É por isso que entendo que não há nada a esperar deste governo que se mostra bloqueado, insensível, esgotado por via dos "monstros" que gerou, incapaz de um rasgo gerador de alguma confiança. Este governo regional parou no tempo, encontra-se num labirinto, estonteado por não encontrar a saída para as dificuldades. E ao contrário do que seria expectável, até pela experiência governativa de 36 anos consecutivos, a única coisa pela qual luta é a "revisão constitucional". Como se ela resolvesse o problema dos 15.000 desempregados, dos 30% de pobres, a falência de empresas...
A venda do ouro só acrescenta pobreza à pobreza |
A pobreza está na ordem do dia. Ela cresce a olhos vistos e com sinais muito preocupantes. Não é apenas a fome, o corte nas despesas básicas obrigatórias, mas os sinais de crescente violência que, aliás, a comunicação social tem feito eco. A par disto, multiplicam-se, como cogumelos, as lojas que sacam ouro aos pobres dedos dos cidadãos. Tudo o que lá por casa existe, as recordações deixadas, as memórias sentimentais, tudo vai para cima de um balcão por troca de uns efémeros euros. Os anúncios com os quais somos, diariamente, confrontados trazem no seu bojo qualquer coisa própria de aves de rapina, de aproveitamento ganancioso da miséria e das aflições sentidas. É evidente que em situação de grande constrangimento, lá diz o povo, "é melhor que se vão os anéis e que fiquem os dedos", todavia, não deixa de ser penosa a constatação da realidade.
Isto deixa-me constrangido porque significa acrescentar pobreza à pobreza. Os euros vão, em um ápice. Porventura, no momento da venda, o dinheiro já tem destino certo. Parece-me, óbvio. Ninguém se despoja dos seus parcos recursos para as não prioridades da vida. Se entrega é porque a aflição chegou ao extremo, pela via do desemprego, pela via do salário não recebido a tempo e horas, pelo aumento do spread, pelas despesas de educação e de saúde, enfim, por múltiplos aspectos. Num quadro destes necessário se tornaria que a Madeira tivesse um Governo atento às questões de natureza social. E não temos. Um governo que tivesse a coragem de mudar de paradigma económico, gerador de emprego, um governo preocupado em atenuar as consequências das medidas de austeridade, que assumisse as medidas de contenção da despesa pública no sentido de ir ao encontro dos que estão a passar mal. Um governo capaz de dizer não a certos projectos sem retorno económico e social e mais preocupado com os sectores mais vulneráveis da sociedade. Um governo menos preocupado com as eleições seguintes e mais apostado nas pessoas. E não temos.
É por isso que entendo que não há nada a esperar deste governo que se mostra bloqueado, insensível, esgotado por via dos "monstros" que gerou, incapaz de um rasgo gerador de alguma confiança. Este governo regional parou no tempo, encontra-se num labirinto, estonteado por não encontrar a saída para as dificuldades. E ao contrário do que seria expectável, até pela experiência governativa de 36 anos consecutivos, a única coisa pela qual luta é a "revisão constitucional". Como se ela resolvesse o problema dos 15.000 desempregados, dos 30% de pobres, a falência de empresas, o pagamento a tempo e horas das dívidas, a situação dos empresários aflitos, o pagamento à banca (2012) entre 225 e 250 milhões o que significa que mais de 20% do nosso Orçamento anual ficará hipotecado ao pagamento das dívidas. Trata-se da mais pura mistificação, quando não é a Constituição da República que coloca entraves na aplicação de políticas sociais, não é o livro responsável pelo insucesso escolar; pelo desnorte nas políticas de saúde, pela preocupante crise no sector do Turismo, pelo não cumprimento dos instrumentos de planeamento, pela falência das empresas públicas, pela colossal dívida da Região, na ordem dos 6 mil milhões, que coloca as gerações futuras em situação muito complexa.
Sinceramente, quero lá saber da Revisão Constitucional. Precisamos sim de uma Revisão de Governo que consiga olhar para esta terra para que os anéis não tenham de sair dos dedos!
Ilustração: Google Imagens
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