"Não há nenhuma comparação entre as dificuldades de hoje e as facilidades que Cavaco encontrou nos seus dez anos de governação e que desperdiçou lamentavelmente". Miguel Sousa Tavares/Expresso.
Muitas vezes dou comigo a reflectir se estarei a fazer a melhor leitura ao processo político. Ficam-me sempre algumas dúvidas, mesmo quando reflicto em conjunto com outros. E refiro-me, exactamente, ao Presidente da República, às suas posições, ao ar tanto enjoado como distante, à sua costela partidária que, volta e meia deixa-o falar de assuntos onde deve ser mais moderado e sensato do que incendiário e, mais do que isso, à sua crónica amnésia relativamente ao tempo em que desempenhou as funções de Primeiro-Ministro.
Foram dez anos, oito dos quais em maioria absoluta, onde a sua acção não foi sensível por um Portugal moderno e de futuro. Independentemente da conjuntura internacional que arrastou todos os países para a situação com a qual hoje nos confrontamos, o Professor Cavaco, à luz da História, do que fez e sobretudo do que não fez, não tem moral política para vir agora criticar, de forma contundente, processos estruturais que não soube resolver. Do meu ponto de vista é o pior Presidente da República do pós 25 de Abril. Nunca se percebe bem o que ele quer. Ora não responde, ora passa pelos problemas sem comprometer-se, ora dispara e "responde" às críticas pelo facebook (não leva tempo e recebo um pedido de amizade!). Razão tem, pois, o Dr. Miguel Sousa Tavares quando, no Expresso, salienta que "(...) Não há nenhuma comparação entre as dificuldades de hoje e as facilidades que Cavaco encontrou nos seus dez anos de governação e que desperdiçou lamentavelmente". É exactamente isto que eu penso. Se empurra para uma manifestação a tal geração à rasca, obviamente, que está a empurrar a geração que ele próprio, com as suas políticas não soube formar. Esta geração dos 20/25 anos apanhou todo o seu tempo de Primeiro-Ministro, saliento, durante o qual, no que diz respeito à política educativa, mudou de Ministro nada menos do que cinco vezes (João de Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Diamantino Durão, Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite). E o que ficou desse tempo?
Antes das eleições presidenciais, numa passagem por um blogue (lamento não o poder identificar porque não registei, pelo que peço desculpa ao seu autor) copiei e guardei esta passagem que considerei interessante e correcta: "Mário Soares tem um brilhante CV em controlo da despesa pública (governos de 1977/78 e 1983-85). Cavaco Silva tem um brilhante CV no descalabro das contas públicas. Qualquer economista, se intelectualmente honesto e conhecer um pouco da nossa História recente, rejeita liminarmente este embuste chamado Cavaco Silva. Se ele for presidente da República, como pode ele pregar moralidade económico-financeira quando ele foi e é ainda o pai do MONSTRO?" Esta designação de "monstro" fica a dever-se ao Dr. Miguel Cadilhe em função de um campo minado por sistemas automáticos de despesa pública. Ora, se alguém, com responsabilidade governativa, foi despesista e absolutamente descontrolado, esse alguém tem nome: Cavaco Silva. Lembro-me, por exemplo, do Centro Cultural de Belém, uma obra inicialmente prevista de seis milhões de contos, ter uma derrapagem de quase sete vezes mais. E, curiosamente, ele próprio dizia "que raramente se enganava e raramente tinha dúvidas".
As suas desagradáveis declarações na noite eleitoral, não sabendo vencer com generosidade, e as mais recentes declarações no dia da tomada de posse, não prognosticam um mandato com a responsabilidade de ser o fiel da Constituição e a referência máxima dos portugueses. Os dados estão lançados. Agora, é uma questão de aguardar pela próxima.
Ilustração: Google Imagens.
5 comentários:
«Nunca se percebe bem o que ele quer»
MST
Caro amigo
O problema reside aí, na sua permanente e já fastidiosa ambiguidade. Mas será que a criatura sabe o que quer?
Para lá de querer o poder, tenho as minhas dúvidas de que saiba.
Obrigado pelo seu comentário.
Concordo, totalmente, consigo.
Só que o Povo não conseguiu perceber isso. Infelizmente.
Caro amigo
Eu não costumo sensurar o povo. Porque, em boa verdade, nesta farsa democrática, ele não tem verdadeiramente por onde escolher. Ou seja, apenas escolhe em que nádega quer apanhar o pontapé...
Meu Caro André
Quem diz que raramente se engana, possívelmente está com Alzeimer!
Dois mandatos com maioria absoluta, vacas gordas vindas da CEE, rabos à mostra na educação e, bastonadas nas manifestações, já tudo foi esquecido.
Porque não demitiu o governo após a apresentação do Orçamento de Estado?
Mais cinco anos em Belém? Pois claro .
Parece-me que é a grande diferença entre o Senhor de Alcains , que regeitou o bastão de Marechal e o sr. de Boliqueime que gosta de ir até ao Pulo do Lobo.
Um abraço. João
Senhor João
E,no entanto,espantosamente,o Senhor de Alcains,aceitou fazer parte da Comissão de Honra de Candidatura do sr. de Boliqueime!!!
Há coisas muito difíceis de entender...
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