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terça-feira, 26 de outubro de 2010

O ESTADO DA EDUCAÇÃO


Em 31 escolas, 26 estão situadas entre os lugares 360º e 1228º, com catorze acima do milésimo lugar entre 1295 estabelecimentos de ensino básico do País. Mais, em 25 escolas a média foi inferior ao nível 3, e em apenas 6 a média foi igual o superior a 3. Nenhuma atingiu o nível 4 e muito menos o 5. A isto chama-se, desde logo, o desastre da política regional de Educação.

A Educação está num caos.
São os resultados que provam.
O Relatório sobre o Estado da Educação não adianta nada que não soubéssemos. Apenas confirma, entre outros aspectos, os piores resultados do País na retenção, no abandono, na qualificação profissional, aos quais se junta o péssimo aproveitamento escolar global dos que se submetem aos exames de 9º e 12º ano.
O problema é que perante os factos o governo continua a ignorar e a enjeitar responsabilidades. Esqueçamos as preocupantes posições do Ensino Secundário e fixemo-nos no Básico, como indicador, sobretudo porque se trata de idades estruturantes do futuro. E o que verificamos nos “ranking’s” nacionais? Em 31 escolas, 26 estão situadas entre os lugares 360º e 1228º, com catorze acima do milésimo lugar entre 1295 estabelecimentos de ensino básico do País. Mais, em 25 escolas a média foi inferior ao nível 3, e em apenas 6 a média foi igual o superior a 3. Nenhuma atingiu o nível 4 e muito menos o 5. A isto chama-se, desde logo, o desastre da política regional de Educação.
Mas nada disto é estranho. O Presidente do Governo, há tempos, disse para uma criança que ficou retida: não te importes, eu também perdi e hoje sou presidente. Grande exemplo! Há poucos dias afirmou não estar preocupado com a posição da Madeira no "ranking das escolas", uma vez que o mesmo foi elaborado com base em “critérios artificiais”. Ora, um responsável político dizer uma enormidade destas deveria ser "demitido". Pelo Povo, claro. E por três razões: primeiro, porque está a atentar contra o futuro da Madeira e da sua população; segundo, porque deveria mostrar-se preocupado e pedir responsabilidades ao Secretário e ao Director Regional; terceiro, porque transmite a ideia de desconhecimento sobre a forma como decorrem as avaliações dos exame nacionais.
A Madeira precisa de uma
"Revolução Integrada"
no sector da Educação.
Atenta contra o futuro da Madeira porque sucessivas gerações mal preparadas não poderão responder, eficazmente, aos desafios deste novo mundo onde se exigem qualificações de excelência. Depois, ao não pedir responsabilidades aos seus directos responsáveis pelo sector, denuncia que quer uma população ignorante onde possa semear a sua política e continuar a controlar o povo. Finalmente, o Presidente do Governo desconhece que os exames são iguais do Minho ao Corvo, os programas iguais e as avaliações obedecem a critérios rigorosos, com os correctores sujeitos a formação própria no sentido de não se verificarem discrepâncias significativas entre correctores. Portanto, os “ranking’s”, como indicador, têm de ser considerados e não desvalorizados.
Pode parecer perverso mas é a realidade que se esconde para além do folclore político: o presidente do governo não quer pessoas educadas, confiantes e de livre pensamento, porque essas ficam fora de controlo. A manutenção de uma certa ignorância faz parte deste sistema e do seu projecto. O analfabetismo, no conceito do nosso tempo, é a primeira causa do nosso atraso e a justificação para 36 anos de poder absoluto. Uma população sobre a qual tivesse recaído uma honesta política educativa, não andava por aí anestesiada, pobre e dependente. Pelo contrário, era empreendedora e construtora do seu futuro, com reflexos na economia regional e não se deixaria enredar nesta manhosa política.
A pergunta: quais os princípios
e valores desta Escola?
O governo sabe que o sistema educativo não se confina ao parque infra-estrutural e aos rituais das inaugurações. Tão importante quanto as condições de trabalho é o que se operacionaliza no interior do espaço escolar: como é que a escola está organizada, que valores defende, que projecto educativo dispõe, que autonomia administrativa, gestionária e pedagógica desfruta, que orçamento tem, que formação contínua oferece, qual o rigor e exigência nas aprendizagens, que apoio social concede no sentido do esbatimento das assimetrias, enfim, há uma panóplia de factores que são determinantes no sucesso. E neste aspecto, trinta e seis anos depois, face a estes resultados, temos de convir que, politicamente, o sistema falhou. Um sistema que apresenta estes resultados é, obviamente, um sistema condenado. E quem, com responsabilidades governativas, intencionalmente, não actua no âmago dos problemas, comete um crime social e um crime contra a sua terra.
É por isso que se torna necessário tornar a Educação numa bandeira. Porque em matéria de política educativa não se pode navegar à vista. É em torno dessa bandeira que são necessários consensos, abertura ao diálogo, diria mais, um pacto político para a educação. A manter-se a teimosia, outros resultados não serão possíveis, pois quem aposta na manutenção dos erros do passado não pode aspirar a outros resultados que não sejam os desse passado. A compaginação dos “ranking’s” dos sucessivos anos transmite-nos essa imagem.
A cura está a montante. 
Uma família pobre não pode
pensar numa Educação 
a 20 anos! 

A cura para o Sistema Educativo não se resolve com a política do penso-rápido. O sistema precisa de uma revolução que passa pelo número de alunos por escola e por turma, pela completa autonomia que respeite a identidade da Escola, pela diferenciação pedagógica, pela escola atractiva, pela cultura de desempenho e não pela classificação de desempenho, pela desburocratização, pela ausência de medo e de subserviência das direcções executivas e professores em geral, pela retirada da tralha que enche a escola de iniciativas em detrimento do essencial, pela investimento imediato ao primeiro sinal de não assimilação dos conteúdos, pelo respeito dos ritmos de aprendizagem, pela formação dos docentes numa perspectiva cultural e pela sua capacidade de saber dizer não, pelos currículos e programas, pelas atitudes que valorizem a dignidade pública da função docente, pelas políticas de família muito sérias e exigentes, pela escola enquanto espaço de respeito, de disciplina, de rigor e de caminho para a excelência. A cura está num ataque à organização social e às políticas económicas geradoras de emprego. Uma família pobre não pode pensar numa educação a 20 anos, pensa ao mês e à semana. As desigualdades reflectem-se na escola e é por isso que isto implica uma “revolução integrada” projectada para resultados que só poderão ser sensíveis quinze a vinte anos depois. Mas há que partir.
Porque as velhas formas de actuar, os velhos formatos não conseguem dar resposta aos desafios do futuro, porque, como salientou Alvin Toffler, os analfabetos do século XXI não são aqueles que não sabem ler nem escrever, mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender. Esta escola não está preparada para isso. Está preparada para dar sempre a mesma resposta mesmo que os quadros sejam distintos.
É preciso retirar a Educação
da zona negra.
E isso só épossível
com um "pacto Educativo"
Aliás, perante a vida que é sempre diferente, esta escola está condenada porque assenta no modelo absoluto, tipo pronto-a-vestir, quando precisamos de alta-costura e por medida. A escola está a seguir o modelo do governo, o modelo da verdade absoluta e da arrogância absoluta, compaginada com uma Secretaria Regional de Educação e Cultura(?), incapaz de perceber que um sistema quando se fecha sobre si próprio é gerador de galopante entropia. Este sistema não comunica, é avesso a dar e a receber, não permite adaptações conceptuais e, por isso mesmo, está a morrer como prova a incapacidade para resolver os problemas do dia-a-dia.
Concluo, por isso, que o Estado da Educação na Região é de falência. E já estamos a pagar muito caro pela ausência de investimento.
NOTA
A edição de hoje do DN reporta-se a esta situação. Ler aqui.
Ilustração: Google Imagens.

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