Tarde ou cedo a verdade dos processos políticos sobem à tona como o azeite na água. O problema não é novo pois arrasta-se desde os primórdios dos anos 80. São trinta anos de erros acumulados, de uma prática desportiva ao serviço da política e não do desenvolvimento. E os resultados estão aí: a falência do associativismo, clubes endividados, significativos atrasos nas transferências financeiras acordadas através de contratos-programa, salários por pagar, enfim, um sufoco financeiro devido a uma causa primeira, a subsidiodependência na qual assenta a política desportiva da Região, quer ela se situe no plano profissional quer "amador".
Este quadro está desde há muito identificado através de estudos e de propostas concretizadas em sede própria, isto é, na Assembleia Legislativa da Madeira. Uma das últimas, chumbada pela maioria PSD, foi a que estabelecia "As bases da Actividade Física, do Desporto Educativo Escolar, do Desporto Federado e aprovava o regime jurídico de atribuição de comparticipações financeiras ao associativismo desportivo na Região Autónoma da Madeira". No preâmbulo deste importante documento pode ler-se: "Uma análise exaustiva à política desportiva desenvolvida na Região Autónoma da Madeira desde 1976, determina a necessidade de correcção de orientações que não se mostraram eficazes e eficientes. É óbvio que tal não significa que não se tenham verificado aspectos positivos ao longo dos anos: os resultados técnicos, individuais e colectivos, as infra-estruturas construídas e, inclusive, a realização de alguns prestigiantes eventos. Porém, porque à parte as infra-estruturas tudo o resto é efémero, depreende-se do estudo das variáveis em causa que teria sido preferível uma política de menos desporto de rendimento, sobretudo pelas limitações da própria Região, e de mais educação e cultura desportivas que, a prazo, tornasse esta população caracteristicamente sedentária numa população fisicamente activa, com todos os benefícios daí resultantes. Passadas três décadas é sensível a necessidade de uma rotura com certas premissas que demonstraram ser insustentáveis do ponto de vista do financiamento. Criado o parque infra-estrutural, através da iniciativa do governo regional ou por iniciativa do associativismo mas substancialmente apoiado através do sector público, considera-se, hoje, necessária uma mudança assente em consistentes opções estratégicas, tendo presente o facto desta ser uma Região atlântica, dependente e onde subsistem, ainda, múltiplas prioridades. Inclusive, no desporto.
Sem pôr em causa o direito ao desporto de alto rendimento, à excelência e à representação nacional e internacional no quadro da auto-estima do povo madeirense, entende-se que a Região, dentro de alguns anos, deverá constituir num exemplo nacional e europeu, no que concerne à elevada organização e participação desportivas, no quadro da construção contínua de um desporto entendido como bem cultural, criado à medida de cada um e que não se esgote no labirinto da representatividade externa.
As grandes limitações espaciais e orçamentais da Madeira implicam, por isso, um outro tipo de orientação, isto é, um grande investimento nas políticas educativas, neste caso, no desporto educativo escolar, na competição regional, no desporto informal, na actividade física em geral, numa prática que, a prazo, conduza a Madeira a dispor de uma taxa de participação desportiva superior à média nacional e europeia. Estes pressupostos encontram justificação na análise das taxas de participação desportiva globais (77% não têm qualquer tipo de prática regular), onde são sensíveis substanciais desequilíbrios na relação desporto educativo escolar versus desporto federado, na relação entre géneros (na época de 2005/06 a demografia federada registou 16.546 participantes, dos quais 71,14% masculinos e 28,86 femininos) e na distribuição por categorias de participação (as categorias de iniciados, juvenis e juniores somam 33,64% tendo os seniores registado 32,58%) (...).
Este quadro está desde há muito identificado através de estudos e de propostas concretizadas em sede própria, isto é, na Assembleia Legislativa da Madeira. Uma das últimas, chumbada pela maioria PSD, foi a que estabelecia "As bases da Actividade Física, do Desporto Educativo Escolar, do Desporto Federado e aprovava o regime jurídico de atribuição de comparticipações financeiras ao associativismo desportivo na Região Autónoma da Madeira". No preâmbulo deste importante documento pode ler-se: "Uma análise exaustiva à política desportiva desenvolvida na Região Autónoma da Madeira desde 1976, determina a necessidade de correcção de orientações que não se mostraram eficazes e eficientes. É óbvio que tal não significa que não se tenham verificado aspectos positivos ao longo dos anos: os resultados técnicos, individuais e colectivos, as infra-estruturas construídas e, inclusive, a realização de alguns prestigiantes eventos. Porém, porque à parte as infra-estruturas tudo o resto é efémero, depreende-se do estudo das variáveis em causa que teria sido preferível uma política de menos desporto de rendimento, sobretudo pelas limitações da própria Região, e de mais educação e cultura desportivas que, a prazo, tornasse esta população caracteristicamente sedentária numa população fisicamente activa, com todos os benefícios daí resultantes. Passadas três décadas é sensível a necessidade de uma rotura com certas premissas que demonstraram ser insustentáveis do ponto de vista do financiamento. Criado o parque infra-estrutural, através da iniciativa do governo regional ou por iniciativa do associativismo mas substancialmente apoiado através do sector público, considera-se, hoje, necessária uma mudança assente em consistentes opções estratégicas, tendo presente o facto desta ser uma Região atlântica, dependente e onde subsistem, ainda, múltiplas prioridades. Inclusive, no desporto.
Sem pôr em causa o direito ao desporto de alto rendimento, à excelência e à representação nacional e internacional no quadro da auto-estima do povo madeirense, entende-se que a Região, dentro de alguns anos, deverá constituir num exemplo nacional e europeu, no que concerne à elevada organização e participação desportivas, no quadro da construção contínua de um desporto entendido como bem cultural, criado à medida de cada um e que não se esgote no labirinto da representatividade externa.
As grandes limitações espaciais e orçamentais da Madeira implicam, por isso, um outro tipo de orientação, isto é, um grande investimento nas políticas educativas, neste caso, no desporto educativo escolar, na competição regional, no desporto informal, na actividade física em geral, numa prática que, a prazo, conduza a Madeira a dispor de uma taxa de participação desportiva superior à média nacional e europeia. Estes pressupostos encontram justificação na análise das taxas de participação desportiva globais (77% não têm qualquer tipo de prática regular), onde são sensíveis substanciais desequilíbrios na relação desporto educativo escolar versus desporto federado, na relação entre géneros (na época de 2005/06 a demografia federada registou 16.546 participantes, dos quais 71,14% masculinos e 28,86 femininos) e na distribuição por categorias de participação (as categorias de iniciados, juvenis e juniores somam 33,64% tendo os seniores registado 32,58%) (...).
Este projecto de Decreto Legislativo Regional foi apresentado em 2007. A maioria política assobiou para o lado. Portanto, não estranho que, na edição de hoje do DN, Joaquim Evangelista, Presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, com conhecimento de factos, venha dizer que "(...) a subsidiodependência gera um dirigismo atrofiado. Não há necessidade de arranjar soluções e quando falta alguma coisa é um problema. É fácil chegar ao fim do mês, receber o cheque e fazer a contabilidade. Quando isso sucede as coisas correm bem, quando falta o dinheiro..." Em suma, no seu entender, a ajuda do Executivo "está a causar danos graves ao futebol na Madeira porque os dirigentes não têm necessidade de ser proactivos. Ficam à espera que seja o Governo Regional a resolver". E por isso acha que o Governo tem de meditar sobre o assunto. "Tem de saber o que quer. Se pretende dirigentes subsidiodependentes que estão à espera do cheque para pagar aos jogadores. Ou se quer ter dirigentes activos, empreendedores que reformulem o futebol madeirense (...)".
Bom, já estou a ver, amanhã, uns quantos levantarem a voz no sentido de trucidar o Presidente do Sindicato e respectivas declarações ao Diário. Mas que ele tem razão, obviamente que tem!
Nota:
Ao contrário do que salientou o Presidente do Governo Regional a questão do Pontasolense (cujos jogadores, alegadamente, não recebem salários há seis meses), entre outras, é muito mais que uma questão "laboral". É sobretudo uma questão de POLÍTICA DESPORTIVA.
Fotos e desenhos: Google Imagens.
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