"Esclareceu" na sua qualidade de Engenheiro Civil, não esclareceu na qualidade de Educador, de Psicólogo, de Sociólogo ou de uma qualquer outra área afim. Defendeu o indefensável chegando ao ponto de assumir, obviamente, "que não faz sentido avaliar o modelo em causa". Para este (des)governo nada deve ser avaliado, porque foi tocado pelo dom da infalibilidade.
O Sistema Educativo precisa de governantes humildes e dispensa os que se julgam portadores de certezas absolutas. |
O JM de hoje coloca, em foco, o problema das Escolas a Tempo Inteiro, um assunto que o DN, na sua edição de 15 de Outubro de 2010 equacionou em múltiplas variáveis, num excelente trabalho do Jornalista Luís Calisto. Digamos que o Jornal Oficial, o Jornal Controlado pelo Poder, veio tentar justificar e defender a sua dama. Ninguém estava à espera, certamente, que outra coisa não acontecesse. Para mim não correspondeu a qualquer surpresa. Ademais, o Director Regional de Planeamento e Recursos Educativos da Madeira fez muito bem em "esclarecer" a problemática. "Esclareceu" na sua qualidade de Engenheiro Civil, não esclareceu na qualidade de Educador, de Psicólogo, de Sociólogo ou de uma qualquer outra área afim. Defendeu o indefensável chegando ao ponto de assumir, obviamente, "que não faz sentido avaliar o modelo em causa". Para este (des)governo nada deve ser avaliado, porque foi tocado pelo dom da infalibilidade. É o primeiro sinal que o Projecto do PS será chumbado na Assembleia Legislativa da Madeira, para "contentamento" do governo e prejuízo das crianças, pais e encarregados de educação. Mas o Engenheiro disse mais: que devemos ver a Escola a Tempo Inteiro "muito mais pelos seus efeitos sociais e pelo que deu a ganhar aos seus alunos e famílias, do que pelos seus sucessos educativos". ESPANTOSO! Estamos conversados porque subsiste aqui uma total confusão.
Ora bem, desde logo, todos os sistemas, modelos, etc., devem subordinar-se a uma avaliação. E essa avaliação implica necessários estudos. E sobre esta matéria tenho dados que a seu tempo serão públicos. Depois, pergunto, quais efeitos sociais, à luz do que especialistas vários assumem como altamente nocivos? Depois, ainda, "deu a ganhar às famílias", pois, através da "escravização dos pais" como salientou o investigador Santana Castilho? Então, para que serve a ETI se o objectivo que subjaz não é o sucesso educativo mas o que dá a ganhar às famílias? Uma vez mais, estamos conversados.
O que o Director Regional não quer ver (mas sabe, porque reconheço-lhe inteligência) é que a Escola a Tempo Inteiro constitui uma resposta certa para um problema errado. E o que está errado é a organização social, o mundo laboral e a capacidade de produzir mais em menos horas de trabalho. O que está em causa é o respeito pela família que implica não termos pais a meio tempo ou avós a tempo inteiro. A defesa da ETI, sublinha o Mestre Paulo Guinote, "é a admissão de um fracasso, de uma derrota e não o seu contrário".
É aqui que se deve centrar a discussão e não em papel com letras que não adiantam nada. É preciso ir ao âmago do problema, à sua centralidade, à importância da emancipação e reconhecimento da família neste processo. O sistema não pode nem deve responder a absurdas necessidades, porque a missão e vocação da Escola não é a de remediadora social. A Escola encerra um conjunto de objectivos bem definidos e nesses objectivos não cabem certamente as funções de "armazém de crianças" no sentido que o Dr. Daniel Sampaio enquadra. Posso admitir que a ETI tivesse nascido de uma necessidade, eu sublinharia, temporária, para dar resposta às insuficiências da organização social, todavia, é dever de quem governa não laborar no erro e, pelo contrário, dar contributos sérios e consistentes no sentido de uma mudança, graduada no tempo, que corresponda a uma sociedade trabalhadora, empreendedora, geradora de resultados económicos, que possibilite uma melhor distribuição da riqueza e melhor bem-estar às pessoas.
Esta procissão ainda vai no adro, muito será discutido, porque há relatórios sobre esta matéria. É preciso que o governo não se esqueça desse pormenor.
Ilustração: Google Imagens.
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