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terça-feira, 19 de agosto de 2008

PRÓXIMO ANO PARLAMENTAR

Preocupa-me o próximo ano político. A segunda sessão legislativa da presente legislatura, não há volta a dar, será, certamente, a de maior radicalismo da história do parlamento da Madeira. Estou convicto que ultrapassará, em muito, a caracterização do que foi o último ano parlamentar. Há razões que justificam esta minha convicção. Desde logo pelo desequilíbrio, numérico e não só, em vários campos de análise, entre o poder e a oposição.
O sumário pode ter a seguinte configuração:
PODER:
a) Desgaste de 32 anos de domínio absoluto, com muito rabo para pisar;
b) Dificuldade em manter uma auréola de seriedade e honestidade políticas;
c) Receio dos pequenos poderes, autárquicos, associativos e de toda a cadeia de administrativa secundária, em perder as benesses daí resultantes;
d) O peso da dívida pública;
e) Os interesses dos lóbis económicos;
f) Incapacidade para alterar o paradigma económico;
OPOSIÇÃO
a) A ausência de equilíbrio entre o poder e a oposição (70,2% contra 29,8%);
b) Falta de respeito pelas suas propostas;
c) Dificuldade no acesso aos dossiês da governação;
d) Cansaço e perda de personalidades credíveis aos olhos da sociedade;
CONSEQUÊNCIAS
a) Condicionamento dos actos fiscalizadores da oposição relativamente ao poder;
b) Constrangimento no uso da palavra através das normas regimentais;
c) Uso sistemático da palavra com fins intimidatórios e ofensivos;
d) Crescimento do caciquismo local;
e) Diminuição dos actos de cidadania;
e) Crescimento de um clima de medo e de impunidade;
f) Bloqueio da Comunicação Social;
Trata-se de um processo que, paulatinamente, foi urdido e que hoje atingiu o seu ponto mais crítico. Aqui chegados, um poder absoluto como este, legítimo mas Deus bem sabe como, só tem uma forma para ocultar a verdadeira situação da Madeira e essa é, indisfarçavelmente, a de não permitir folgas nos parafusos e roscas do sistema. O problema já não é governar bem, de forma criativa e sustentável, mas manter a máquina em estado usado, com pintura atraente, pneus novos e jantes limpas, embora com um motor que o proíbe andar na via rápida do desenvolvimento económico, social e cultural. Este governo mais parece um antigo autocarro do Amparo a subir a ladeira!
Este quadro, sumariamente descrito, tem e terá inevitáveis consequências no funcionamento do Parlamento. Eu lamento, porque a sede do debate político deveria ser o exemplo máximo do respeito, da luta democrática na defesa de princípios, de valores e de teses de interesse colectivo, sede da Democracia aberta entre poder e oposição, sede, também, da tolerância e nunca um espaço que serve, apenas, de requisito mínimo para justificar os actos electivos e legislativos.

2 comentários:

A CAGARRA disse...

Parabéns!

É um excelente diagnóstico da actual situação da Madeira.

A questão que se levanta e à qual com toda a franqueza não sei responder é: Como ultrapassar esta situação?

André Escórcio disse...

Obrigado pelo comentário.
O meu texto apenas enquadra uma parte do problema. Existem outros aspectos de grande relevância.
A questão agora, que aborda com grande pertinência, é a de saber como se sai desta situação. Confesso que é muito complicado, sobretudo porque há um défice cultural muito grande e uma cega obediência a um homem a quem toleram tudo, desde a má educação até às estratégias políticas sem futuro.
Penso que as forças de oposição terão de se juntar nos pressupostos que os une, fazer emergir pessoas credíveis com um discurso político entendível e esperar, com paciência e determinação, que o Povo perceba que basta de ser actor de uma peça que acabará em tragédia para o seu lado.