Esta é a Madeira real, a Madeira onde os seus habitantes têm de falar baixinho, a Madeira anestesiada, sem poder de cidadania, sem capacidade de reagir à irresponsabilidade. Experimenta-se, não deu certo, paga-se e volta tudo ao normal. Entretanto, novas obras, novas inaugurações, novos discursos, novos ataques e a vida continua. Quem paga? O povo, claro!
Porque raio a culpa, na Madeira, morre sempre solteira? Rima e é verdade! |
Se os estudos só foram elaborados depois da catástrofe de 20 de Fevereiro, é muito grave, se não existiu planeamento urbanístico, pior ainda. Em um caso ou outro constituia, numa Região de vivência Democrática e com um alto sentido cívico, constituia motivo para que todos os responsáveis já tivessem colocado os seus lugares à disposição ou, então, já tinham sido demitidos. Numa empresa privada, um Engenheiro que cometesse um erro que levasse à perda de muitos milhões, nem ouvido era, tinha um despedimento certo e por e.mail. Mas, por estas banda, o Engenheiro que, "carinhosamente", o Deputado Edgar Silva apelida de "engenheiro da destruição", refiro-me ao Senhor Engenheiro Santos Costa, permanece no governo, imune a qualquer responsabilidade política. E num tempo de crise, de cofre vazio, voarão uns larguíssimos milhões (tenho a informação do quantitativo, apenas por confirmar), que tanta falta fazem a outros sectores da governação. Ao promotor daquela obra terá saído uma espécie de lotaria, pois não acredito que esta operação lhe traga qualquer prejuizo. E no meio disto, diz o Secretário Regional, que os projectos estão a ser realizados com todo o cuidado e com todos os estudos necessários, que envolvem mais de 50 técnicos e outros tantos projectistas, salienta o DN (...), na vertente segurança que assume particular importância em toda a intervenção prevista, permitindo encarar os fenómenos da Natureza com uma maior confiança. Esta posição política, revolta qualquer pessoa, porque nela descobre-se uma clara tentativa de branqueamento das responsabilidades. O ar sereno com que o Senhor Secretário aparece na página 10 do DN, dá a entender aos desprevenidos que nada aconteceu, que nada existe a montante deste problema, que a irresponsabilidade política morrerá solteira e que ninguém autorizou um conjunto de obras que vieram a se mostrar inapropriadas, exactamente contrárias àquilo que tantos lembraram e, por isso, foram enxovalhados na praça pública. Só agora percebeu que terá de existir um percurso de escoamento a céu aberto para aumentar o poder de vazão das ribeiras.
Ora bem, esta é a Madeira real, a Madeira onde os seus habitantes têm de falar baixinho, a Madeira anestesiada, sem poder de cidadania, sem capacidade de reagir à irresponsabilidade. Experimenta-se, não deu certo, paga-se e volta tudo ao normal. Entretanto, novas obras, novas inaugurações, novos discursos, novos ataques e a vida continua. Quem paga? O povo, claro!.
Ilustração: Google Imagens.
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