Não basta, por isso, dizer que "todo o Homem é meu irmão" (Paulo VI), que se torna necessário "uma caridade organizada no âmbito da fé viva", no quadro da formação do "coração para uma alma verdadeiramente cristã" (Dom António Carrilho), simplesmente porque, esse é um campo minado, feito de palavras bonitas, bíblicas, mas que não rompe com o círculo vicioso da pobreza. Quem tem de estar com "o coração aberto aos Homens" são os políticos, os que deveriam governar ao invés de se governarem.
Não basta, por isso, dizer que "todo o Homem é meu irmão" (Paulo VI), que se torna necessário "uma caridade organizada no âmbito da fé viva", no quadro da formação do "coração para uma alma verdadeiramente cristã" (Dom António Carrilho), simplesmente porque, esse é um campo minado, feito de palavras bonitas, bíblicas, mas que não rompe com o círculo vicioso da pobreza. Quem tem de estar com "o coração aberto aos Homens" são os políticos, os que deveriam governar ao invés de se governarem.
Extensas mesas com pacotes com géneros alimentícios. O formato, hoje, é diferente, mas a "Caridade" a mesma. O caminho não pode ser este. |
Não gosto de utilizar a palavra CARIDADE. Sei que é uma "virtude" cristã que se enquadra no "amar o próximo como a si mesmo". Só que essa palavra acaba por arrastar uma forma de actuação política que não me agrada. Nunca me agradou, desde os tempos que, animado pelo sentimento de solidariedade, no âmbito de uma tal Conferência de S. Vicente de Paulo, julgo que assim se chamava, ou, ainda mais cedo, na adolescência, através da antiga "Mocidade Portuguesa", um grupo de jovens no qual me enquadrava, pedíamos por aí, fazíamos uma série de cabazes de compras e íamos, por furnas e casebres, entregar a "esmola", o apoio possível. Por vezes, pedíamos aos armazéns grossistas, distribuíamos em sacos de papel os produtos recolhidos e enchíamos o cabaz dos pobres. Estávamos nos anos 60, há quarenta e muitos anos! Sei, portanto, o que é a pobreza mas a palavra caridade nunca me encaixou, primeiro, nos meus ouvidos, depois, nos meus conceitos. O sentimento que nutria é que era possível acabar com aquela dor, de adultos e crianças, mas através de outros processos. E sobretudo, interrogava-me, sobre as razões da miséria. No fundo a resposta que encontrava e que também ma davam, era que eram pobres, e ponto final! Portanto, quais e através de que meios, sinceramente, não me lembro de, por mim próprio ou através de outras pessoas, ter compreendido as respostas. Do que me recordo, é que me fazia muita confusão eu ter o mínimo e os outros nada. Recordo-me, também, no final dessa década, ter escrevinhado e publicado no Jornal da Madeira, então liderado pelo Sociólogo Paquete de Oliveira, um "pobre" texto sobre a pobreza. Tenho esse recorte algures nos meus arquivos.
Distribui, em conjunto com os meus amigos da altura, muitos cabazes, que atenuaram a privação, mas nada resolveram no plano estrutural. |
Quando falo da escola estou a falar da sua gratuitidade, do direito à alimentação, do direito aos transportes, tudo isto, distante daquela PORT(C)ARIA que constitui outra miserável migalha. Mas estou a falar, também, dos métodos pedagógicos, dos programas ajustados, dos apoios complementares desde o início, das condições de estudo em casa, da ligação à família, do número de alunos por turma e, entre outros aspectos, da própria formação específica dos professores. Por aí garante-se, em conjunto com as mudanças sociais, o esbatimento da desigualdade e, naturalmente, as condições para o sucesso.
O Povo é bombo desta festa de Homens de coração limitado! |
A pobreza é constituída por dois elementos, salientou o Professor Alfredo Bruto da Costa, numa recente conferência. A PRIVAÇÃO (de recursos) e a FALTA DE RECURSOS (causa). A privação tem a ver com a satisfação das necessidades básicas o que envolve várias frentes de "batalha" simultâneas; a falta de recursos liga-se com a ausência de fontes de rendimento, acesso a bens e serviços (educação e saúde) e outros, onde se inclui o poder da rede de relações sociais. Por isso, dizia o Professor, temos de dar a cana e o peixe, em simultâneo, colocando o nosso poder ao serviço dos que não têm poder.
Ilustração: fotos próprias (1 e 2) e Google Imagens.
1 comentário:
Senhor Professor
A Caridade é a Virtude dos hipócritas!
Um bom feriado para si.
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