Há actividades escolares, pois, elas existem; há múltiplas iniciativas, pois, ninguém duvida. Mas, afinal, o que têm a ver umas coisas com as outras, perguntar-se-á. O que é que as une e para que servem? É disso, também, que se fala. O problema é que estas questões não são discutidas, por medo, por essa sensação claustrofóbica imposta por um poder que impede o debate, a existência de livres pensadores e o direito de participação na construção do futuro.
Disse, anteontem, o presidente do governo regional da Madeira: "nós queremos uma maior autonomia do sistema de ensino aqui na Madeira para poder fazer outros programas (...)". Curioso, por dois entre muitos aspectos: primeiro, ouvi da boca do presidente e na presença do Secretário de Estado da Educação, no decorrer do V Congresso do Sindicato Democrático de Professores, que a Região segue as orientações nacionais em matéria de política educativa; segundo, ainda recentemente, através do grupo parlamentar do PS-M, esteve em discussão um projecto de Decreto Legislativo Regional que consubstanciava um Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional e este foi, liminarmente, chumbado pelo PSD. Portanto, daqui se deduz, das duas, uma: ou, o que o presidente diz não pode ser levado a sério; ou, estamos em presença de um continuado jogo de sombras, de querer e não querer, de uma manifestação de desejo por qualquer coisa melhor, mas ao mesmo tempo, deixem lá o marfim correr, porque desta forma tenho um inimigo em quem bater, a República! Fala para a plateia ouvir mas, logo a seguir, paree-me querer dizer: olha lá ao Francisco, isto é para manter em ponto morto! É essa a sensação que fica. Talvez porque o "analfabetismo" e a incultura proporcionam votos. Sou levado a pensar assim, porque ninguém, no seu perfeito juizinho, diz uma coisa hoje e outra amanhã.
Ademais, trinta e tal anos de governo é tempo mais do que suficiente para qualquer pessoa perceber a ESTRATÉGIA de uma dada política educativa. Eu não conheço, não sei, não percebo onde o governo regional autónomo quer chegar. Eu diria que há por aí "coisas" dispersas, discursos sem um fio condutor, onde nada se interliga. As diversas peças do puzzle não casam por maior que seja a busca pela sua conjugação. Há actividades escolares, pois, elas existem; há múltiplas iniciativas, pois, ninguém duvida. Mas, afinal, o que têm a ver umas coisas com as outras, perguntar-se-á. O que é que as une e para que servem? É disso, também, que se fala.
O problema é que estas questões não são discutidas, por medo, por essa sensação claustrofóbica imposta por um poder que impede o debate, a existência de livres pensadores e o direito de participação na construção do futuro. Este poder amarrou tudo e, depois, como é o caso em apreço, bate na República quando dispõe de Autonomia. Não resolve porque não tem projecto e logo inventa a questão Constitucional como alibi para o insucesso, quando os resultados académicos e o abandono nada têm a ver com o "livrinho" (Constituição) que a todos nos une.
Ademais, trinta e tal anos de governo é tempo mais do que suficiente para qualquer pessoa perceber a ESTRATÉGIA de uma dada política educativa. Eu não conheço, não sei, não percebo onde o governo regional autónomo quer chegar. Eu diria que há por aí "coisas" dispersas, discursos sem um fio condutor, onde nada se interliga. As diversas peças do puzzle não casam por maior que seja a busca pela sua conjugação. Há actividades escolares, pois, elas existem; há múltiplas iniciativas, pois, ninguém duvida. Mas, afinal, o que têm a ver umas coisas com as outras, perguntar-se-á. O que é que as une e para que servem? É disso, também, que se fala.
O problema é que estas questões não são discutidas, por medo, por essa sensação claustrofóbica imposta por um poder que impede o debate, a existência de livres pensadores e o direito de participação na construção do futuro. Este poder amarrou tudo e, depois, como é o caso em apreço, bate na República quando dispõe de Autonomia. Não resolve porque não tem projecto e logo inventa a questão Constitucional como alibi para o insucesso, quando os resultados académicos e o abandono nada têm a ver com o "livrinho" (Constituição) que a todos nos une.
A tipologia dos edifícios escolares não depende da Constituição, a organização do sistema desde o número de alunos por escola ao número de alunos por turma, a disciplina, o rigor, a qualidade e a excelência, não dependem da Constituição, a colocação dos professores, o financiamento dos estabelecimentos de educação e ensino, enfim, nada disto tem a ver com a Constituição da República. Que se clarifique, aqui e ali, um ou outro ponto, parece-me perfeitamente aceitável e até necessário. O que não se pode, por uma questão de honestidade intelectual, responsabilizar o "livrinho", a Constituição, pelos monumentais erros estratégicos que têm vindo a ser cometidos. Isso não. O que tem existido é uma clara incompetência e uma evidente ausência de diálogo negocial e civilizado com todos. O problema tem residido aí.
Ilustração: Google Imagens.
Ilustração: Google Imagens.
11 comentários:
Se não entende, umas luzes:
O Presidente quer poder fazer diferente por isso quer uma mudança na Constituição. O Secretário faz igual pois a isso a Constituição obriga.
Onde está a contradição?
O seu regime é um erro de base. Não há regime educativo diferente do Português. Não pode haver com a Constituição actual. Há é aplicações diferentes das bases definidas.
Você quer a Constituição actual e um Regime Educativo diferente.
Logo, você é que quer... e não quer.
Por alguma razão a Rede Escolar da RAM é muito melhor do que o do resto (socialista) do País.
Porque aplica diferentemente (sem que isso constitua outro Sistema Educativo).
Por alguma razão a Região tem uma ETI à mais tempo e melhor do que o resto (socialista) do País.
Porque aplica diferentemente (sem que isso constitua outro Sistema Educativo).
Por alguma razão a Região não vai nos facilitismos avaliativos do Continente produzindo sucesso fictício com base na burocracia acrescida para cada caso de insucesso proposto pelos docentes.
Por alguma razão há muitos mais professores por aluno nas Escolas da RAM do que no resto (socialista) do País e até do que na Europa.
Porque aplica diferentemente (sem que isso constitua outro Sistema Educativo).
Por alguma razão a Educação Especial apresenta respostas diferentes na RAM em relação ao resto (socialista) do País.
Por alguma razão a Madeira tem um regime de ASE mais favorável que o do resto do País. Porque aplica diferentemente (sem que isso constitua outro Sistema Educativo).
Por alguma razão a RAM garante entradas no ensino superior na ordem dos 1.500 alunos/ano (são actualmente 2500 os nascimentos anuais). Contrariando ideias de insucesso que se vai repetindo sem sustentação.
Etc, etc...
Obrigado pelo seu comentário.
Penso que deve ter lido, com atenção, o que escrevi. A páginas tantas salientei ao nível Constitucional: "(...) que se clarifique, aqui e ali, um ou outro ponto, parece-me perfeitamente aceitável e até necessário (...)". Nunca neguei e não nego essa clarificação. Facto que não obsta que o Sistema, na RAM, não possa ter uma outra configuração no sentido da EXCELÊNCIA. Não é a Constituição que é limitadora, SÃO OS POLÍTICOS que limitam um sistema de qualidade.
Embora de concepção errada, esta é a minha opinião e fundamentada, as Escolas a Tempo Inteiro não dependeram da Constituição. Certo?
Da mesma forma que uma concepção organizacional do Sistema, a todos os níveis, não depende da Constituição. Basta olhar para os Açores se, eventualmente, quer uma base de comparação.
Mas não vou tão longe. É o meu interlocutor que sublinha e confirma no meio de vários exemplos elogiosos para o governo da Região: (...) Por alguma razão a Rede Escolar da RAM é muito melhor do que o do resto (socialista) do País". Significa isto que percebe e assume que é possível tomar a iniciativa sem qualquer obstáculo constitucional. O problema é saber como fazer e esta equipa da Educação já demonstrou que não sabe ou não quer.
O problema é que as pessoas quando se sentam na cadeira do poder julgam-se, no mor das vezes, tocadas pelo dom da infalibilidade. Ficam possuídas de uma mentalidade que as impede de ver longe. Não gostam de ser escrutinadas e não gostam de ser criticadas. Não gostam sequer que outros tenham opinião. Lembra-se, por exemplo, aquilo que disseram de uma investigadora da Universidade que apresentou uma tese de Doutoramento? O poder é assim, o poder cega, contraria e tudo faz para esmagar outras opiniões. Ando há 40 anos a actualizar-me, nesta que é a minha PROFISSÃO. E não vou deixar de continuar a ler, a estudar e a ouvir outros que sabem muito mais do que eu, para ficar limitado às opiniões de um licenciado em finanças, em engenharia ou direito. Eu sou da Educação e limito-me a esse campo. Cada macaco no seu galho. Eu ocupo o meu.
Obrigado pelo seu comentário.
Penso que deve ter lido, com atenção, o que escrevi. A páginas tantas salientei ao nível Constitucional: "(...) que se clarifique, aqui e ali, um ou outro ponto, parece-me perfeitamente aceitável e até necessário (...)". Nunca neguei e não nego essa clarificação. Facto que não obsta que o Sistema, na RAM, não possa ter uma outra configuração no sentido da EXCELÊNCIA. Não é a Constituição que é limitadora, SÃO OS POLÍTICOS que limitam um sistema de qualidade.
Embora de concepção errada, esta é a minha opinião e fundamentada, as Escolas a Tempo Inteiro não dependeram da Constituição. Certo?
Da mesma forma que uma concepção organizacional do Sistema, a todos os níveis, não depende da Constituição. Basta olhar para os Açores se, eventualmente, quer uma base de comparação.
Mas não vou tão longe. É o meu interlocutor que sublinha e confirma no meio de vários exemplos elogiosos para o governo da Região: (...) Por alguma razão a Rede Escolar da RAM é muito melhor do que o do resto (socialista) do País". Significa isto que percebe e assume que é possível tomar a iniciativa sem qualquer obstáculo constitucional. O problema é saber como fazer e esta equipa da Educação já demonstrou que não sabe ou não quer.
O problema é que as pessoas quando se sentam na cadeira do poder julgam-se, no mor das vezes, tocadas pelo dom da infalibilidade. Ficam possuídas de uma mentalidade que as impede de ver longe. Não gostam de ser escrutinadas e não gostam de ser criticadas. Não gostam sequer que outros tenham opinião. Lembra-se, por exemplo, aquilo que disseram de uma investigadora da Universidade que apresentou uma tese de Doutoramento? O poder é assim, o poder cega, contraria e tudo faz para esmagar outras opiniões. Ando há 40 anos a actualizar-me, nesta que é a minha PROFISSÃO. E não vou deixar de continuar a ler, a estudar e a ouvir outros que sabem muito mais do que eu, para ficar limitado às opiniões de um licenciado em finanças, em engenharia ou direito. Eu sou da Educação e limito-me a esse campo. Cada macaco no seu galho. Eu ocupo o meu.
Que mal terão as intervenções de financeiros e economistas na área da Gestão Educativa?
E de licenciados de direito na interpretação de leis educativas?
E de nutricionistas e cozinheiros na área das cantinas escolares?
E de Psicólogos na área da psicologia juvenil?
E de motoristas na condução de transportes escolares?
E de arquitectos e engenheiros no planeamento, concepção e construção da rede e edifícios escolares?
E de professores na área curricular e pedagógica?
Nenhum mal. Opiniões? De todos em todas as matérias. Decisões, cada um na sua área.
Cada um no seu galho...
Professores em todos os galhos é que não. Não correrá bem... É garantido.
Quem repetidamente fala de equipas multidisciplinares...
Quem refere o exagero de funções que os docentes são chamados a cumprir nas escolas...
Quem diz que os professores deviam se concentrar nas suas aulas e não noutras áreas (chamam burocracias a essas funções)...
Não pode agora vir dizer que todos os galhos na Educação devem ser dos professores. Afinal como ficamos?
Obrigado pelo seu comentário.
Eu não tenho habilidade para tentar dar a volta ao texto. Não gosto. Rejeito. Como foi fácil de perceber, o que eu quis dizer e mantenho, é que há lugares de gestão e administração da Educação, ao nível central (regional) que implica a presença de pessoas com sensibilidade específica. Não passa pela cabeça de ninguém que na cozinha esteja um licenciado em finanças! Mesmo que este licenciado saiba fazer uns petiscos... Mais um exemplo: não posso pedir a um Engenheiro que trate da rede escolar. Poderá fazê-lo mas sem a sensibilidade que um especialista na Educação pode oferecer. Da mesma forma que ao especialista da Educação não se deve pedir para fazer os cálculos de engenharia de um dado edifício escolar.
Certamente que percebeu, agora, o que significa a pessoa certa no lugar mais adequado.
Isto não tem nada a ver com equipas multidisciplinares. Quem tem um horror a essas equipas é o governo. Há imensas provas disso.
E em nada disto, repito, a Constituição da República é limitadora.
E já que falo de engenharia... na Finlândia são os professores que dizem como é que desejam a Escola. Depois, o Arquitecto cria e, finalmente, o engenheiro entra em acção. Certo?
Claro. Concordo.
Como quem quer comer diz ao cozinheiro o que quer, mas faz o cozinheiro o prato. É ele quem sabe como.
Como um pai quer que o filho aprenda e não intervem no trabalho dos professores que são quem sabe como conseguir isso.
Ou seja, todos apresentam o que pretendem. Depois os professores ensinam e os cozinheiros cozinham.
O galho do cozinheiro é a cozinha o galho do professor a sala de aulas.
Pelo que concordo inteiramente consigo. Daí ter referido que cada um no seu galho. Professores em todos os galhos, não. Mesmo que a árvore seja a Escola e o Sistema Educativo.
Obrigado pelo seu novo comentário.
O problema é que há gente, nesta metáfora, que está no restaurante e, perante tanto prato, não sabe o que escolher. Acaba por pedir o tradicional bife com ovo a cavalo (do poder... claro). E na maioria das vezes, não pede e nem vai pela sugestão de outras pessoas, ou do próprio cozinheiro. Portanto, come bife toda a vida, umas vezes da chã de dentro outras do "lado da testa".
"O galho do cozinheiro é a cozinha o galho do professor a sala de aulas" - sublinha. Como está enganado! Essa é uma posição com, pelo menos, 100 anos de atraso. Está nos livros. Basta ler e perceber.
Os professores em qualquer galho.
Posição moderna.
Os outros, cada um no seu.
Cem anos de atraso.
Logo vi que chegaria aí.
Confesso, o problema deve ser meu. Não consigo entendê-lo. Com todo o respeito, embora não saiba com quem estou a falar. Por mim, ponto final.
Meu Caro André.
Então ainda não reparou que este senhor deve andar a acompanhar o cozinheiro? Deve andar a lamber o fundo ao tacho. Nem chego a perceber o porquê de lhe dar tanto apreço. Por mim deve andar encomenda a navegar.
Um abraço solidário . João.
Obrigado pelo seu comentário.
Sabe, sinto necessidade do debate e desde que não seja ofensivo e maldoso, não me importo de esclarecer o meu ponto de vista. Mas, cansa, lá isso é verdade.
São muitos anos a remar contra esta maré negra!
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