O Senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, apelou ontem ao Estado e à sociedade civil para atraírem e acarinharem os portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro e que pretendem regressar ao seu País. Fica-lhe bem, reconheço, mas o Senhor Presidente sabe que isso é de todo impossível. E julgo mais, que o Senhor Presidente, nesta matéria deveria abster-se deste tipo de declarações ou, no mínimo, ter mais cuidado. É que aquela sugestão traz no seu bojo muita hipocrisia. Quando o País não encontra solução para os seus milhares de desempregados, como poderá abrir as portas aos que tiveram de emigrar para sobreviver?
Os próprios emigrantes de longa duração, que estabilizaram as suas vidas, sabem que é assim. Ainda no Verão passado, perto de Lausane (Suíça), entrei num hiper. Quando procurava um produto ouço uma voz portuguesa. Abeirei-me. Ela desempenhava funções, segundo deduzi, de alguma responsabilidade. Falámos durante algum tempo e disse-me que, regressar, nem pensar. Só em férias porque continuava a gostar de Portugal. E deu-me, como exemplo, a irmã que se tendo licenciado em Línguas e Literaturas e, depois de uma fracassada profissionalização numa escola em Portugal (são milhares os que estão nesta situação), teve de rumar à Suíça onde trabalha num restaurante. Ganha muito mais do que um professor em Portugal, disse-me. Ademais, a minha interlocutora, sublinhou que era casada, que tinha filhos e com o que o casal ganha, tem já uma casa paga na aldeia onde nasceu.
Ora bem, outra coisa seria o Senhor Presidente da República falar daqueles que, nos países de acolhimento, vivem nas margens da sociedade, com imensas dificuldades e que necessitam que a Pátria olhe por eles. Porque são portugueses. E há muitos nesta situação. Outra coisa é atrair e acarinhar, genericamente, os que querem regressar, pois isso constitui uma leviandade que, face às circunstâncias conjunturais, não é aceitável para um Presidente da República. Antes de falar, desde logo, deveria olhar para os milhares de jovens portugueses que enchem as bancadas dos treinos da selecção nacional e questionar-se sobre as possibilidades que eles teriam em Portugal.
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