O mais grave da situação, são uns comentadores que por aí surgem (ainda esta manhã escutei as patéticas declarações do Dr. Marques Mendes, na TVI), que se esquecem que todo o mundo foi levado nesta crise, uns mais afectados do que outros em função das debilidades estruturais, que estamos no meio do remoínho e que não é por incompetência política interna que os problemas não se resolvem. Comentadores que não têm a lucidez e a desejável independência política para perceberem que o problema é muito mais profundo do que deixam sair boca fora e que, fosse qual fosse o governo apanhado neste tsunami teria, exactamente, a mesma montanha de problemas por resolver.
E aí estão eleições legislativas nacionais. Dir-se-á que é a Democracia a funcionar. No entanto, em tempo indevido, extremamente preocupante, em função da conjuntura nacional e internacional. Deveria, em minha opinião, ter imperado o bom senso, se uma análise profunda e de respeito pelo País não tivesse sido secundarizada em função da apetência pelo poder. Mas, para alguns, sobretudo para os do eixo central, a conquista do "pote" tornou-se irresistível. Nem a costela partidária do Presidente da República escapou. E ontem lá veio com uma conversa de treta, à mistura com alguma desresponsabilização, jogando para o governo demissionário a capacidade de negociação externa de dossiers que um governo de gestão deve evitar. Daí que o governo, de imediato, tivesse, e quanto a mim bem, assumido, através do Ministro Silva Pereira, que isto não é como chegar a um guichet e dizer "passa para cá 75 mil milhões" para resolvermos o nosso problema. Há, como é óbvio, uma negociação que tem de ser feita, contrapartidas a estabelecer e tudo o que isso envolve, obviamente, que necessita de concertação na Assembleia da República para que, nos centros de decisão, a aceitação seja considerada. O governo de gestão, subtilmente, devolveu a "batata quente" ao Presidente da República e ao PSD e, desta feita, encontramo-nos numa aflitiva situação.
Ora, provocar eleições neste momento, a dois anos do final de mandato, neste quadro tão complexo como o que se vive, poderá arrastar o País para uma cada vez maior crise política, económica e social. Se o momento já não era bom, agora, tanto pior. Mas, o mais grave da situação, são uns comentadores que por aí surgem (ainda esta manhã escutei as patéticas declarações do Dr. Marques Mendes na TVI), que se esquecem que todo o mundo foi levado nesta crise, uns mais afectados do que outros em função das debilidades estruturais, que estamos no meio do remoínho e que não é por incompetência política interna que os problemas não se resolvem. Comentadores que não têm a lucidez e a desejável independência política para perceberem que o problema é muito mais profundo do que deixam sair boca fora e que, fosse qual fosse o governo apanhado neste tsunami teria, exactamente, a mesma montanha de problemas por resolver.
É evidente que existem muitos aspectos do governo liderado pelo Engº José Sócrates com os quais estou frontalmente contra. Já aqui o disse que quero um Partido Socialista que não abandone as suas bandeiras de princípios orientadores e que não se deixe enredar na teia liberal. Reconheço, porém, que este não é o momento do julgamento pelo que fez e sobretudo pelo que não fez. O momento era e é de apelo à conjugação de esforços, de negociação entre partidos com assento parlamentar, de negociação com todos os parceiros sociais e de consensos em torno de uma "salvação nacional". Mas, não, o "pote", repito, tornou-se irresistível. Pode é já não haver "pote" para ninguém.
Estou convencido que vamos perder dois meses e tal com estas eleições. O PS tem todas as possibilidades de voltar a ganhar as eleições, embora de forma minoritária. Pela sua experiência governativa e, sobretudo, porque em hora de aflição, o Povo poderá escolher a experiência em detrimento dos que não conhecem os cantos à casa, aqui e em Bruxelas. Pode acontecer, também, que o PSD tenha vantagem, mas insignificante. E aí o caldo continuará entornado. E será, seguramente, pior. Basta ler as linhas programáticas do PSD já divulgadas. No meio disto, um Presidente da República, faz-de-conta. Infelizmente.
Ilustração: Google Imagens.
4 comentários:
Lamento muito mais ter Sócrates como primeiro-ministro. Esse tratou de eliminar o "pote" e pior que isso, colocou-nos a viver do "pote" dos vizinhos. Os que vierem a seguir vão ter que reconstruir tudo o que foi escaqueirado pelo PS.
Perdemos tudo o que nos foi dado a ganhar nos últimos anos, mais uma fatia substancial. Voltamos aos níveis a que Cavaco nos deixou em 95. Com um problema: temos que pagar a dívida assumida.
Lamento que muitos (demais) tenham caído nos "socialismos" prometidos dando azo a que se criasse a situação actual.
Como é óbvio, eu respeito a sua posição. Mas a resposta ao seu comentário está, exactamente, no texto que escrevi. E tenha presente uma coisa, a direita política europeia e nacional é muito mais grave do que pensa, sobretudo porque tem séculos de paciência e sabe, melhor do que quaisquer outros, ir ao "pote" dos outros.
Caro amigo
Respeito a sua opinião, mas não vejo as coisas pelo mesmo prisma. Quanto a mim, Cavaco fez a vontade a Sócrates, derrubando o seu governo. Ficou assim o líder socialista com o caminho aberto para fugir às suas responsabilodades e diabolizar as oposições que, por não terem querido engolir os sapos vivos que lhes colocou na mesa, cavaram a sepultura da Nação. É que, ao que parece e ao contrário dos anteriores, este PEC iria mesmo ter o poder mágico de baixar os juros...
Mas o que acabei de dizer não alivia as grandes responsabilidades do PR, homem pouco frontal, hesitante no primeiro mandato, demasiado preocupado com o seu poder e que prefere a insinuação a chamar os bois pelos nomes.
Resumindo, poder-se-á dizer que "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão"
Obrigado pelo seu comentário.
Também é uma leitura possível.
Todavia, estou convicto que o que falou mais alto foi a "costela partidária". Aliás, ainda ontem na sua intervenção, a espaços, deixou transparecer, não a independência, mas de que lado estava.
Um abraço.
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