Há valores que são absolutamente escandalosos, não só porque atentam contra as prioridades sociais, mas porque acabam por subverter as próprias regras da Democracia. Ninguém entenderá que havendo uma legião de pobres em crescendo, existindo necessidades básicas por resolver, subsistindo milhares de facturas por liquidar, empresários aflitos, escolas sem dinheiro para cumprirem os seus projectos educativos, que um partido, porque tem 33 deputados, receba quase quatro milhões de euros, limpinhos...
É urgente a Reforma do Parlamento |
3,9 milhões de Euros recebe o PSD-Madeira, por ano, de transferências da Assembleia Legislativa da Madeira. Um valor exorbitante, verdadeiramente obsceno. Empiricamente, não tenho a menor dúvida relativamente a esta matéria: o exercício da democracia, para que ela funcione de facto, tem os seus custos. E neste pressuposto, penso que é melhor a subvenção pública suportar alguns encargos do que o financiamento privado. Julgo que é menor a distorção e maior a transparência. Confesso que nunca me dediquei a estudar as variáveis deste processo, mas é uma convicção baseada na experiência político-partidária. Mas há limites. Há valores que são absolutamente escandalosos, não só porque atentam contra as prioridades sociais, mas porque acabam por subverter as próprias regras da Democracia. Ninguém entenderá que havendo uma legião de pobres em crescendo, existindo necessidades básicas por resolver, subsistindo milhares de facturas por liquidar, empresários aflitos, escolas sem dinheiro para cumprirem os seus projectos educativos, que um partido, porque tem 33 deputados, receba quase quatro milhões de euros, limpinhos, isto é, com todos os seus Deputados pagos e todos os serviços da Assembleia disponíveis sem pagarem um cêntimo. É obsceno no campo das prioridades. Mas há um outro aspecto, o da subversão da Democracia. Numa legislatura, mais de 15 milhões de euros entram nos cofres partidários, o que significa uma abastança que permite,
Dinheiro público ao serviço da propaganda e da compra dos silêncios. |
depois, faustosas campanhas eleitorais, grandes festarolas por cada sítio da Região, cartazes, comícios pagos a peso de ouro, cabazes, provavelmente cheques, enfim, campanhas que colocam, logo à partida, a força de uns contra a incapacidade dos outros. São "armas" completamente diferentes. Como se não chegasse a existência de um Jornal da Madeira, as rádios locais e a subtil "compra" do serviço público de rádio e televisão, como se isso não bastasse, repito, ainda por cima, no momento de campanha, o dinheiro tudo subverte. É por isso que entendo que a Região deve partir, urgentemente, para uma REFORMA DO PARLAMENTO. Tudo isto tem de ser revisto. Quem tem mais Deputados, obviamente, que qualquer critério destinará mais dinheiro para esses grupos, mas o bom senso aconselhará que os domínios do obsceno não sejam invadidos. O exercício da política no plano da Democracia tem regras. O dinheiro não deve servir para pagar o supérfluo, concretamente, sedes partidárias por freguesia e outras, muitas outras situações que alegadamente existem que apenas servem para controlar e dominar o Povo.
Não sei como é possível (se calhar sei!), ainda ontem, a Fundação Social Democrata ter disponibilizado bolsas de estudo a 300 alunos da Universidade da Madeira. Por um lado, eu diria, óptimo, porque vêm atenuar as gravíssimas vidas que muitas famílias levam, consequência do desemprego e da pobreza a que este governo regional conduziu a Região. Por outro, não deixa de constituir um vergonhoso aproveitamento do dinheiro para fazer uma claríssima acção política. De onde vem o dinheirinho da Fundação? Das doações, certamente. De quem, não sei!
Como habitualmente, falou e falou e ninguém questionou. Só toca e canta a solo. |
O que sei é que têm tudo controlado e sabem onde semear a mensagem e colher os votos. É ali, nos jovens universitários, a maioria com capacidade eleitoral, que a troco de uns euros, segundo o presidente, "dará para parte da refeição na cantina", que se encena um comício para falar, não dos problemas da Madeira, gerados na órbita das suas responsabilidades políticas, mas do País, do "inimigo externo", pela "falta de coragem e ousadia para mudar Portugal". O problema está sempre fora, está sempre nos outros e não cá dentro, porque aqui sobressaem, apenas, mentes brilhantes.
E os jovens, infelizmente, vão nesta conversa. Enquanto, por todo o lado, a juventude é sinal de esperança, é ela que se apresenta reivindicativa, que vem para a rua e exige comportamentos adequados e defensores do seu futuro, aqui, deixa-se injectar e anestesiar neste ram-ram que serve a alguns. E se pensassem que há "falta coragem e ousadia para mudar a Madeira?" Pensem nisso, meus caros. Recebam a bolsa mas não se demitam nem vendam a sua consciência cívica.
Ilustração: Google Imagens.
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