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domingo, 16 de novembro de 2008

A MINISTRA DA EDUCAÇÃO É PROBLEMA E NÃO SOLUÇÃO

Li a entrevista da Senhora Ministra da Educação ao Expresso. O título, "Não me passa pela cabeça que as escolas desobedeçam", por mim, cidadão, professor desde 1971 e militante do PS, assumo: não me passa pela cabeça que, nas próximas semanas, não se demita! É o melhor para a Educação e, indubitavelmente, o melhor para o PS que, dentro de meses, disputará três importantes actos eleitorais (Europeias, Autárquicas e Legislativas Nacionais).
Com 120.000 professores na rua, com os estudantes em polvorosa e, por contágio (é sempre assim) os pais, não há partido com responsabilidades governativas que se aguente. Há, aqui, um enervante radicalismo, uma acintosa teimosia, uma incapacidade para perceber que não é possível governar bem quando se está contra a esmagadora maioria de uma classe, uma inflexibilidade que mete dó e que vai arrastar o PS para uma situação muito difícil, até porque, qualquer retrocesso, depois do que tem dito o primeiro-ministro, afectará a imagem do governo por ausência de credibilidade e de seriedade na condução deste processo. Ora, perante este quadro, com a pressão que está a ser exercida pela própria oposição, julgo que só resta o caminho da rápida substituição da equipa ministerial e um regresso ao diálogo com os parceiros sociais, com honestidade e sentido de responsabilidade. Uma coisa é sentar-se à mesa e dizer o problema é este e a margem de flexibilidade é esta; outra, é sentar-se à mesa, dialogar até gerar os acordos necessários o que faz apelo a cedências de ambas as partes. A Democracia é assim.
Custa-me, por vezes, ouvir e ler artigos ou comentários a propósito do que se está a passar. Custa-me sobretudo quando revelam ausência de conhecimento do que é a Escola. São ditas por aí coisas sem o domínio de todas as variáveis e ligações entre elas. Chega-se a confundir, por exemplo, as dinâmicas próprias de uma escola com as dinâmicas de natureza empresarial. Ora, essas dinâmicas são diferentes e isso, por paradoxal que pareça, também nunca foi conceptualizado pela Ministra, tampouco pelos Secretários de Estado, muito menos pelo comum do cidadão. São ditos alguns disparates emergindo a errada ideia que os professores o que querem é não ser avaliados. Quando sempre o foram, sublinho.
Custa-me aceitar, eu diria, por um grosseiro erro de casting, que esta equipa do Ministério da Educação, com o devido respeito enquanto pessoas, demonstre que não conhece a Escola, o sistema e, sobretudo, não revele uma visão alargada da necessária (re)construção de um sistema que, a prazo, gere uma escola de qualidade, inclusiva e portadora de futuro.
Custa-me assumir isto relativamente a uma Ministra de um governo PS. Mas se o faço é em defesa do PS. Como se já não bastassem as movimentações de rua e a inevitável instabilidade nos estabelecimentos de ensino, com custos para os alunos, a Ministra parece-me descontrolada, pois tanto pede "desculpa aos professores" (se pede é porque está a ter atitudes políticas menos felizes) como diz, logo a seguir, que "precisamos de um simplex para a Educação" (o que significa que o modelo que quer implementar é burocrático e impraticável). Apesar destas contradições, assume que não vai "voltar atrás". Tudo isto parece provar que a Ministra já não tem o controlo do leme e explica o braço de ferro e a tal incapacidade para negociar. Ora, quem sofrerá com esta atitude de intransigência será sempre o sistema educativo e, em última instância, o próprio governo e o PS.
A Ministra fala em reformas melhor faria se falasse na reinvenção do sistema educativo e de um pacto educativo para o futuro que envolvesse partidos e parceiros sociais. A Educação precisa de estabilidade e de políticas que perdurem no tempo. A Educação assemelha-se a um puzzle de muitas peças (neste caso organizativas, curriculares, programáticas, infra-estruturais, legislativas, orçamentais, familiares e culturais, entre outras) que precisam de tempo para se encaixarem umas nas outras no sentido do êxito. Não é com guerra aos docentes que lá se chega. É com rigor político mas com humildade; é com responsabilidade política mas com a inteligência necessária que apela à força da razão e não à razão da força.
Finalmente, por aqui, nesta Região sem rumo próprio na Educação, liderada por pessoas sem perfil político e de conhecimento para gerar o novo no sector educativo, uma Região sempre pronta para, comodamente, adaptar a legislação nacional o que revela ausência de ambição e sentido de responsabilidade, espero que a breve prazo a população tome consciência das fragilidades e que assuma o dever de colocar um ponto final em 32 anos de acumulação de gravíssimos erros face aos quais vamos (todos) pagar bem caro.

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