Como diria G. Bachelard, não há verdades primeiras, só existem erros primeiros. E é no reconhecimento desses erros que se recomeça. Eu diria, que a Madeira poderá reconstruir o futuro!
O quadro político regional é terrivelmente assustador. Está aos olhos de qualquer mesmo daqueles partidariamente, eu diria, fundamentalistas. Os indicadores da economia regional, testemunhada na gravosa situação de 15.000 desempregados que atira a respectiva taxa para os impensáveis 12%, a angústia dos empresários atolados em difíceis compromissos, a pobreza que se multiplica a cada passo e atravessa a sociedade, acrescida agora, lamentavelmente, com a tragédia que se abateu sobre a Região, colocando a nu as suas fragilidades, espelham uma complexidade absolutamente desproporcional à capacidade de reacção de quem tem a responsabilidade de governar. Aliás, na “passerelle” televisiva, o fácies dos governantes perdeu altivez, desassombro, aquela imagem de quero, mando e posso. Olhamos e vemos caras preocupadas, macambúzias, testas franzidas, piando baixinho e de mão estendida para quem ontem ofendeu, tudo, resultado do peso da consciência dos tortuosos caminhos políticos seguidos, cuja inversão não é possível com um simples estalido de dedos. Já não conseguem transmitir sequer essa confiança que sabíamos balofa. Tanto assim é que, nas minhas relações sociais, observo que grandes e pequenos empresários olham desconfiados para a governação, começam a pôr em causa uma liderança que nunca esteve sustentada em consistentes opções. Dão-se conta do logro pelas fantasias alimentadas durante três décadas. Cruzo-me com empresários aflitos, desde a hotelaria à construção civil, sem cêntimo que lhes valha, abalados e interrogando-se como sair deste labirinto para o qual foram empurrados. E sinto o drama daqueles que sempre viveram com dignidade, com o essencial, e que hoje, consequência da maldade e de uma economia baseada na monocultura, foram atirados para as margens com elevados custos no equilíbrio familiar. Sinto o drama de uma Escola bloqueada, que não educa, não responsabiliza, não disciplina, não cria futuro, não inova, porque subjugada aos ditames de um pensamento retrógrado, hierarquizado e de medo. Sinto o drama dos profissionais de saúde e dos utentes, uns trabalhando no limite e na conflitualidade, por ausência de meios em função dos milhões em dívida, outros, deixando no balcão da farmácia medicamentos essenciais. Sinto o drama dos trabalhadores enredados no perverso e finito ciclo das obras compaginadas com os actos eleitorais. Assisto à negação de 5% no subsídio de insularidade, a um complemento de escassos € 50,00 aos pensionistas mais pobres, à negação da paridade com os impostos pagos na Região dos Açores, tudo porque há que rapar o máximo para manter a obra do herói ao som da “ópera do malandro”.
É evidente que ninguém mais pode ser responsabilizado senão quem deteve nas mãos as rédeas do poder absolutíssimo a todos os níveis. Quem pôs e dispôs, política e socialmente, quem definiu e determinou o quê, quando e como, quem reprimiu e insultou pessoas e adversários políticos, quem utilizou o púlpito e o adro para a farsa da “democracia directa”, quem acorrentou uma população inteira a falsos valores, castrando-a na capacidade de livres-pensadores, quem manteve a cabeça condicionada, o chapéu na mão e o pé descalço frente ao “senhor governo”. É esse o peso que estes governantes transportam, sentem e, inequivocamente, demonstram. É por isso que, há muito que este poder deveria ter saído da cena política, por completo esgotamento. Como diria G. Bachelard, não há verdades primeiras, só existem erros primeiros. E é no reconhecimento desses erros que se recomeça. Eu diria, que a Madeira poderá reconstruir o futuro!
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