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quinta-feira, 18 de março de 2010

SAIR DA ROTINA BAFIENTA

"Uma diocese frustrada, súbdita, gaga, sem saber sair de uma situação lamentável que provocou a si própria"

É isso, Padre Mário Tavares, "(...) a Igreja do poder ainda não soube libertar-se dos esquemas de domínio dos tempos da escravatura e do analfabetismo e tem tido dificuldade em pregar a liberdade como dom de Deus, dado a cada um dos seus filhos". Subscrevo-o na íntegra. Inocentemente, quando Dom António Carrilho aqui chegou, escrevi um artigo que terminava dizendo: "carrilhar, é preciso". Acreditei na possibilidade de um tempo novo, onde a Palavra fosse contextualizada na vida de cada um e na colectiva, naturalmente. Vi-o a almoçar no Apolo, no meio do Povo, no centro da "bilhardice" regional, e acreditei que o largo sorriso daria lugar, em simultâneo, ao Homem que trazia o novo, o subtil corte com o poder temporal instituído. Aos poucos, já aqui o disse uma vez, essa esperança de uma Igreja viva, moderna, atenta e libertadora, desvaneceu-se perante quadros que vou assistindo e que não auguram nada de bom face ao que dela era expectável receber. Lamento, enquanto seguidor da Palavra, não sentir essa comunhão de princípios e de valores que a Igreja, se quisesse, tão bem poderia operacionalizar. O tempo e no Templo já não há quem aguente a lengalenga, o ar bafiento, o repetitivo, a ausência de coragem para tocar nas feridas sociais, a incapacidade para, delicadamente mas sem rodeios, meter o dedo onde sangra, fazendo sentir que há muito por fazer e que esta sociedade pobre tem o direito ao amor, à educação, à saúde, ao trabalho e ao bem-estar físico, psíquico e social.
É isso, Padre Mário Tavares, concordo consigo quando clama: "(...) Senhor Bispo, este programa não é para renovar a diocese. É, antes, o retrato de uma diocese frustrada, súbdita, gaga, sem saber sair de uma situação lamentável que provocou a si própria". Lamento, porque é isso que qualquer um sente. Uma Igreja que não se liberta da pequenez dos poderes que por aí andam, que escravizam e matam, lenta mas seguramente, os princípios maiores que enquadram o respeito pela dignidade humana.
A caminho de três anos de apostolado, de chefia da Igreja madeirense, continuo como no primeiro dia e com o devido respeito: "carrilhar é preciso". Preocupações que alimento desde o tempo do Papa João XXIII, o Papa BOM que queria, ardentemente, que a Igreja mudasse de mentalidade, para poder melhor enfrentar e acompanhar as transformações do mundo moderno.
Ilustração: Google Imagens.

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