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quarta-feira, 9 de março de 2011

SOBRESSALTOS DESTE 1985!


Do que ouvi pareceu-me que o Presidente da República concedeu um grande contributo ao seu partido (PSD), pois foram muito claras as posições de pensamento. A espaços fiquei com a sensção que estava a ouvir um candidato a Primeiro-Ministro. E não é isso que se espera de um Presidente. Qualquer pessoa espera que ele seja um árbitro no quadro de uma figura que tem de se mostrar abrangente.


Não gostei da intervenção do Doutor Cavaco Silva na tomada de posse de Presidente da República. Eu diria que se tratou de um discurso a abrir as portas a uma posição drástica quanto ao futuro deste governo.
Que "Portugal vive uma situação de emergência económica e financeira que é já, também, uma situação de emergência social" (...) que o “défice externo é elevado e permanente, por definição, insustentável” (...)  que é necessário "um alargado consenso político e social" (...) que "é preciso valorizar a actividade empresarial" (...) e que não podemos privilegiar grandes investimentos que não temos condições de financiar, que não contribuem para o crescimento da produtividade e que têm um efeito temporário e residual na criação de emprego. Não se trata de abandonar os nossos sonhos e ambições. Trata-se de sermos realistas (...)". Palavras que cada um diria, mas todas estas passagens, como salientou o Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, "pareceram-me excessivamente cruéis no diagnóstico e pouco ousadas na terapêutica" (...) "o país não saiu mais unido desta tomada de posse". Digo eu, pelo contrário.
O Presidente, bem ao seu estilo político, que se esquece do que foi o seu passado enquanto Primeiro-Ministro, tal como outros, fala e fala dos diagnósticos que todos conhecem, mas nunca adianta e não sugere caminhos firmes que, em sua opinião, devem ser seguidos. Esquece-se, até, do gravíssimo problema internacional em que todos os países estão envolvidos. Dir-se-á que não lhe compete governar. Obviamente que sim, mas então não pode, nem deve ser tão cáustico no diagnóstico e tão frágil nas medidas. E neste aspecto, no das medidas, há muitas formas de dizer não dizendo. De chamar à atenção sem criar situações de ruptura. Curiosamente, a edição on-line do SOL dizia hoje que o discurso de Cavaco tinha entusiasmado a "direita". Foi essa a interpretação que fiz. 
Ao Presidente espera-se que não seja partidário, mas um potenciador das energias do País, deixando aos partidos e à Assembleia da República o debate político. Do que ouvi pareceu-me que o Presidente concedeu um grande contributo ao seu partido (PSD), pois foram muito claras as posições de pensamento. A espaços fiquei, inclusive, com a sensção que estava a ouvir um candidato a Primeiro-Ministro. E não é isso que se espera de um Presidente. Qualquer pessoa espera que ele seja um árbitro no quadro de uma figura que tem de se mostrar abrangente.
Com um discurso destes, penso que não há retorno quanto a eleições antecipadas. É esta a minha leitura. Aliás, a chegada atrasada do Primeiro-Ministro à cerimónia denuncia, claramente, que as águas começam a ficar separadas. E digo isto porque, a este nível, o protocolo não pode falhar. E se falhou traz água no bico. Bom, mas se é para clarificar, vamos a isso, quanto antes melhor. Só que o Presidente vai ficar com o odioso na mão: meses com o País em gestão e com resultados nas urnas que não vão alterar seja o que for, no que concerne à correlação de forças no hemiciclo. É a minha convicção.
NOTA:
A edição de hoje (10.03.11) do «El Pais", uns dos jornais com mais tiragem em Espanha, classificou o discurso do Presidente da República de "catastrofista".
Ilustração: Google Imagens.

3 comentários:

Espaço do João disse...

Fiquei aterrorizado.
Fez-me lembrar o manholas do Américo Thomaz. O que me vale é que já não temos a frota do bacalhau, pois caso contrário iria bater com os costados aos mares da Gronelândia.
Sinto vergonha como português de estar sob os desmandos dum presidente que tem e, teve tanta culpa do estado da nação actual.
Quanto dinheiro mal gasto no seu consulado, vindo da CEE quando era governo? Foi o pior 1º ministro que Portugal já teve até aos dias de hoje, foi o maior cínico da política portuguesa, foi o mais tenebroso e, o mais manhoso desde 1974. NÃO É, NUNCA FOI, NEM SERÁ O MEU PRESIDENTE.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Nem o meu, meu Caro João.

Fernando Vouga disse...

«Não gostei da intervenção do Doutor Cavaco Silva na tomada de posse de Presidente da República.»

Caro amigo

Eu também não gostei.
Um dos seus piores defeitos é não assumir plena e frontalmente as suas posições. Fala sempre em rodeios, procurando agradar a gregos e troianos ou, no mínimo, deixar aberto um caminho de fuga às suas responsabilidades. Por outras palavras, prefere "mandar indirectas", em vez de apontar o dedo.
Nesse contexto, o que ele disse é susceptível de diversas leituras.

Penso que o partido do Governo fez uma má opção: em vez de esvasiar o discurso, deu-lhe demasiado relevo pondo-lhe na boca palavras que ele, formalmente, não disse. Ou será uma mera tentativa de, uma vez mais, se vitimizar?