E assim vamos andando, encolhendo os ombros e despejando na sociedade as consequências de um sistema que precisa, urgentemente de ser implodido.
Nos últimos dias li duas "cartas do leitor" de significado maior para o sistema educativo. Por um lado, a do meu antigo Professor, hoje, meu distinto Amigo e Colega, Dr. António Marques da Silva; por outro, uma carta de uma leitora de nome Diana Rodrigues que, para além de corroborar as palavras do experiente professor, pede aos docentes que mudem "este estado de coisas". Nem mais.
Nos últimos dias li duas "cartas do leitor" de significado maior para o sistema educativo. Por um lado, a do meu antigo Professor, hoje, meu distinto Amigo e Colega, Dr. António Marques da Silva; por outro, uma carta de uma leitora de nome Diana Rodrigues que, para além de corroborar as palavras do experiente professor, pede aos docentes que mudem "este estado de coisas". Nem mais.
Curiosamente, ainda no último fim de semana, assisti a uma longa e sustentada intervenção do Dr. Roque Martins. A propósito da aflitiva situação social que a Região vive, o orador sublinhou, sem rodeios, que o problema que enfrentamos só pode ser resolvido pela via da "mudança de mentalidades" e esta só é possível através de um sistema educativo que, a prazo, rompa com o estado de pobreza de milhares enclausurados na ignorância e sem competências técnicas e profissionais para responder aos desafios do mundo que estamos a enfrentar. Todos, desde pessoas qualificadas até outros atentos a esta problemática, assumem a necessidade de rompimento com um modelo educativo que, demonstram os indicadores, nunca deveria ter sido implementado. Queixam-se muitos pais, queixam-se os professores, queixam-se os parceiros sociais, enfim, a sociedade queixa-se desta escola incapaz de produzir resultados e de combater a ignorância, enfim, só o governo da Região não percebe e, por isso, não consegue alterar o sistema a caminho de um paradigma que vise a excelência.
No meio disto, oiço, no decorrer do congresso do PSD, o presidente do governo regional, sublinhar, julgo que dez medidas para, no seu entendimento, retirar Portugal da situação difícil em que se encontra. E uma dessas medidas aponta, exactamente, para uma revolução no sistema educativo. Por momentos pensei estar a ouvir Frei Tomás. Meu Caro Senhor, então tem por aqui, nas mãos, enquanto "único importante", as rédeas do processo, a capacidade política para romper com o triste quadro com o qual nos confrontamos e nunca deu um passo? Ora bem, essa "revolução" nunca foi feita talvez por dois motivos: primeiro, porque não sabe como operacionalizar; segundo, embora isto me seja penoso afirmar, há uma clara intenção de manter o povo com um baixo nível cultural. Por aí torna-se fácil ganhar o poder. Uma escola a sério, que saiba separar o essencial do acessório, que promova a qualidade e a excelência, desenvolve, obviamente, capacidades que, tarde ou cedo, colocam as pessoas a duvidar do que lhe dizem. Pessoas com uma formação sustentada no conhecimento e na capacidade de cruzamento da informação, tornam-se opinativas, com capacidade inovadora e criadora e este quadro não interessa nas designadas democracias formais e tendencialmente musculadas. Há que manter um nível q.b., uma nata que disponta e que logo é absorvida pelos tentáculos do poder e quanto aos outros, pois que carreguem a Cruz! É esta a lógica do sistema que qualquer análise, apartidária, descobre a partir dos quadros que a sociedade desenvolve.
É por isso que não se assistem a mudanças estruturantes de um pensamento estratégico na construção do futuro. Todas as propostas apresentadas na Assembleia são chumbadas e evita-se que o Secretário da Educação responda perante os Deputados. Vivemos num círculo fechado, onde as próprias Direcções Executivas, subordinadas a uma dura lógica hierárquica que coarcta a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, tornam-se incapazes de dizer NÃO. Como sublinhou o Doutor Licínio Lima, da Universidade do Minho, a autonomia nas escolas está condicionada pelo princípio: "sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós". Portanto, que podem os professores fazer? Manifestarem-se, talvez. Mas nem isso. Quando, em Lisboa convergiram mais de 100.000 para dizer NÃO ao Ministério da Educação, aqui na Madeira, apenas quatro encontraram-se frente à Jaime Moniz. Um deles foi eu. Mais tarde, em um universo de quase 7000 professores, o principal sindicato de professores da Madeira (SPM), julgo que a muito custo, reuniu entre 200 a 300 professores no parque de Santa Catarina. Estive lá e assisti. Ora, aquelas "Cartas do Leitor" fazem todo o sentido, todavia, o medo que percorre a Madeira de lés-a-lés, conduz a esta triste situação de muito poucos se atreverem a dizer que o caminho está errado. E assim vamos andando, encolhendo os ombros e despejando na sociedade as consequências de um sistema que precisa, urgentemente de ser implodido.
Ilustração: Google Imagens.
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