Vale a pena ler o artigo de opinião do Doutor Hélder Spínola, publicado na edição de hoje do DN. Excelente. Escreve sobre os encantos da Madeira e a sua estonteante beleza; tece considerações em redor dos "dinheiros da Europa" que deram "à Madeira tanto de novo e moderno como de decrépito e decadente; destaca "os projectos desta Madeira Nova delineados para acabarem no dia da inauguração, quando na verdade tudo começa nesse momento". Termina com o desassombro de quem leva uma vida a olhar e a defender a terra de todos nós e não apenas de alguns:
"(...) Não foi apenas este último temporal que mostrou a fragilidade deste castelo de cartas que é esta Madeira Nova. Quase todos os anos, embora nem sempre se fale nas notícias, esta Madeira construída à pressa e nos locais errados, esfarela-se à evidência de que não compreendeu o nosso território e ignorou o conhecimento transmitido pelos nossos antepassados. O mar e as ribeiras vêm sempre buscar o que é seu e devolvem-nos aquilo que nãos lhes pertence, as terras, os entulhos e o lixo. Já os nossos bisavós sabiam isto. Porquê que os engenheiros e os governantes, e os engenheiros-governantes, não o sabem? A Madeira decrépita começa a alastrar-se em cima da Madeira Nova. São marinas desmanchadas pelo mar, hotéis emperrados a meia construção, estradas em cima de ribeiras mas que "volta e meia" ficam por baixo delas, passeios marítimos fustigados pelo mar e pelas pedras que caem das encostas, teleféricos que enferrujam, estradas ex-libris fechadas, praias de areia amarela devoradas, complexos balneares destroçados e enrocamentos de protecção desmoronados. Um autêntico gigante com pés de barro".
"(...) Não foi apenas este último temporal que mostrou a fragilidade deste castelo de cartas que é esta Madeira Nova. Quase todos os anos, embora nem sempre se fale nas notícias, esta Madeira construída à pressa e nos locais errados, esfarela-se à evidência de que não compreendeu o nosso território e ignorou o conhecimento transmitido pelos nossos antepassados. O mar e as ribeiras vêm sempre buscar o que é seu e devolvem-nos aquilo que nãos lhes pertence, as terras, os entulhos e o lixo. Já os nossos bisavós sabiam isto. Porquê que os engenheiros e os governantes, e os engenheiros-governantes, não o sabem? A Madeira decrépita começa a alastrar-se em cima da Madeira Nova. São marinas desmanchadas pelo mar, hotéis emperrados a meia construção, estradas em cima de ribeiras mas que "volta e meia" ficam por baixo delas, passeios marítimos fustigados pelo mar e pelas pedras que caem das encostas, teleféricos que enferrujam, estradas ex-libris fechadas, praias de areia amarela devoradas, complexos balneares destroçados e enrocamentos de protecção desmoronados. Um autêntico gigante com pés de barro".
O curioso de tudo isto é que, certamente, "os engenheiros e os governantes e os engenheiros-governantes" viajam, fazem férias, certamente, visitam cidades e aldeias, deliciam-se (benefício da dúvida) com os espaços carregados de História, apercebem-se (novo benefício da dúvida) como o diferente, o característico e a cultura arrastam milhões de pessoas em actividade turística, todavia, quando aqui chegam, na hora da decisão política, não transferem aplicando o conhecimento adquirido. Na escola, no processo de aprendizagem, um dos itens da avaliação do aluno, é a capacidade de transferir para novas situações as aprendizagens anteriores. Quem não o consegue fazer demonstra condicionamentos graves e, normalmente, não consegue ir além da repetição. Ora, no exercício da política (terceiro benefício da dúvida), "os engenheiros e os governantes e os engenheiros-governantes" aprendem, mas, intencionalmente, não transferem. Eles sabem que a nossa principal catedral é a natureza, mas toda a gente percebe o porquê de não transferirem o conhecimento! É pena, no mínimo, que continuem a confundir o significado das palavras crescimento e desenvolvimento.
Foto: Google Imagens - www.berdades.blogspot.com
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