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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

NEM O PRESIDENTE AJUDA


Nem a brincar devem ser ditas, pelo efeito que elas podem produzir. É por isso que muitos chegam à escola e infernizam a vida dos professores e geram a indisciplina.


"Ensino os meus netos a serem malcriados, mas não muito pesadamente", disse para aí o Senhor Presidente do Governo Regional. Seja em que contexto for, seja ou não retirada do contexto, esta frase é inqualificável. Conjuga-se com outras, absolutamente disparatadas, que colocam em causa uma Educação séria, de rigor, de disciplina e de respeito. Nem a brincar devem ser ditas, pelo efeito que elas podem produzir. É por isso que muitos chegam à escola e infernizam a vida dos professores e geram a indisciplina. Repudio esta espécie de berlusconização da vida pública, onde alguns acham graça, aquilo que não tem. A um líder político exige-se cuidado na transmissão das palavras, pela referência social que devem assumir.
Quando a li exclamei: uma frase destas é pior que o chumbo do PSD à proposta de Regime Jurídico do Sistema Educativo, apresentado pelo grupo parlamentar do PS. Porque aí coloca-se, apenas, uma estrita visão política do problema. No caso em apreço, a frase arrasta consigo uma força perlocutória, isto é, ela é capaz de produzir efeitos em quem ouve. E esses efeitos, em uma população que precisa de exemplos e de ser conduzida de forma positiva, com actos de respeito, obviamente, repito, seja em que contexto for, é perniciosa e lamentável. Aquela frase, note-se, não foi dita por Herman José ou um humorista qualquer e, porventura, com um sentido irónico. Foi dita pelo Presidente do Governo o que pode explicar o sentimento que transporta do processo educativo.
Há ali qualquer coisa de educação espartana. Segundo o historiador H. Marrou, "a educação do cidadão espartano não é a de um cavalheiro, mas a de um soldado. Insere-se numa atmosfera "política". O objectivo era dar a cada indivíduo preparação física, coragem e hábitos de obediência total às leis da cidade de forma a torná-lo um soldado insuperável em bravura em que o indivíduo estivesse absorvido pelo cidadão". Por isso, diz-nos Monroe, pouco havia no seu ideal da "vida bela e feliz" dos atenienses. Faltavam aos espartanos os sentimentos mais delicados e a sensibilidade dos atenienses para a harmonia na conduta e especialmente para as amenidades da vida, ou para o seu aspecto cultural". Não sei se essa é a preocupação do presidente relativamente ao Povo da Madeira, isto é, a de "criar soldados prontos a devotarem a sua vida à pátria" (leia-se Madeira), sendo tudo o resto irrelevante. A obediência em primeiro lugar.
Exagero meu? Talvez não. Quando se passa em Câmara de Lobos por um jovem que tinha perdido o ano escolar e se diz, não te preocupes, eu também perdi três anos e sou Presidente, penso que está tudo dito. As palavras e as frases não são neutras. Elas transportam significados que não podemos ignorar.
A pergunta fica: como dar dar a volta a esta mentalidade?
Ilustração: Google Imagens.

3 comentários:

Espaço do João disse...

Falta de chá, meu amigo. Se todos bebessem chá em pequeno, nada disto acontecia.
Eu também tenho netos, mas não tolero a falta de educação. Até que fui criado no seio duma família muito rígida. Meus pais eram paupérrimose,analfabetos. Desde muito novo fui obrigado a trabalhar, e a família que me acolheu era tipo militar. Comi o pão que o diabo amassou. Sinto ainda a falta de alguma tarei que não levei. O pouco que subi na vida foi a pulso, mas com tenacidade suficiente para singrar. A vida errante que levei por este mundo percorrido, os seus ensinamentos, a persistência para ser alguém na vida, nunca me tirou o ânimo. Estudei , trabalhei, sofri na carne muitas amarguras e torturas , mas a minha força anímica foi suficiente para vencer. Lutei contra ventos e marés, não fui nenhum D. Quixote a lutar contra moinhos de vento, mas encontrei a minha Dulcineia. Um dia havemos de nos encontrar, tenho a certeza.Então poderemos confrontar-nos mas com ideias francas e valorosas. Receba um grande abraço. João.

André Escórcio disse...

Muito, mas muito obrigado pelo seu comentário. Apenas uma síntese: gostaria de o conhecer. Pessoas assim, escasseiam.
Obrigado.

Anónimo disse...

E' o que se pode esperar de uma pessoa mal-educada, infelizmente. Mas cada povo tem o que merece!
CM