"(...) Foi isto que fez Nestor Kirchner, Presidente da Argentina, em 2003. Recusou-se a aceitar as condições de austeridade impostas pelo FMI, dispôs-se a pagar aos credores apenas um terço da dívida nominal, obteve um financiamento de três biliões de dólares da Venezuela e lançou o País num processo de crescimento anual de 8% até 2008. Foi considerado um pária pelo FMI e seus agentes. Quando morreu, em 2010, o mesmo FMI, com inaudita hipocrisia, elogiou-o pela coragem com que assumira os interesses do País e relançara a economia".
Li um importante artigo do Dr. Boaventura de Sousa Santos, publicado na revista VISÃO de 07 de Abril. O artigo começa, assim: "É hoje consensual que o capitalismo necessita de adversários credíveis que actuem como corretivos da sua tendência para a irracionalidade e para a autodestruição, a qual lhe advém da pulsão para funcionar ou destruir tudo o que pode interpor-se no seu inexorável caminho para a acumulação infinita de riqueza (...)". E mais adiante: "(...) Nos últimos 30 nos, o FMI, o Banco Mundial, as agências de rating e a desregulação dos mercados financeiros têm sido as manifestações mais agressivas da pulsão irracional do capitalismo. Têm surgido adversários credíveis a nível nacional (muitos países da América latina) e, sempre que isso ocorre, o capitalismo recua, retoma alguma racionalidade e reorienta a sua pulsão irracional para outros espaços". E, depois, lá vem a pergunta fundamental: "poderá surgir, em Portugal, algum adversário credível capaz de impedir que o país seja levado à bancarrota pela irracionalidae das agências de rating (...)?".
Achei muito curioso este enquadramento, sobretudo quando lá para o meio do artigo o Sociólogo traz à colação a questão da Argentina."(...) Foi isto que fez Nestor Kirchner, Presidente da Argentina, em 2003. Recusou-se a aceitar as condições de austeridade impostas pelo FMI, dispôs-se a pagar aos credores apenas um terço da dívida nominal, obteve um financiamento de três biliões de dólares da Venezuela e lançou o País num processo de crescimento anual de 8% até 2008. Foi considerado um pária pelo FMI e seus agentes. Quando morreu, em 2010, o mesmo FMI, com inaudita hipocrisia, elogiou-o pela coragem com que assumira os interesses do País e relançara a economia".
Em Portugal "um país integrado na UE e com líderes treinados na ortodoxia neoliberal, não é crível que o adversário credível possa surgir pela via institucional. O correctivo terá de ser europeu e Portugal perdeu a esperança de esperar por ele, no momento em que o PSD, de maneira irresponsável, pôs os interesses partidários acima dos interesses do País".
Resta a via extra-institucioal, que "consiste na rebelião dos cidadãos inconformados com o sequestro da Democracia por parte dos mercados financeiros (...)". Acredito que o caminho seria e será este. Tarde ou cedo.
Ilustração: Google Imagens.
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