos os níveis (e não apenas com inaugurações), implica dinâmicas formativas e um novo conceito de Escola. Nesta questão o Dr. Jardim parou no tempo e não sabe do que fala a avaliar pela declaração "se é para toda a gente passar não vale a pena irem à escola". O conceito é outro: vale a pena ir à escola para passar! O que eu lamento é que 32 anos depois a nossa escola não esteja preparada para isso. Como gostava eu de viver numa ESCOLA assim, com avaliações, mas para passar... Eu sei como se chega aí. O mentor de tudo isto que estude!

Sem comentários: